QUANDO O LOUVA-A-DEUS
COME CIGARRAS.
(prosa poética quase-quântica)
As galinhas gostam de bosta.
E as formigas comem carniça.
Os urubus idem.
Os timbus também.
E os escorpiões.
E o dragão-de-comodo.
O carcará gosta de carne fresca.
Os gatos bebem sangue
(e lambuzam-se).
Os xamãs siberianos
bebem o próprio mijo
após comer cogumelos.
O Louva-a-Deus devora cigarras:
(corta em pequenos pedaços,
com suas grandes garras,
e depois come os pedacinhos
devagar, saboreando-os com calma).
Mas eu não gosto de bosta,
nem de carniça.
Nem de mijo.
E o sangue …
só se for num sarapatel;
ou numa cabidela.
Corvos sobrevoam lixos
e podridões.
Águias capturam carneiros.
Leoas caçam; e leões devoram
esta caça.
Hienas empanturram-se de tripas.
Varejeiras gostam de pus.
E eu, como já disse,
não gosto de pus, nem de carniça.
Entretanto…
eu sei que, aqui na Terra,
nesta seara de bipolaridades
entrelaçadas…
cada um come o que quiser,
ou o que gosta.
(é cada um na sua:
então...
coma o seu lá, numa boa,
que eu como o meu cá).
E PRIU.
“O que eu como a prato pleno,
bem pode ser o seu veneno.”
(Raauuuuuuuuulll…)
“… e o corvo disse: nunca mais.”
(Poe)
Terás tuas reivindicações atendidas.
Mas antes...
precisas expor corajosamente
as tuas verdades pessoais,
e tua honestidade existencial.
Tuas vísceras espirituais.
Teus tutanos
subjetivos e sociais.
Tuas medulas perceptivas,
econômicas e ambientais.
Terás, sim, teu quinhão
de prêmios e gratificações.
E medalhas.
Mas antes...
verdadeiramente...
objetifique vossas nuances
egóticas, corporativas, genéticas, cármicas.
Publicamente. Abertamente. Honestamente.
Ou, por acaso,
estarias novamente planejando
desvios sub-reptícios
e embromações fatídicas??
(deturpações e sabotagens
capciosas, sorrateiras,
venenosamente sutis; indetectáveis.)
Por acaso, ainda,
serias mais um
sabotador invisível ou inimputável??
E estarias, mais uma vez,
maquinando venenos miméticos
e solapagens clandestinas??
Vomite.
Pois o vômito fará
um grande bem
ao estômago e ao cérebro.
Vomite.
Publicamente. Honestamente.
Exponha suas vísceras
nas calçadas, e praças.
Abertamente. Com sinceridade.
Desmistifique-se.
Tenha essa ombridade.
Desisto de você,
irreversivelmente,
como quem desiste
de um abismo insolúvel,
ou de uma areia movediça
invencível.
Seus estratagemas
são demais pra mim.
Suas prováveis virtudes,
suspeitas, randômicas,
são xaropes miríficos caóticos.
Garapas nervosas.
Suas supostas qualidades
não passam de meras
probabilidades mínimas.
E seus bastidores egotistas
são mesmo prováveis
e... passíveis de...
abordagens matemáticas.
Pois é.
Sai de mim.
Porque eu, popularmente falando,
não quero mais saber
dessas entranhas fúteis.
Suspeitas. Imprevisíveis.
Mortais.
Sai de mim. Já disse.
E não preciso repetir.
Portanto:
escafeda-se, suma,
E dissolva-se no éter,
ou no vácuo quântico.
Fui.
Tchau.
Báááii...
Dane-se.
Fôda-se.
Eu não existo.
Reconheço.
Sou um zé-mané.
Uma fricção delirante.
Um otário-de-galocha.
Um “neo-franciscano” babaca.
Um frouxo que
todo mundo pisa.
E vampiriza.
Uma “geni” do século 21.
Um bode expiatório
de todo mundo.
Um dervixe patético
e voador incurável.
Um carma de pai-joão.
E eu já nem sei o que fazer
com esse falso diálogo
de vocês, garotos e garotas.
Eu estou em outra galáxia.
Eu vivo em outra dimensão.
Em nuvens de algodão doce.
Estou em Andrômeda.
Ou Capela.
E não na Terra.
Da próxima vez
que escutarem o sininho
dos párias e dálits,
fujam rápido,
ou finjam que
não me conhecem.
Tá ok??
Combinado??
Eu tinha, pra todos vocês,
muitos alfenins, e bôlos,
e sorvetes.
Guisados, ensopados e pães.
Frutas. Verduras.
Mas vocês não têm merecimento.
Vocês são umas
bostinhas-de-louro.
Fingidos.
Hipócritas de Basã.
Louros de najas, raposas e
aves-de-rapina.
E hoje eu prefiro a solidão
do meu retiro.
As agonias do meu eremitério.
E não vou
continuar insistindo
em tentar salvar
as vossas almas fingidas.
E as vossas falsidades
ancestrais e atuais.
Tá ok??
tem
sido a serotonina
minha
droga principal
mas
às vezes eu também
bebo
muita dopamina
pra
esquentar o miôlo
e
azarar as minina
na
Internet das Coisas
minhas
ondas cerebrais
fazem
fuxicos danados
no
esgoto das capitais
causando
formigamento
eticeta
e coisa e tais
Não
estou vendendo quimeras:
portanto
não sou daqui.
Mesmo
vindo de outras eras,
não
aguento mais esse ti-ti-ti
de
obsessões e cóleras,
ou
essa vontade de fugir.
não
aguento mais tanta nóia
nem
o cerco dos noiados:
vou
mimbora para Tróia,
e
Deus cuide dos malvados.
Não
quero mais paranóia
nessa
vida de danados.
um
bem aplicado boquete
é
arte bem complicada:
uma
técnica competente
nos
detalhes antenada
no
meio da chapa quente
estimulando
a papada.
esse
sangue que vos dou
não
é suco de groselha
é
sangue de trabalhador
das
barricadas de Marselha
bem
temperado na dor
de
mil histórias bem velhas
a
cantoria repentista começou
nas
vilas da antiga Provença
onde
um rapsodo entortou
e
um padre pediu a bença
quando
uns escárnios escutou
numa
cantiga de descrença
conflito
de gerações
não
é brincadeira esquizoide
nem
pseudo-paraíso
de
qualquer um debiloide
nem
mesmo delírio virótico
de
côrno intelectualóide
nunca
fui de sabotagem
pois
a minha luta é ética
não
cultivo fuleragem
nem
também nuvem patética
pois
a minha antiga viagem
é
de honestidade noética
o
contador de sílabas está de volta
com
a sua máquina de calcular
remoendo
antigas cotas
com
a cara de quenga no ar
e
ruminando outras patotas
com
medo de se cagar
o
meu canto cinzento e pesado
não
é qualquer um xeleléu:
é
fogo rente e riscado
no
meio do beleléu
trepidando
seu bordado
muito
bem longe do céu
eu
não sou sindicalista,
pois
sou mesmo escritor:
me
tire da sua lista,
meu
caro doutor professor:
tou
longe da sua pista,
mas
perto du istoupô
1.
ELA, A POESIA
Primeiro me apareceu como
uma enorme estátua tradicional
desabando sobre o meu corpo,
uma republiqueta neo-aristotélica
sem poetas tortos,
uma acadêmica avalanche
de deificados
para ser inquestionavelmente
adorada.
Fugi apavorado
e não tive o menor tempo
para sugar alguns bocados
da sua competência
lingüístico-formal.
Depois me apareceu como
romantismo babaca,
ditadura do superficial
em nome do povo,
disfarce vulgar
de fingimentos e pornografias.
Fugi desesperado mais uma vez,
e nem tive o menor tempo
para assimilar um pouco
das intensas revelações
do seu cerne diluído
na concretude cotidiana.
Agora vislumbro que ela
pode ser diferente,
embora permaneça incapaz
de neutralizar todo o seu joio.
Então ela vem
e atiça os humores transcendentes
das minhas precavidas
buscas abissais
e da minha esquisita
antropofagia por conta própria.
E emerge tudo aquilo
que foi represado
por todos os milênios
do môfo politiqueiro de sempre.
Mas derrepente
as suas tendências individualóides
me apunhalam pelas costas,
e nada me resta senão
relaxar e gozar
o estupro de sua cínica multidão
de pequenos vampiros
egóticos.
E emerge alteregos
indesejáveis
para manipular
minha personalidade.
Prolonga minha adolescência
pra muito além do aceitável.
Me enlança em tentáculos
dos seus labirintos
sem fio de Ariadne.
Tritura inescrupulosamente
meus últimos vestígios de lucidez.
Por que todo esse jogo duro
pra cima de mim?
Sou apenas um escrevinhador
contingente,
poetinha bissexto
e tragicômico,
perdido entre as garras
da sociedade tecnocrata,
agora ainda mais perversa
e global.
Penso em deixar de ser poeta,
em abandonar a Dona Poésis
pra que possa viver
a vida normal de todos os homens,
falsamente
sem desconfianças nem conflitos,
biritando, sambando,
batendo peladas,
indo à missa aos domingos,
acompanhando novelas,
fuxicando
na pracinha
em frente à igreja.
Mas logo estou desejando
a dama doida
outra vez.
E vejo-a em tudo:
nas nuvens,
nas ruas,
nos confins do universo,
à flor da pele,
no caos atômico,
na porcaria
que os esgotos derramam
no Capibaribe.
Agora observo-a pesquisando
os limites da consciência,
mas nem sempre sei
onde ela é
conhecimento sério
ou apenas isca
para pescar almas.
Como posso presumir
seus desejos?
Onde devo mesmo procurá-la?
E então...
imprevisivelmente
ela me dá
uma chance
e me deixa apalpar
a sua natureza
fugidia.
Mas eu vinha dedicando-lhe
noventa por cento
do meu tempo livre.
O que mais ela queria de mim?
Que eu sublimasse
toda minha libido
e ofertasse em holocausto
no mais alto píncaro
da mais inacessível montanha?
Constantemente me flagro
conversando abobrinhas
com a minha sombra.
Desenhando poemas
mentalmente absorto
em meio ao rush.
Anotando idéias repentinas
na cadernetinha.
Grifando termos exóticos
no Aurélio sessentão.
Imerso em divagações
enteomaníacas
e vingativas.
(Acho mesmo que estou
ficando doido
por causa dela.
Ando mais tinhoso
que o Villon.
Perdi o contato com a
espontaneidade
devido aos excessos
introspectivos.)
Mas apesar de todos os riscos
vou abrir as pernas
pra sua explosão artística.
Então ela vem
e me traz as migalhas
de sua autopercepção
aguda,
como um molusco enroscado
sobre si mesmo,
uroboro
com descargas intuitivas
brotando da
eroticidade transmutada.
Vênus purificada
com os órgãos sexuais
arreganhados para o Cosmos,
aventureiro superior
que atravessou e venceu
o Estige.
E aí ela vem mesmo
e me fecunda
com a fartura
de suas raízes sensitivas.
Fúrias ontológicas jorrando
como gêiser mirabolante.
Imagens mentais surgindo
como inebriantes
fogos de artifício.
Subjetivas inóspitas
regiões ímpares.
Garotos sensíveis fabricando
os seus próprios biscoitos finos.
Novas sugestões místicas
como substitutas para
as religiões degeneradas.
Antídotos para a selvageria
mercadológica e ditatorial.
Remédios para o tédio.
Refinadas sensibilidades
redefinindo sentimentos.
Compartimentos ruindo
como castelos de areia
em ventanias.
Opostos em desabaladas
sínteses
autotranscendentes.
E eu, entorpecido,
cavalgado, dirigido,
iluminadamente
insano,
sorvo os abismos
e miasmas
melífluos
que brotam
do seu útero
pré-cósmico,
inabarcável,
insondável,
randômico,
inexplicavelmente
fractal.
*************************************
2.
MISTERIUM
TREMENDUM
criatividade
não tem
idade
***************************
3.
VIRADA
FATÍDICA
As medusas
venceram.
Perseu
se fudeu.
**************
4.
DÚVIDA CRUEL
entre o ódio classista
e o afeto familiar,
não sei o que fazer:
desistir
pirar
morrer
*****************
5.
VÃ GOGA
e eu assim
tão inflado
tão
egônico
epigônico
agônico...
e o meio assim
tão rizômico
tão
randômico
atômico
prodrômico
babilônico
*************
6.
QUEDA DE BRAÇO
definitivamente:
tudo é desencontro,
medições de força,
egotismo tonto
*******************
7.
LETRA DE MÚSICA
Quando os sonhos ruírem,
baby,
passe por mim:
eu sou sem sonhos.
Me atravesse.
Quando as ilusões morrerem,
baby,
passe por mim:
eu não tenho ilusões.
Quandos os castelos de areia
desmoronarem,
baby,
passe por mim:
eu nunca fui príncipe
nem sonhei com princesas.
Me atravesse.
Quando o cansaço
finalmente chegar,
descanse um pouco
em mim,
nestes loucos braços,
e vá em frente:
supere-se.
Não há portos aqui.
Nem paradas eternas.
Sou ponte.
Passagem.
********************
8.
CONVERGÊNCIAS
Eu não sou diferente.
Ninguém é diferente.
Todos temos dores
e necessidades
em comum,
como também temos
dores e necessidades
particulares.
( Nós, poetas,
não somos marcianos ).
***************************
9.
DESENCONTRO
era tão conotativo
mas tão conotativo
era tão hermético
mas tão hermético
era tão indireto
mas tão indireto
que ele disse
luz
e eu pensei
que ele havia dito
nada
************************
10.
SIMPLES
Pássaros são pássaros
e répteis são répteis.
Pássaros não são melhores
que répteis.
Répteis não são melhores
que pássaros.
Apenas os pássaros são
pássaros
e os répteis são répteis.
___________________________________________________________________
DESPEDIDA
(prosas poéticas na
despedida)
(Zé
do Sonho)
Aqui me
despeço
de todos
vocês.
E me
desfaço
em
energias sutis,
microondas
e
antipartículas.
Quando
quiserem encontrar-me
novamente,
poderão
me ver facilmente
nas
cognições
de
outras sinapses,
ressurgidas
em mares revoltos
da
bioquímica neuronial.
No pasto
dos oásis,
no brejo
das montanhas,
nas
chuvas de verão
brotando
da medula óssea
da Via
Láctea.
Novas
ânsias justiceiras ressurgindo
em
corações andróginos e bipolares.
Então
refaço o perdão profundo
dos
semi-deuses angustiados,
a
todas as criaturas sencientes
e
a todas as energias hadrônicas.
Mas
ainda carrego mágoas
de
criança ferida.
Porém
minhas dores, e sacrifícios,
vou
incinerá-los no altar
de todas
as ressurgências
e de
todas as vidas plenas.
O que em
mim é patologia momentânea,
ou
desequilíbrio contextual,
ficará
por conta do lado B
do
Universo.
Das
inevitáveis bipolaridades
e
multiplicidades
em
tudo.
...
Quero
que tenhas sempre
a barriga
cheia.
Quero te
ver brilhando.
Ressurgindo
brilhante
em meio
aos fogos-de-artifício
das
chamas vitais
de todas
as galáxias.
Quero-te
criativo.
Mas
centrado, e lúcido.
Sem
ilusões derrapantes,
nem
abismos invisíveis.
Nem
vales sombrios sugantes.
Sem fomes
periódicas.
Nem
subnutrição infantil.
Cheio de
netos e bisnetos
“índigos”.
...
Se eu
começar a chorar agora,
sei que
vão dizer que estou
seriamente
perturbado, incapaz.
E algum
sofismo behaviorista
vai
querer me internar.
E
destruir, com 440 volts no cerebelo,
no
tutano das têmporas,
a minha
percepção ampliada
(a muito
custo).
Vão
dizer, certamente,
que eu
estou ouvindo vozes
e vendo
sombras fantasmais.
Tenham
dó.
Me
poupem dessa injúria corrosiva.
Basta-me apenas um pouco
de
misericórdia.
E compreensão.
E
coexistência admitida,
mesmo
tensa.
...
Entretanto,
contudo, todavia,
não
tenho forças pessoais
pra
impedir outros rastros sanguíneos
do novo
cangaço
e do
velho capitalismo neo-liberal
renomeado
e recauchutado
pra
engabelar e corromper
sub-áreas
da mestiçagem
latino-americana.
Reverberando
feixes de microondas fatais.
Lêiseres
de outros quasares.
Bits
infinitesimais esquartejados
entre
bósons purgatoriais.
O horror
esquizóide fragmentado.
O caos
criativo das lombras avatáricas,
dialeticamente
ouriçadas,
entre
vultos escuros,
mas
invisíveis,
indetectáveis.
...
Mas
o lado B,
de
todos os fenômenos terráqueos,
também
é luz,
segundo
os monges essênios.
Tudo
se transforrmando em tudo.
Fótons,
sub-partículas, bits, ondas,
calor.
Incrivelmente.
Destrambelhadamente.
E
sendo assim...
eu
necessito urgentemente
transferir
algumas responsabilidades pontuais
para
a Terra, e a Via Láctea.
Eu
sei apenas que estou aqui,
entre
vocês todos ,
sem
nunca entender o porquê,
e
prenhe de ânsias cognitivas
inúteis,
traumatizantes,
(
em vão ),
e
estupefato diante de ti,
meu
irmão de agruras,
e
viagens tortas.
...
No
entanto celebro mais este encontro.
Beberemos
a sangria de todas as galáxias
e
buracos negros.
O
néctar das mênades transmutadas.
O
louvor das ninfas do rio Beberibe.
Louvemos
as multifaces infinitas de tudo.
A
vida pletórica saudável,
surgindo
do nada universal.
Os
contrários alternando-se e misturando-se
eternamente:
declarados
imortais por todos
os
úteros do Cosmos.
E
nós aqui,
inevitavelmente
cúmplices.
Sem
maiores álibis.
Mas
em tudo vejo “deus”.
No
veneno das najas.
Nas
redes de escorpiões machos.
Na
vagina de todas as deusas
esteatopígicas,
reproduzindo
genes de guerreiros cimérios,
e
angicos.
Na
poliglotia da rainha Nzinga,
e
do rei Tibiriçá.
Nas
hordas douradas
de
tártaro-mongóis
subjugando
varegues,
e
bizantinos.
A
natureza ressurgindo plena,
em
probabilidades de interconexões.
Eu
ressurgido diante de ti.
Eu
transmutado.
Eu
duplo.
Eu
múltiplo.
Eu
observando
e
participando.
Fora
e dentro.
E
vice-versa.
Observador
e observado.
Eu
desdobrado.
Eu
bi.
Eu
largo.
Eu
amplo
Eu
tudo.
Todos
os chumbos
e
todas as lâminas
trespassando
o
Sexto Chacra,
a
papoula do Quarto Patriarca.
A
jurema do xamã
capixaba.
Os
fungos dos tauramaras.
A
oasca dos sacerdotes incas,
nos
ultramisteriosos caminhos
das
ruas sinuosas do Paebirú.
A
tuberculose
de
Tereze Lisieux
e
Castro Alves.
Os
surtos esquisitos
de
Munch e Lutero.
Os
feixes intuitivos
da
tigela de arroz
do
monge Demian Resse.
A
herança genética
de
Pinzon e Atahualpa.
Os
acordes da harpa de Davi...
que
acalmavam Saul...
e
tranquilizavam os nervos
de
Gezabel e Jeú.
...
Agora
novamente estou retornando
para
os inarredáveis pântanos
movediços
do
Vale das Caveiras.
Horrivelmente
purgativo.
Purgando
rancores cristalizados.
Trágico
e patético.
(incluindo
a autoflagelação
dos
templários bizantinos
e
teutônicos.)
Todo
esse fogo purificador
está
diante de ti.
Com
todos os detalhes lúgubres.
Tou
jogando aberto e honesto,
e
tu és testemunha...
de
que eu aceito ser mais um
bode
expiatório mestiço
sangrando
catarses.
Dando
a vida
a
quem está sob sérias suspeitas
terrenas,
seculares, galácticas.
Desço
hoje a mesma ladeira
pavorosa
e traiçoeira
de
ontem,
aos
tombos.
Cíclicas
perambulações nebulosas
retornam
ao mesmo segredo
inabarcável
de
anteontem.
De
antes do Big Bang.
Pletórico
e polissêmico.
Indigesto
em alguns pontos mais íntimos,
impenetráveis
para o ego humano.
E
eu estou pedindo apenas um pouco
de
compreensão e coexistência,
outra
vez.
Nada
mais que isso.
Basta-me,
por enquanto.
...
e sobre as últimas sangas desnorteantes
dentre
estrangulamentos mórficos...
que
sabotaram os últimos resquícios
de
equilíbrios milagrosos,
das
últimas luzes frágeis
no
fim do túnel quântico embaçado,
...
tenho a dizer-te o mesmo de sempre:
ninguém
conseguiu destrinchá-los.
Estas
reentrâncias miríficas evaporadas.
E
não seria eu quem iria sobrepujá-los:
não
tenho potencial suficiente pra isso.
Não
recebi essa dádiva específica.
Então
não é a mim que vocês devem cobrar.
Apontem
suas flechas incendiárias
para
determinados avatares fundamentalistas
ou
totalitários.
Não
sou avatar. Nem iluminado.
Sou
poetinha perturbado.
Ainda
estou enredado nos laços
da
neurose e dos excessos de angústia.
Por
essas e outras, meus caros,
apontem
suas lanças cósmicas
pra
outro cordeiro literário
atarantado.
Antes
do Fim.
Pois
este que aqui vos fala,
está
mais inseguro e transtornado
do
que o sangue das sabinas
ao
serem raptadas pelos latinos.
Está
mais agoniado e horrorizado
do
que os cofres de Roma e do Vaticano
diante
das hordas asiáticas e
proto-germânicas.
Sejamos
mais lúcidos:
vamos
dividir honestamente
as
culpas
antes
do Fim.
E...
embora
compreender não seja
desarmar-se
totalmente,
eu
aqui me despeço
com
o coração dilatado,
e
garanto
que
vos compreendo.
Antes
de partir
para
Andrômeda
ou
Nibiru.
Ou
voltar para o nada
através
do Big Crunch.
E
quando quiserem rever-me
novamente,
poderão
encontrar-me facilmente
nas
chuvas finas noturnas
que
caem nas pequenas serras tortas
do
Planalto da Borborema,
ou
nos escuros mangues litorâneos
da
noite Recifense.
E
depois perdoai
as
minhas chuvas de mágoas
classistas
e comportamentais.
Pois
deixo-te o meu “soft”
cromossômico
e neuronial.
Minha
carne psíquica atarantada.
Meu
vinho epistêmico angustiado.
Comei e bebei todos
vós.
Este é o meu sangue
e os meus ossos.
“Tudo é
experiência. E nada é rancor.”
______________________________
O
autor
Zé
do Sonho é um dos pseudônimos de José
Luís Miranda, também conhecido como “Poeta Lara” ou apenas “LARA”, ou Zé de
Lara.
Nasceu em 01/12/60, em Bom
Conselho (PE), no agreste meridional.
Participou, informalmente, do
Movimento de Escritores Independentes em Pernambuco.
É autodidata. Foi também
recitador, e participou de recitais poéticos no Recife e em outras cidades do
Nordeste do Brasil.
(dezembro
– 2017)
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