Problemas intestinos da velha esquerda e da nova
resistência.
Repetindo mais uma vez: é
urgentíssimo que o campo da “esquerda democrática”, e da “contracultura” em
geral, tenha a coragem de “olhar-de-frente” e discutir abertamente, com o
coração tranquilo, alguns detalhes intestinos que estão infernizando e
atrapalhando o crescimento deste referido campo amplo (incluindo toda a
esquerda e a “cultura alternativa” em geral).
Começando pelas divisões internas.
Egóticas. Ensandecidamente corporativistas. O Cão chupando manga-rosa na
caatinga. A gerência semicaótica das Bestas. Dificultando e atrapalhando muito
a costura de uma frente ampla circunstancial que dê conta de um programa mínimo
“à centro-esquerda”, capaz de juntar alguns subsetores “ideológicos” e
culturais do campo esquerdista (em sentindo amplo) numa colcha-de-retalhos contextual
que apontasse para um estado-de-bem-estar tupiniquim a médio prazo.
Porém os egotismos e
corporativismos (de todos os tipos) acabam sempre falando mais alto, e impedem
as conjunções de fatores e costuras contextuais, com a sua eterna dicotomia
ocidental de plantão.
“Antes de começar a guerra civil, tragam primeiro o meu pirão.”
Um deles, neo-ludista empedernido,
eterno Peter Pan das calças frouxas, profissional das limitações edipianas, quer
destruir todos os computadores e incendiar todas as escolas públicas. O outro,
cheio de pendores ditatoriais na “persona”, quer instalar um totalitarismo
“vermelho” com tripas nas calçadas e manchas de sangue nos sanatórios, como se
não bastassem os choques elétricos que estão virando moda outra vez,
principalmente nos cunhões e naquele canto escuro e fedorento (incluindo os
supositórios de cocaína).
E tem também aqueles que almejam
implantar uma “republiqueta de bananas no cu”; um simulacro centrista para engabelar nefelibatas e pacifistas
(as florezinhas miríficas do novo Simbolismo pequeno-burguês.)
Enfim: um balaio de gatos “imediatistas”,
famintos, mordendo todo mundo e transmitindo “arboviroses” mortais. Apegados ao
grupelho que cada um escolheu, fechado em si mesmo, como quem escolhe uma nova
bula do Rei da Cocada Preta, e passa a se achar o máximo em termos de novidades
“ideológicas” ou culturais, (outros supositórios que não serão mencionados aqui).
E então tudo parece terminar numa
“autoficção” generalizada, uma comedoria de símbolos fálicos ou submissos, contraditoriamente; um ensopado de gorduras cerebrais dos
inimigos inteligentes e verdadeiramente bravos, e tripas guisadas com maxixe
apimentado. Cada “corporação” ou grupelho ou partideco insistindo eternamente
que os primeiros pratos de pirão sejam sempre os seus, antes de começar a
Guerra nas Estrelas, e antes também dos escudos anti-mísseis começarem a emitir
raios de energias “sutis”, de todo tamanho e de todo tipo. Com drones
invisíveis e indetectáveis soltando bombinhas de nêutrons imperceptivelmente. E
o metano borbulhando novamente em todos os lagos da Sibéria e no Ártico.
Eu, hein??
Não me venham com essa
fuleragezinha das novas egolombras da nova elite “iluminada” da inteligência
artificial do pensamento único ou do anarquismo suicida ou do centrismo à
direita; de todas as diarréias
egóticas imediatistas, de todos os tipos. Sou democrático COM QUEM É
DEMOCRÁTICO; e talião com quem é talião.
Não vou ficar no cabresto de nenhum grupelho autofágico. Tou propondo uma
frente ampla da centro-esquerda e da esquerda democrática. E não uma
ditadurazinha de um grupelho “autodivinizado”: marxista ortodoxo ou anarquista
kamikase ou fundamentalista judaico-cristão. Ou qualquer centrismo à direita
quase neo-liberal, e fascistóide por debaixo dos panos.
De nada vai adiantar ficarem
repetindo no meu ouvido que ainda não é hora de falar de nomes, porque eu vou
dar nome aos meus bois agora:
PRESIDENTE: Lindbergh Farias (PT)
VICE PRESIDENTE: Luciana Genro (PSOL)
GOVERNADOR: Marília Arraes (PT)
SENADORES: Wolney Queirós (PDT) e
Carlos Siqueira (PSB)
DEPUTADO FEDERAL: Ivan Morais
(PSOL)
DEPUTADO ESTADUAL: Cida Pedrosa
(PCdoB).
Meu jogo é aberto. Sempre foi
aberto. Não fico dedilhando segredinhos “inseguros” nos bastidores e cavernas. E
tem mais: um homem sem inimigos está em estado vegetativo. A vida é assim
mesmo. Faz parte da totalidade cósmica. Afinal, como dizem os filósofos
quânticos, são doze universos entrelaçados. E eu não estou a fim de perder
tempo. Já botei a carroça na frente dos bois.
Mas, contudo, todavia,
entretanto...
ainda há alguns “pontos-de-estrangulamento"
sutis que precisam ser observados
com mais acuidade. Por exemplo:
1) O povo também tem defeitos. Não
é apenas a burguesia que tem defeitos.
2) A relação entre tática e
estratégia continua emitindo grandes curtos-circuitos.
3) A antiga
rixa entre assalariados e autônomos permanece ainda muito quente neste início
de século 21.
4) Todos os
“sub-grupos” têm os seus pendores para exercer poderes “duros”, incluindo os
“libertários”, como em tudo que é humano.
5) Tem muito
fogo-amigo que ultrapassa determinados limites, e se aproxima sorrateiramente
da injúria e da difamação. Sem falar na inveja ancestral e crônica. Muito
venenosa.
Pra finalizar: tou seriamente
desconfiado que a oposição à Temer não vai conseguir barrá-lo, nem implantar
eleições diretas agora.
Então até 2018 vai ser necessário
muita resistência, e todos os tipos de luta: voto, abaixo-assinado, greve, ato
público, passeata, desobediência civil, panfletagem, pressão, etc, etc. Mas sem
depredação de patrimônio público, nem precipitações suicidas. Tudo
progressivamente bem planejado com antecipação, para o médio prazo.
Paulatinamente, por etapas.
Tenho dito. E repetido.
Zé de Lara – 02 de agosto de 2017.
MACONHA
Boa parte da visão deturpada que hoje temos sobre a cannabis foi “maquinada” nos Estados Unidos durante a primeira metade do Século Vinte, e teve seu auge nos “gloriosos” tempos do macarthismo. A partir daí, essa visão deturpada cristalizou-se na cabeça do povo americano e de outros “satélites” ocidentais, através de bombardeios midiáticos e fervorosas pregações de puritanos e normóticos em geral (capitaneados pelos interesses econômicos da indústria de tecidos e papel, que precisava eliminar a concorrência do cânhamo; incluindo também alguns negócios do campo farmacêutico e da psiquiatria ligada ao status quo). Por outro lado, alguns herdeiros da cultura alternativa passaram a endossar o “endeusamento” da ganja, que passou a ser “divinizada” em certos grupos contraculturais. Obviamente, as duas posturas, a que endeusa e a que demoniza, são claramente maniqueístas, unilaterais; e não vêem o que há de negativo e positivo nessa planta. Um lado vê apenas o “negativo”, e o outro vê apenas o “positivo” (mas existe uma enorme relatividade entre os dois). A visão mais lúcida, portanto, seria capaz de ver os dois lados do problema. Na verdade, os vários lados da questão das drogas (em geral). Pois esta é uma questão que somente será “atenuada” se for atacada em todos os seus lados: social, psicológico, cultural, econômico, existencial, ético, “cármico”, político, etc, etc. Mas as dicotomias continuam: quem enfatiza um lado, não enfatiza outro, e assim por diante.
Quando a situação ultrapassa determinados limites, nada resta senão intervir, é verdade. Mas o problema não se resume a isso. A injustiça social continua, a impunidade continua, a corrupção e a cooptação continuam. E as outras mazelas também continuam (passado o momento de crise, tudo volta ao “normal”). Quando não é o traficante, é a milícia; quando não é a milícia, é o lado podre dos militares, políticos, empresários, etc. Mas todos aqueles que não rezam na Cartilha do Poder e da Normose Estabelecidos vêem-se na situação incômoda e perigosa de serem colocados na vala comum dos que são perseguidos e maltratados, pelo simples motivo de que não se encaixam nos ditames ideológicos ou culturais do interesse político-econômico “de plantão”. Há quanto tempo a sociedade civil sonha com um militar que não seja apenas um pilar-de-sustentação do Estabelecido? Um bom profissional, ético, com um nível cultural razoável, que saiba distinguir quem é e quem não é realmente perigoso.
Nessa questão do tráfico, tão difícil, multipolar, ultracomplexa, tenho defendido o que chamo de “estratégia da contradição”, que resumidamente é o seguinte: legalizar todas as drogas, mas não incentivar o consumo, e investir nas práticas esportivas e culturais verdadeiramente abertas, massivamente. Ou seja: fazer um bom trabalho preventivo (aberto e honesto). Mas é necessário que esse trabalho venha acompanhado de mudanças sócio-econômicas, político-estruturais, transmutação de valores, etc, e não tenha apenas o objetivo de adaptar o usuário aos pressupostos da normalidade coletiva e dos poderes cristalizados (sabemos o quanto isso é difícil no nosso Brazil fudido). No caso do potencial usuário, é inevitável: ele vai usar (e tem o “direito” individual de usar). Não tem pra onde correr: ele vai usar, irmãozinho, ele vai usar. Nada vai impedí-lo de usar. Neste caso específico, nada resta senão ajudá-lo a permanecer nos limites da redução de danos (fornecer “ferramentas” psicológicas para que a permanência nos limites seja possível). Mas não estou dizendo que essa “estratégia da contradição” pode dar certo em todos os casos (o que justificaria recuos “táticos” em alguns contextos). Conheci usuários cuja psique e organismo suportavam o uso de quantidades “razoáveis” e freqüentes; e conheci outros que, em pouco tempo, estavam “pirados” ou com sérios problemas orgânicos (estou me referindo às tão decantadas diferenças pessoais, orgânicas ou neuroniais). Alguém pode ser capaz de usar eventualmente, em diferentes quantidades, mas um outro pode ficar “viciadão” em pouco tempo, fumando dez “beques” por dia, de domingo a domingo, sem conseguir voltar para um uso moderado e eventual. E o que é pior: sem admitir que está numa situação periclitante (alguns chegam ao ponto de pregar o excesso e o desregramento como uma bandeira existencial).
Portugal está usando a “descriminação” há dez anos (não é legalização, é apenas a liberação do porte para todas as drogas: o usuário flagrado é enviado para tratamento, e não para a cadeia; mas os “baculejos” continuam). E o uso de drogas não aumentou por lá. Mas também não diminuiu. Permaneceu estável. Com a legalização, além dos ganhos estatais na cobrança de impostos, outro fator positivo que pode acontecer, com a legalização, é: no caso das drogas naturais (que não precisam ser “sintetizadas”), se o usuário conseguir cultivá-las, o tráfico desse tipo de droga acaba. Um pé de maconha, se bem cuidado, produz um “saco” (bem cheio) em quatro meses: nenhum viciado fuma uma quantidade dessas em quatro meses, principalmente se for um “veneno”, uma “manga rosa”. O que faz com que o preço das drogas seja alto é, justamente, a proibição (a dificuldade para conseguí-la). E aí os diferentes comensais do tráfico (a parte corrompida dos militares, políticos, juízes, empresários, lideranças, etc) vão lutar com unhas e dentes contra a legalização, inclusive o traficante, que usufrui de um percentual dos altos lucros desse comércio ilegal. No caso específico da marijuana, se for legalizada, o tráfico acaba rapidamente, pois cada usuário vai plantar o seu “pezinho” no quintal. Os locais de uso podem ser negociados sem maiores transtornos? (Obviamente, não estou defendendo o uso em qualquer lugar, como acontecia com o tabaco industrializado; uma droga, por sinal, mais perigosa do que a maconha).
Bom, como eu disse, a “ganja” não é totalmente benéfica, nem totalmente maléfica. Tem suas qualidades e seus problemas também. Entre as qualidades, podemos citar: atenuação de dores (sedativo), estimulador de apetite, facilitador da criatividade artística, produção de fibras, introvisão, redutor de náuseas, etc. Alguns problemas poderiam ser: vício, surtos, reumosidade no sangue (um problema de quase todos os alucinógenos), fragilidade pulmonar, queda na capacidade de memorização, risco de câncer, etc. Mas cada organismo tem as suas características específicas; e o que é “suportável” pra um, pode não ser pra outro. Além da enorme dificuldade que a mente ocidental tem para gerenciar as diversas possibilidades no “caminho do meio”: administrar diferentes dosagens de diferentes maneiras em diferentes contextos. O pendor mais forte é cair em algum extremo: ou puritano ou degenerado (velha dificuldade: oscilar entre extremos, sem conseguir trabalhar outras opções em “camadas intermediárias”).
E aí cada um que faça os seus gerenciamentos e as suas dosagens. E seja lúcido e honesto quando abordar o assunto, pois as dissimulações e deturpações são muitas: tanto em nome do extremo “normótico”, quanto em nome do extremo “decadente”.
Tenho dito. É isso mesmo. Podes crer.
Zé de LARA - maio - 2011
HORIZONTALIDADES E CARTÕES DE PONTO
Boa parte da visão deturpada que hoje temos sobre a cannabis foi “maquinada” nos Estados Unidos durante a primeira metade do Século Vinte, e teve seu auge nos “gloriosos” tempos do macarthismo. A partir daí, essa visão deturpada cristalizou-se na cabeça do povo americano e de outros “satélites” ocidentais, através de bombardeios midiáticos e fervorosas pregações de puritanos e normóticos em geral (capitaneados pelos interesses econômicos da indústria de tecidos e papel, que precisava eliminar a concorrência do cânhamo; incluindo também alguns negócios do campo farmacêutico e da psiquiatria ligada ao status quo). Por outro lado, alguns herdeiros da cultura alternativa passaram a endossar o “endeusamento” da ganja, que passou a ser “divinizada” em certos grupos contraculturais. Obviamente, as duas posturas, a que endeusa e a que demoniza, são claramente maniqueístas, unilaterais; e não vêem o que há de negativo e positivo nessa planta. Um lado vê apenas o “negativo”, e o outro vê apenas o “positivo” (mas existe uma enorme relatividade entre os dois). A visão mais lúcida, portanto, seria capaz de ver os dois lados do problema. Na verdade, os vários lados da questão das drogas (em geral). Pois esta é uma questão que somente será “atenuada” se for atacada em todos os seus lados: social, psicológico, cultural, econômico, existencial, ético, “cármico”, político, etc, etc. Mas as dicotomias continuam: quem enfatiza um lado, não enfatiza outro, e assim por diante.
Quando a situação ultrapassa determinados limites, nada resta senão intervir, é verdade. Mas o problema não se resume a isso. A injustiça social continua, a impunidade continua, a corrupção e a cooptação continuam. E as outras mazelas também continuam (passado o momento de crise, tudo volta ao “normal”). Quando não é o traficante, é a milícia; quando não é a milícia, é o lado podre dos militares, políticos, empresários, etc. Mas todos aqueles que não rezam na Cartilha do Poder e da Normose Estabelecidos vêem-se na situação incômoda e perigosa de serem colocados na vala comum dos que são perseguidos e maltratados, pelo simples motivo de que não se encaixam nos ditames ideológicos ou culturais do interesse político-econômico “de plantão”. Há quanto tempo a sociedade civil sonha com um militar que não seja apenas um pilar-de-sustentação do Estabelecido? Um bom profissional, ético, com um nível cultural razoável, que saiba distinguir quem é e quem não é realmente perigoso.
Nessa questão do tráfico, tão difícil, multipolar, ultracomplexa, tenho defendido o que chamo de “estratégia da contradição”, que resumidamente é o seguinte: legalizar todas as drogas, mas não incentivar o consumo, e investir nas práticas esportivas e culturais verdadeiramente abertas, massivamente. Ou seja: fazer um bom trabalho preventivo (aberto e honesto). Mas é necessário que esse trabalho venha acompanhado de mudanças sócio-econômicas, político-estruturais, transmutação de valores, etc, e não tenha apenas o objetivo de adaptar o usuário aos pressupostos da normalidade coletiva e dos poderes cristalizados (sabemos o quanto isso é difícil no nosso Brazil fudido). No caso do potencial usuário, é inevitável: ele vai usar (e tem o “direito” individual de usar). Não tem pra onde correr: ele vai usar, irmãozinho, ele vai usar. Nada vai impedí-lo de usar. Neste caso específico, nada resta senão ajudá-lo a permanecer nos limites da redução de danos (fornecer “ferramentas” psicológicas para que a permanência nos limites seja possível). Mas não estou dizendo que essa “estratégia da contradição” pode dar certo em todos os casos (o que justificaria recuos “táticos” em alguns contextos). Conheci usuários cuja psique e organismo suportavam o uso de quantidades “razoáveis” e freqüentes; e conheci outros que, em pouco tempo, estavam “pirados” ou com sérios problemas orgânicos (estou me referindo às tão decantadas diferenças pessoais, orgânicas ou neuroniais). Alguém pode ser capaz de usar eventualmente, em diferentes quantidades, mas um outro pode ficar “viciadão” em pouco tempo, fumando dez “beques” por dia, de domingo a domingo, sem conseguir voltar para um uso moderado e eventual. E o que é pior: sem admitir que está numa situação periclitante (alguns chegam ao ponto de pregar o excesso e o desregramento como uma bandeira existencial).
Portugal está usando a “descriminação” há dez anos (não é legalização, é apenas a liberação do porte para todas as drogas: o usuário flagrado é enviado para tratamento, e não para a cadeia; mas os “baculejos” continuam). E o uso de drogas não aumentou por lá. Mas também não diminuiu. Permaneceu estável. Com a legalização, além dos ganhos estatais na cobrança de impostos, outro fator positivo que pode acontecer, com a legalização, é: no caso das drogas naturais (que não precisam ser “sintetizadas”), se o usuário conseguir cultivá-las, o tráfico desse tipo de droga acaba. Um pé de maconha, se bem cuidado, produz um “saco” (bem cheio) em quatro meses: nenhum viciado fuma uma quantidade dessas em quatro meses, principalmente se for um “veneno”, uma “manga rosa”. O que faz com que o preço das drogas seja alto é, justamente, a proibição (a dificuldade para conseguí-la). E aí os diferentes comensais do tráfico (a parte corrompida dos militares, políticos, juízes, empresários, lideranças, etc) vão lutar com unhas e dentes contra a legalização, inclusive o traficante, que usufrui de um percentual dos altos lucros desse comércio ilegal. No caso específico da marijuana, se for legalizada, o tráfico acaba rapidamente, pois cada usuário vai plantar o seu “pezinho” no quintal. Os locais de uso podem ser negociados sem maiores transtornos? (Obviamente, não estou defendendo o uso em qualquer lugar, como acontecia com o tabaco industrializado; uma droga, por sinal, mais perigosa do que a maconha).
Bom, como eu disse, a “ganja” não é totalmente benéfica, nem totalmente maléfica. Tem suas qualidades e seus problemas também. Entre as qualidades, podemos citar: atenuação de dores (sedativo), estimulador de apetite, facilitador da criatividade artística, produção de fibras, introvisão, redutor de náuseas, etc. Alguns problemas poderiam ser: vício, surtos, reumosidade no sangue (um problema de quase todos os alucinógenos), fragilidade pulmonar, queda na capacidade de memorização, risco de câncer, etc. Mas cada organismo tem as suas características específicas; e o que é “suportável” pra um, pode não ser pra outro. Além da enorme dificuldade que a mente ocidental tem para gerenciar as diversas possibilidades no “caminho do meio”: administrar diferentes dosagens de diferentes maneiras em diferentes contextos. O pendor mais forte é cair em algum extremo: ou puritano ou degenerado (velha dificuldade: oscilar entre extremos, sem conseguir trabalhar outras opções em “camadas intermediárias”).
E aí cada um que faça os seus gerenciamentos e as suas dosagens. E seja lúcido e honesto quando abordar o assunto, pois as dissimulações e deturpações são muitas: tanto em nome do extremo “normótico”, quanto em nome do extremo “decadente”.
Tenho dito. É isso mesmo. Podes crer.
Zé de LARA - maio - 2011
HORIZONTALIDADES E CARTÕES DE PONTO
Mais uma polêmica sanguinária na minha vida: o ponto
eletrônico e a paridade no Conselho Universitário da UFPE.
Sou a favor do ponto eletrônico, desde que seja com
turnos contínuos de seis horas. E sou contra a paridade, porque a minha
proposta é a fórmula percentual “40-30-30” (ou “45-30-25”), e não a
horizontalidade total dentro do Conselho. Na verdade, apenas reconheço a
inevitabilidade do ponto eletrônico e da ausência de paridade no conselho
Universitário da UFPE, neste momento atual, mesmo com o “cartão de ponto” sendo
instalado apenas para os técnicos, e não para os professores também (o que é
uma injustiça, uma discriminação entre “trabalhadores manuais” e “trabalhadores
intelectuais”). Mas a nossa vida é toda atravessada pela luta de classes, e não
há pra onde fugir. Porém existem alguns aspectos problemáticos que a vanguarda radicalóide
não quer olhar, porque está, como sempre, intoxicada de bulas ideológicas
engessadas e pequenos dogmas de ortodoxias do século 19, sejam marxistas ou
anarquistas.
A UFPE é uma empresa cujo produto é o conhecimento.
Sendo assim, tem especificidades que as outras empresas não têm. Reconheço. Mas
se eu tenho divergências imensuravelmente profundas e irreconciliáveis com essa
empresa, então eu deveria procurar outra empresa ou virar “hippie”, ao invés de
insistir em continuar nessa sofreguidão de secretário de curso no Departamento de
Ciência da Informação: um empreguinho humilhante que eu venho mantendo apenas pra
não passar fome enquanto cuido da minha literatura “maldita”; pra ter o básico, e fugir da miséria
neo-liberal, enquanto cuido da MINHA pauta “filosófica” e literária. E olhe que
eu nunca coloco o meu autodidatismo nessa discussão, mesmo sabendo que ele vale
mais do que certos doutorados com sérias limitações epistemológicas. Se eu
estou aqui, então eu tenho que fazer o figurino daqui. Ou saio, pra ser honesto
comigo mesmo e com a instituição.
Mas vamos aos aspectos problemáticos e terríveis que
a velha esquerda não quer olhar.
Depois da estabilidade, legalizada pelo regime
jurídico específico dos servidores federais, a Lei 8112, alguns funcionários
administrativos aproveitaram pra “relaxar”. Ou seja: viraram enrolões. Passaram
a não realizar os serviços básicos para o qual fizeram concursos, cientes da
dificuldade jurídica que uma acusação de insuficiência-de-desempenho pode trazer
para as Chefias de Departamentos. Estou falando da sensação de impunidade,
obviamente. Enquanto a velha esquerda dogmática continua acreditando que esses tipos
“malandrecos” são operários oprimidos e não pequenos vampiros dos cofres
públicos e dos seus colegas de setor, porque o trabalho que eles se recusam a
fazer é transferido pra outro colega de Departamento, que passa para a condição
de “vampirizado” (uma espécie de exploração às avessas). E esse colega fica
então sobrecarregado, enquanto o outro, além de chegar atrasado e sair antes da
hora, fica a maior parte do seu expediente ouvindo música e batendo papo na
Intenet. Porém reconheço que esses tipos escrotinhos não são maioria. São uma
minoria que se aproveita de facilidades jurídicas de um determinado contexto
específico. E aqui é preciso deixar bem claro que não sou contra a estabilidade
no serviço público, pois sei que ela é fundamental para evitar influências
ideológicas diretas no fluxo administrativo, seja qual for o tipo de imposição “ideológica”.
Quanto à paridade, reconheço a justeza de que
aqueles que estudam mais, e trabalham mais, tenham direito a um quinhão de
poder decisório acima da média. Acho justo. Mas sem querer transformar todo
mundo em pé-de-boi ou “workaholic” estressado. Até porque a especificidade de
uma empresa como a UFPE evidencia que em muitos setores não há necessidade de
um regime de trabalho semelhante a um novo fordismo ou “linha de produção”.
Porém reconheço, também, que a reivindicação de cada funcionário fazer o seu
próprio horário é um exagero que não coaduna com a realidade administrativa
cotidiana, que necessita da presença de pelo menos um técnico em cada setor, em
todos os horários, com raras exceções. E ainda há o seguinte: a LDB (Lei de
Diretrizes e Bases da educação) define a quantidade mínima de 70 (setenta) por
cento de professores nos Conselhos Universitários, o que pra mim é um “esquema de
senhor-de-engenho”, ou dos velhos coronéis, mas é LEI. Então a fórmula
percentual de “40-30-30” parece-me mais “lúcida” como reivindicação circunstancial,
enquanto continuamos lutando pra modificar a relação de forças atual, o que
incluirá também uma luta específica pra modificar a LDB.
Eis o imbróglio que precisamos ter a coragem de
olhar com olhos bem abertos, vendo os dois lados da questão, tanto os aspectos
positivos quanto os aspectos negativos, pra que não fiquemos eternamente vendo
apenas um lado, como um míope que se recusa a reconhecer que é míope.
Pois é.
Zé de LARA – 4 de junho de 2016
UM RELATO ATUALIZADO SOBRE AS MINHAS DOENÇAS.
Faço aqui nesta crônica um relato sincero e honesto sobre a minha situação de saúde no ano de 2018. Principalmente por conta das enormes dificuldades burocráticas e jurídicas que envolveram a minha aposentadoria por invalidez orgânica e alienação mental.
Eis aqui então a relação das minhas doenças e um rápido comentário sobre cada uma:
Esquizoidia (Transtorno de Personalidade Esquizóide –TPE - congênito):
não é “esquizofrenia”; e portanto não justificaria um pedido de aposentadoria por invalidez; embora haja brechas jurídicas no Decreto 8.123 (da aposentadoria especial), de 16/10/13, que aborda a questão específica de quando acontece um “reforço” dos sintomas, ocasionado por diferentes motivos no local de trabalho (incluindo principalmente o “stress”.)
Uso o remédio “Olcadil” para atenuar os sintomas; principalmente os excessos de angústia, e os “devaneios”. (Atenção: “devaneio” não é “delírio”.)
Rinite alérgica crônica (congênita):
poderia justificar um pedido de aposentadoria por invalidez (especial), devido às conseqüências do ar-condicionado, já que este reforça o problema da rinite. Há brechas jurídicas no Decreto 8.123, de 16/10/13, que aborda a questão específica de quando acontece um “reforço” dos sintomas, ocasionado por diferentes motivos no local de trabalho. (A sinusite é derivada da rinite congênita. Portanto a sinusite pode ser considerada uma doença adquirida, no meu caso pessoal.)
Uso o remédio “Histamin”, e inalantes naturais (composto de plantas, principalmente Cabacinha e Hortelã): para atenuações durante as crises.
Narcolepsia (congênita):
Uso o remédio “Stavigile“ para atenuar os sintomas da sonolência excessiva. Mas comigo não acontecem “apagãos”. O que acontece é apenas uma grande sonolência (muito grande). E eu acredito que a narcolepsia também justificaria um pedido de aposentadoria especial; principalmente pelo reforço de efeitos colaterais do Stavigile no esôfago e estômago, principalmente. (Às vezes uso também Guaraná do Amazonas e energéticos para atenuar a sonolência excessiva.)
Psoríase (congênita):
os sintomas diretos (manchas vermelhas) são facilmente gerenciáveis através do uso da pomada “Psorex” e do chá de “raiz de urtiga”. Embora o “stress” também influa indiretamente, através da “pressão” sobre o sistema imunológico.
Labirintite (congênita):
facilmente gerenciável através do uso do remédio “Stugeron”, ou da planta “Ginko Biloba”.
Deficiência crônica no sistema imunológico e focos de infecção interna (adquiridas):
duas conseqüências da “esquistossomose”. A primeira por conta do ataque ao Baço. E a segunda devido às “varizes” e “fístulas” internas, çrovocadas pelas larvas da Schistosoma mansoni. Fiz três tratamentos específicos para o sistema imunológico, mas ele não reagiu, e permaneceu com a deficiência crônica (estou com apenas 4. 200 leucócitos): talvez haja também alguma influência de mecanismos autoimunes nesse imbróglio todo (no sentido geral).
Uso chá de Aroeira com Barbatimão. E também “Geléia Real” e “Própolis”.
Como vocês podem ver, trata-se de um quadro bastante complicado, e que justificaria uma aposentadoria por invalidez orgânica, mormente devido à rinite alérgica, à deficiência crônica no sistema imunológico, ao grande “stress” no balcão da Secretaria onde eu trabahei, e à narcolepsia (incluindo as influências do remédio Stavigile na gastrite).
As outras doenças são menos perigosas, mas também poderiam, no quadro geral, influir nos motivos para um pedido de aposentadoria, que acabou sendo feito pela Junta Médica da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), e confirmado por uma portaria do Gabinete da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), publicada no Diário Oficial da União (DOU) no 189, de 01/10/18, na seção 2 (página 37).
Eis o imbróglio.
Roguemos. Oremos.
Zé de Lara - 13/10/18.
O BOCA SUJA, O POETA MALDITO E O BOCA DO INFERNO.
A
realidade brasileira é mais suja e infernal do que a literatura maldita. Lautreamont
é uma criança inocente diante da nossa realidade cotidiana ultrajante e luciférica.
As pornografias do maldito Gregório são uma piada inofensiva diante da superconcentração
de renda e do falso moralismo hipócrita da cruel realidade tupiniquim, ou das diferentes
injustiças perpetradas por setores do “vitorianismo” bíblico. Porém... eu jamais
usaria esse luciferismo disfarçado, esse simulacro enjoativo, como desculpa pra
sair dizendo putarias e pornofonias na cara de qualquer um, em qualquer lugar e
em qualquer momento. Na literatura sim, eu uso termos chulos, mas no trato
pessoal não (com raríssimas exceções “na hora da raiva”). Na arte sim, mas no
convívio pessoal não (com raríssimas exceções “na hora da raiva”). Mesmo assim,
mesmo usando o coloquial chulo em algumas passagens, eu reconheço a necessidade
de avisar ao leitor que determinada literatura é imprópria para menores de 16
anos (ou 18, se for o caso). Nenhum leitor deveria sentir-se na obrigação de
ler o que ele não está a fim de ler, seja “marginal” ou “canônica” a referida
literatura. A decisão é dele. Nas Artes Visuais, em geral, reconheço que seria
mais lúcido demarcar “territórios” e horários específicos. Salas específicas e
horários específicos. (o risco de traumatizar uma criança, ou de “má”
influência em pré-adolescentes, ao invés de estimular a visão crítica, é um risco
que reconhecidamente existe, é uma possiblidade que não deve ser descartada “a
priori” quando planejamos um determinado conteúdo para uma bora de arte).
No
entanto... assistir ou não assistir é decisão exclusiva do público adulto e
responsável, do “telespectador” lúcido e consciente. É decisão pessoal que não
deve sofrer interferência de nenhum poder estabelecido em cada contexto.
Pornografia é uma discussão difícil,
truncada; principalmente porque ela tem um lado de coisificação da fêmea, é
verdade. Mas tem o lado da liberdade individual também, do livre arbítrio. Não
devemos censurá-la, a pornografia, uma vez que é em nome da liberdade
individual que algumas pessoas a exercem. O que faço é apenas desvelamentos da
realidade concreta, interna e externa. Onde exponho vísceras da “condição”
humana como ela realmente é; (é preciso
muita coragem pra expor essas “vísceras”, pois a solidão ou a perseguição,
frequentemente, são usadas pelos “normóticos” como punição existencial contra
os transgressores ou rebeldes: as mulheres são as primeiras que se afastam, e
com razão.)
Tem outro detalhe interessante nessa
história: dizem, as más línguas, que a maioria dos pornógrafos não são
pornófonos. E eu sempre desconfiei disso. Faz sentido. Já que tudo que for
descarregado no “papel”, ou no computador, ou no palco, não precisará ser
descarregado no dia-a-dia. A luta contra a moral burguesa oitocentista
(vitoriana, puritana, “védica”, abraâmica, etc) deixou muita gente desnorteada,
transtornada, atormentada, desmiolada (desde a Belle Epoque). Mas alguns conseguiram
constatar que o grande lance não era alternar, simplesmente, do
puritanismo “ocidental” para a depravação irresponsável. E alguns “piraram”,
reconheçamos. Ou caíram em alguma variante de maniqueísmo dicotômico irresponsável
ou autodestrutivo, através da recusa total de tudo que exalasse o menor cheiro
de academicismo ou normalidade repressora.
Nem
todo coloquial é chulo. Há um coloquial sardônico que não é, propriamente, um fescenino
agressivo ou abertamente “depravado”. Mas a herança canônica e acadêmica sempre
cultivou uma grande ojeriza em relação a qualquer tipo de coloquialismo, como parte
de algumas limitações no estilo, no formato e no conteúdo, mais típicas do
mundo acadêmico e canônico, incluindo também alguns limites ideológicos e “existenciais”,
como forma de preservar uma suposta “pureza” e superioridade linguísticas ou
evitar a ultrapassagem de determinadas fronteiras político-econômicas.
Na “pós-modernidade”,
tornou-se bastante frequente o uso de uma escatologia despolitizada, sem teor
crítico ideológico, ou insuficiente, que não deixa de ser uma variante de “arte
pela arte”, às avessas, pois é assemelhada a uma postura de anti-arte que
prioriza “a merda pela merda”. Não esqueçam que a anti-estética é também uma estética.
Há
outros autores que narram grandes depravações em estilo exclusivamente clássico,
absolutamente “higiênico”, sem usar um único termo chulo em setecentas páginas.
(o Nabokov, por exemplo, no romance “Lolita”). Esse tipo de escritor parece-me
estranhamente contraditório, ou no mínimo inautêntico, ou suspeito. Até porque
esses tipos costumam julgar a maior parte da literatura não-canônica como um
literatura de quinta categoria ou absolutamente desprezível, pra não dizer
descartável. Falar de sexo e merda, ou do lixo em sentido geral, ou de aspectos
escatológicos repulsivos, sem usar um único termo chulo, é realmente o auge do
puritanismo “celestial”, ou de algum escapismo pra alguma torre de marfim da Linguística
ultraintelectual, longínqua, inacessível para todos os que estão “à margem” da
elite genial, bem longe das cruezas reais e literais do nosso cotidiano
arrombado e fudido.
É demais
pra mim. E eu tou cansado de repetir.
FUI.
zé de LARA - 20 de abril de 2016QUANDO A IDENTIDADE ÉTNICA VIRA ESTEREÓTIPO CRISTALIZADO.
Eis uma tarefa difícil e
perigosa: sinergia entre identidade étnica, liberdade individual e distribuição
de renda. Parece simples, à primeira vista. Mas são muitos, e grandes, os
“curto-circuitos” de alta periculosidade que aparecem quando você tenta
misturar esses três campos ideológicos e culturais. Quando você tenta costurar
“retalhos” que seriam, a priori, supostamente incompatíveis. (vão emergir raios
e trovões imensuráveis).
A trajetória a humana está
repleta de casos que exemplificam os riscos desses “curto-circuitos” culturais
e ideológicos. No tempo do Dostoievski, a guerrinha ocorria entre niilistas,
anarquistas, marxistas, eslavófilos, ocidentalistas, cristãos ortodoxos, etc.
Quando os marxistas “bolcheviques” tornaram-se hegemônicos, passaram a
perseguir ou eliminar todos aqueles que pensavam diferente da bula leninista.
Aqui em Pernambuco, a guerrinha existencial começa entre Gonzagão e os hippies,
ou melhor: entre o patriarcado sertanejo quase-medieval e a cultura
“alternativa-contracultural”, emergente a partir dos primórdios da década de
60. (atualmente o referido patriarcado vampiresco tem emergido, na maioria dos
casos, como fundamentalismo bíblico “recauchutado”, ou em alguma variante de
“normose” coletiva, castradora e egótica).
Foram muitos os conflitos
pesados. Alguns, inclusive, tornaram-se tabus, e a consciência coletiva
nordestina sempre preferiu evitá-los: aquela velha história de jogar pra
debaixo do tapete ou empurrar com a barriga, “clandestinamente”. E assim
tivemos guerrinhas horríveis entre armoriais e tropicalistas, por exemplo. Sem
falar no bate-boca entre Fred 04 e Ariano Suassuna, na década de 90, ou a
extinção do grupo Ave Sangria, na década de 70, por motivos mais “existenciais”
que ideológicos, como já é do conhecimento da maioria dos pernambucanos. Outro
aspecto interessante dessa questão, no geral, é que ela, em alguns contextos,
parece ter sido superada. Mas sempre volta em outros formatos. Vai e vem, em
diferentes variantes ao longo do tempo.
É claro que nenhum nordestino,
em sã consciência, vai propor a dissolução de sua identidade étnica, em nome de
um “estrangeirismo” qualquer, por mais “avançadinho” que seja. Mas existem
simbioses que podem resgatar essa identidade, combinando-a com outras heranças
artísticas, como foi o caso do Manguebeat, que resgatou a sonoridade dos
maracatus e afoxés, misturando-a com a herança psicodélica. Por falar nisso, eu
lembro que, em meados dos anos 80, o maracatu corria um sério risco de
“extinção” ou de estado vegetativo, e aconteceu então que a alquimia musical
dos mangueboys conseguiu resgatar a herança da sonoridade afro-descendente,
dentro de uma síntese melódica que não dissolveu a identidade étnica pernambucana. Mas, pelo contrário, a resgatou de um
“limbo” onde, em alguns aspectos específicos, ela corria um sério risco de
esquecimento ou extrema secundarização.
Hoje temos uma sincera
esperança de que, pelo menos, as guerras existenciais e artísticas sejam
atenuadas, e jamais cheguem no nível físico, mantendo a discussão no campo
especificamente cultural, dentro de um clima minimamente democrático e
verdadeiramente aberto para debater as diferenças, e acomodá-las até onde
possível seja. Evitando também o risco de cair numa “xenofobia reversa”, que às
vezes torna-se disposta a censurar ou perseguir tudo o que não se encaixa nos
pressupostos “ideológicos” de uma identidade cultural que se transforma num
clichê engessado e estreito.
POIS É. ENTÃO TÁ.
Zé
de LARA – 13/04/16.
PORQUE PAREI DE RECITAR
A
realidade triste e cruel, nua e crua, é que ninguém está a fim de escutar
certos tipos de poesia. A minha, por exemplo, costuma mais afastar do que
aglutinar. Dá medo nas pessoas. Reconheço que a minha poesia é um “teatro da crueldade”,
uma chatice. Uma prosa sardônica irritante. Mais intragável do que a realidade
crua do nosso cotidiano arrombado e fudido. As pessoas comuns têm medo da minha
recitação: eis a verdade crudelíssima. Desconfio que, na minha literatura, sou
mais monstruoso do que realmente sou.
E o
que é pior: ninguém compra ingresso nem livro. Mesmo a preços módicos. Mas eu
continuo escrevendo: cumprindo minha obrigação “cármica”. A declamação foi
apenas “um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar”. Sou
prioritariamente escritor autodidata, e não declamador. É convicção. Digo isso
serenamente, apenas constatando minha realidade pessoal, pois não estou,
obviamente, diminuindo o valor da poesia decorada e declamada. Ela tem a sua
importância no jogo cultural como um todo.
E
também cansei das mesquinharias individualistas e egóticas da mundanidade
literária, com as suas horríveis disputas por fama e glória individual, sem
falar nas diferentes relações de poder que atravessam e dominam o mundo da
cultura em geral, com os seus concursos e prêmios previsíveis. Tudo filtrado
ideologicamente pelos interesses imediatos do “poder estabelecido” ou do
individualismo cooptado pelos palcos, principalmente os pressupostos canônicos
e acadêmicos de plantão, ou um regionalismo estereotipado e acrítico, ou até mesmo
a porra-louquice egótica, quando é o caso. Cansei mesmo. E haja medianeiros que
se julgam gênios com o direito de atropelar quem ousar questionar sua “genialidade”
inquestionável. E haja disputas sanguinárias por microfone e palco, e espaços
midiáticos. E por corpos bonitos também. Pra mim chega. Desisti dessa disputa
feroz. Pendurei as chuteiras. Considerem-me fora desse campo de batalha
sanguinário. Cansei de dar murro em ponta de faca. Parei de sonhar.
Nem
sempre o mais famoso é o melhor. E o mísero cachê dos poetas sem fama,
frequentemente, desaparece nos labirintos da burocracia estatal ou dos
interesses empresariais. Ou é desviado por algum deputado que prioriza o
trabalho “cultural” nas suas “bases”. Desisti do sonho de ganhar algum dinheiro
como recitador, por pouco que seja. Embora continue considerando a poesia e a
prosa literária um negócio muito sério. Escrever é um trabalho pesado.
Também
às vezes me sentia patético, ao invés de maldito, em alguns momentos de
recitais ensandecidos. Uma maldição risível, soltando vitupérios que quase
ninguém levava a sério. Patetices de um “peter-pan” quixotesco, tentando
acordar os homens comuns com baldes de “água” quente. Uma crítica ferina
infrutífera. Uma encheção de saco para o homem comum. Até que chegou o momento
em que percebi que aquele fervor declamante não passava de um quixotismo
qualquer. Um sonhozinho delirante, e derrapante. Um desvio, se comparado com a
missão maior: a escrevinhadura.
Enfim:
tenho a sensação de que os meus tempos de recitador foi um ciclo que se
encerrou. Teve sua época. E passou. Mas continuarei escrevendo. Priorizando a escrevinhadura
no meu tempo livre. Mesmo sem a menor perspectiva de ganhar algum dinheiro com a
minha literatura “maldita”. Pois, como já disse, considero-me escritor
autodidata, e não recitador. E vou cumprir a minha missão literária e
“filosófica” enquanto estiver vivo. Mesmo sem leitores nem apoiadores. Na
solidão do claustro. Mas vou deixar uma herança indigesta aos pósteros, ou melhor:
vou continuar cumprindo a minha missão maior: literatura e “filosofia”. Minha
obrigação “cármica”. Vou sim.
Me
esqueçam como recitador. E lembrem de mim como escritor e pensador autodidata.
FUI.
zé de LARA – 02 de abril de
2016 – 22:00 horas.NOVA RELIGIOSIDADE (2)
Primeiro
é preciso diferenciar espiritualidade e religião institucionalizada, pois as
duas nem sempre coincidem. Depois é preciso, também, reconhecer que há
infinitos tipos de religião ou igreja. Portanto é necessário analisar caso a
caso, especificamente. Generalizar seria uma precipitação perigosa. Seria
precipitado, por exemplo, definir todas as religiões como variantes de neurose
obsessiva, como fez o Freud. Ou como ópio subjetivo, como fez o Marx. Ou
descartá-las em nome de uma suposta Física Social, absolutamente racionalista,
e sem subjetividade, como fez o Augusto Comte.
Vamos
com calma, minha gente. Vamos analisar essa questão espinhosa com cuidado,
detalhadamente, sem generalizações precipitadas; pois o fenômeno religioso é
multifacetado e ultracomplexo. Eu mesmo sou um homem assumidamente cheio de
religiosidade mística, mas o meu misticismo é individual, sincrético e não tem
igreja. Quero dizer: tenho minhas convicções intuitivas pessoais, e não penso
em tentar impor essas convicções pra ninguém. Nunca penso. Não quero ser guru
nem guardador de rebanhos. Nunca quis. (A liberdade individual foi uma
conquista árdua, neste nosso país horrível sem distribuição de renda, e eu, nem de longe, penso em querer impor pra toda a
coletividade a minha opção pessoal. Cada um que faça a sua opção e aprenda a
conviver com as diferenças. Mesmo que seja numa relação tensa, mas sem querer
impedir que os outros também tenham o seu espaço específico.)
Acredito
sinceramente que o sentimento de religiosidade está mais próximo dos mistérios
mais íntimos do Universo, e que o cientificismo “positivista” padece de uma
estreiteza mental que frequentemente o impede de captar determinadas nuances do
mistério cósmico ou do mundo interior mais profundo, já que tem um pendor para
taxar de “superstição” tudo aquilo que não se encaixa nos seus estreitos
pressupostos lógico-quantitativos. Se há riscos específicos na religiosidade
igrejeira, como a emersão de variantes “ditatoriais”, ou a ausência de ânsia de
justiça social, há também o risco de alguma variante de ateísmo cair no
solipsismo egótico e autossuficiente, o que acarretaria uma limitação
perceptiva dentro dos limites de um ego “pan-racional” e fechado em si mesmo.
Enfim: cada área, ou sub-área, tem os seus riscos específicos. De um tipo ou de
outro.
E
há muitos segredos inusitados que a mente “positivista” tem uma enorme
dificuldade para uma aproximação mais aprofundada. Por exemplo: a diversidade
dentro da unidade. Como é possível que um “campo cósmico” seja, AO MESMO TEMPO,
diversificado e uno? (dentro de si mesmo). O que atua como fator de
interligação? Um certo tipo de sub-partícula? Ondas infinitesimais? Energia
escura? Diferentes ondas escalares entrelaçadas com energias sutis? Misterium tremendum. É pra derreter os
neurônios da subjetividade neo-positivista. Do alargamento da percepção
“científica”.
Mas
o “supersticioso” sou eu. O esquizofrênico. Mesmo nestes nossos tempos
quânticos, holísticos, rizomáticos. Onde a força interior e o discernimento
intuitivo, amalgamados, tornaram-se tão urgentes, e tudo o que é sólido está se
desmanchando no ar. Mesmo ficando, a cada dia, mais claro que é indiscutível a
necessidade de aceitar o auxílio luxuoso da intuição “mística” para a superação
de inúmeras dicotomias e maniqueísmos e poderes totalitários que infernizam a
nossa vidinha animalesca desde Zoroastro e Newton. (Na fronteira da metafísica
com a transpessoalidade, um pouco antes, mas sem descambar para o caos total,
ou para a esquizofrenia propriamente dita, evitando ao mesmo tempo a
“superstição” e a fragmentação dicotômica, até onde seja possível um mínimo de
aproximação com os segredos mais íntimos de determinados fenômenos
supercomplicados e suas unificações polimórficas e acachapantes.)
MISERICÓRDIA.
Das profundezas abissais e movediças,
clamo a todos vocês, Senhores e Senhoras.
MISERICÓRDIA.
MISERICÓRDIA.
Zé de LARA – 17/11/2015
CROMOSSOMO,
HORMÔNIO E NEUROTRANSMISSOR
Sabemos, por testemunhos pessoais, que os gays
sabem que são gays mas não sabem porque
são gays. É o que eles mesmos dizem. E há recentes evidências científicas de
que a origem da homossexualidade pode estar vinculada a detalhes na estrutura
do DNA e sua relação com hormônios e neurotransmissores, em determinados locais
da estrutura cerebral. Isto que dizer que um gay já nasce “programado” para ser
gay. Ou seja: a condição homossexual não seria uma opção, mas uma “imposição”
do jogo bioquímico entre cromossomos, hormônios e neurônios. Se é assim, então
a conclusão é óbvia: é a própria natureza que “elabora” e executa, dentro de si
mesma, diferentes orientações sexuais e identidades de gênero. É um mistério
muito grande. E é bom não esquecer que o neurotransmissor é uma molécula.
Tudo isso traz estranhas ilações. Uma delas, talvez
a mais impressionante, é que a responsabilidade pelas orientações sexuais deixa
de ser da opção pessoal, e passa a ser da própria natureza terráquea, e do
universo também, já que a natureza é uma parte do universo, embora a força de
vontade individual também exerça sua influência, dependendo do grau dessa
força. (Pesquisas científicas já constataram casos de homossexualidade em mais
de mil espécies de animais.)
Tornou-se evidente, desde Freud, que a
repressão dos instintos gera neurose ou histeria. Dessa forma, o mais
aconselhável para a criatura humana seria encontrar alguma forma de viver uma
vida sexual plena, e satisfatória, mas administrando pessoalmente seu erotismo
de forma a evitar consequências mais graves na trajetória de cada um, na
vivência dessa sexualidade “polimorfa”, exercida sob a ética da responsabilidade
individual. Então é óbvio que essa satisfação sexual seria administrada pelo
discernimento pessoal, racional e intuitivo, junto com uma força interior capaz
de exercer o que Freud chamava de “autossublimação não-repressiva”, quando essa
autossublimação torna-se necessária em cada caso específico, já que em muitos
casos ela é desnecessária, pelo menos circunstancialmente. (LIBERDADE COM RESPONSABILIDADE
é o mote.)
Mas voltemos à bioquímica
cromossômico-hormonal, e aos setores da arquitetura cerebral envolvidos nessas “predefinições”
da identidade de gênero.
Se a interação entre os genes e áreas do
cérebro que definem a orientação sexual é feita por algum tipo de inteligência
cósmica ou “cognição” hormonal, em conjunto com certas glândulas e sub-áreas
neuroniais, então a responsabilidade humana, nesse jogo bioquímico, refere-se
apenas à capacidade de autogerenciamento, uma vez que a referida orientação já
estaria pré-definida antes do nascimento, e portanto a identidade de gênero é
um fenômeno que acontece à revelia da escolha individual. É isso.
Então, daqui pra frente, o universo está com
a palavra. E os diferentes “deuses” que assumam sua parte nesse imbróglio, e se
digladiem, se assim quiserem.
Eu, hein?
Zé de Lara - 28/09/15
FRENTES PROGRESSISTAS E POPULARES
Tou aguardando com
ansiedade a formação dessa tão badalada Frente Brasil.
Mas... parece que as
divisões intestinas são mais graves do que eu pensava. E fico rezando pra que esse
“balaio-de-gato” não exploda em mil pedaços. Nem se transforme em mais um partido
despedaçado e atribulado por guerrinhas civis constantes, suportando
desesperadamente as tensões dialéticas no centro do seu tutano superquente, somatizando
ou não.
Começa pela dúvida cruel
entre “frente de esquerda” e “frente progressista”. Depois desemboca nas
insuficiências ideológicas e epistêmicas “dantanho”, ou na desatualização, ou
na ausência de planos estratégicos de médio prazo também. Atenção: não estou
falando de ORTODOXIA MARXISTA ou ANARQUISMO INQUESTIONÁVEL. Tou falando de
cuscuz e galinha, meu bem, incluindo o bôlo de trigo e o suco de caju. Se é do centro-pra-direita ou do centro-pra-esquerda, eu ainda não cheguei
lá.
Vamos falar sério. O
arraesismo precisa voltar para o campo da VERDADEIRA centro-esquerda (socialdemocracia
sueca “à esquerda”). E o lulismo também. E o PCdoB também, com o seu novo
etapismo enquistado na ala direita do PSB, de onde os verdadeiros arraesistas
já deveriam ter saído, e abandonado, de uma vez por todas, essa indecisão cruel
que mais parece uma punheta. Convenhamos: se essa frente não pender do centro
pra esquerda, gradualmente, pelo menos a médio prazo, então estaremos diante de
mais um sério motivo pra afundar no pessimismo conformista, ou desenvolver uma
depressão grave, somatizando.
Vamos em frente.
Quando o PSTU recusa-se,
terminantemente, a entrar numa frente progressista, devido ao seu crônico esquerdismo
infantil, sem falar no marxismo ortodoxo “medievalesco”, obviamente está sendo
BURRO, ou melhor: padecendo de uma séria e grave limitação perceptiva, quase crônica,
para o caso específico do Brasil, raciocinando de forma equivocada, especificamente
na circunstância CONTEXTUAL. Porém existe um caso mais grave ainda: o do anarquismo
radicalóide, dono-da-verdade e joão-sabe-tudo, o único que continua
sendo ético neste nosso país generalizadamente fudido e corrompido, e também o
ÚNICO que está verdadeiramente interessado em generalizar a autogestão, a curto
prazo, num país de “carma” coletivo tão egóico e generalizado, como é o caso
específico do povo brasileiro.
NÃO SOU VENDEDOR DE
ILUSÕES. NEM DE QUIMERAS.
E retrocessos nunca
devem ser descartados “a priori”, mesmo quando são apenas circunstanciais, por
mais que a gente se esforce pra aperfeiçoar o nosso umbigo ideológico e evitar
limitações epistemológicas, desatualizadas ou não, de antigamente ou de hoje. E
não venham me acusar de revisionismo.
Ou de ciência política positivista.
Sinceramente. Com a
maior sinceridade do mundo. Principalmente agora, que já grampearam Lulinha e
mataram Cecí.
Todavia,
contraditoriamente, dialeticamente, eu nunca falei em acompanhar as hostes
malufistas ou “eduardistas”, por exemplo. Não estou falando de cabresto com a centro-direita
disfarçada de “centro-esquerda”. Me poupem. Ou vocês continuam pensando que eu
sou mais um neo-etapista resvalando para o centro à direita, disfarçadamente? Sou
um homem sério, garotos. Herdei a indiscutível ética sertaneja dos meus avós “cangaceiros”.
E por falar nisso
tudo, sempre é bom não esquecer que, na guerra civil espanhola, a frente de
resistência democrático-popular, e libertária também, era uma frente “progressista”, mas as divisões internas
estragaram tudo. E então começou aquela fulerage de anarquistas matando
socialdemocratas, e trotskistas matando stalinistas, e ateus matando cristãos
de esquerda, e etapistas matando “espartaquistas”, etc, etc. Até o colapso final
sob os teco-tecos da Luftwaffe e das BOMBAS DE IDÉIAS do Goebels.
Eu, hein?
Qualé a tua, bicho???
Zé de LARA
28 de agosto
de 2015.
MANIPULAÇÃO DO SENTIMENTO DE CULPA DA CLASSE MÉDIA
CULPA: dez toneladas
de spleen gótico e melancolia moura ardendo no tutano da coletividade
brasilenha estupidamente carismática e pentencostal, muito além de qualquer
suspeita.
Comecemos pela queda
de Caim e do carma coletivo da Cidade da Inveja, mais conhecida nos cafundós
pelo pomposo nome de Hell City.
Ora, garotos, a vontade-de-poder
talvez seja o que melhor caracteriza os SÍMIOS HUMANÓIDES em geral. Mais do que
a pulsão de sexo ou de morte (é vampirismo generalizado até altas horas). Sendo
assim, não vou me precipitar e fazer uma condenação TOTAL de Caim e um
endeusamento TOTAL de Abel. Na natureza, os contrários estão sempre se
alternando e se misturando eternamente. Portanto: nada pode ser descartado A PRIORI,
seja do lado positivo ou do lado negativo, ou da mistura. Porém, de repente, um
Abel pode tornar-se semelhante espiritualmente a um Caim. E vice-versa,
dependendo das diferentes influências contextuais e “cósmicas”, e também da relação entre o Ego Individual e a “Sombra”
coletiva, que é uma relação sempre mutável nas suas diferentes dosagens e
percentuais (nem Javé consegue dar um jeito nessa ultraconflituosa relação entre
genes e memes).
E não me venham com
esse papo fuleiro sobre, especificamente, vontade-de-FODER. Esta aqui é uma
crônica muito séria sobre um assunto também muito sério. Seríssimo. Muito
grave. Gravíssimo. Capaz, inclusive, de somatizar tumores das mais diferentes
sub-espécies em cromossomos semi-caotizados, verdadeiros rizomas fractais à
beira do colapso mental. Surtos ferozes e imprevisíveis, pra lá de rizomáticos
ou ultra-esquizo. Pois é: perceber e
aceitar o pólo negativo da teia cósmica não é pra qualquer um. A tarefa é
difícil: integrar a “Sombra” sem permitir
a hegemonia das “sombras”. É pra se arrombar. Eu mesmo não estou com
brincadeiras aqui não. ACREDITEM.
Vamos em frente.
Há muitos artistas
pidões que acreditam piamente que a classe-merda “alternativa”, ou esquerdista,
tem a obrigação de sustentá-los, e investir na sua “obra”, embora tenham
escrito apenas 30 ou 40 poemetos em 35 anos de atividade “literária”. Porém o
mais incrível é que eles conseguem exercer uma lábia eficiente sobre alguns quixotes
boêmios oriundos da pequena burguesia açucareira, enfatizando, sobremaneira, o
velho sentimento de culpa ancestral, endêmico e eterno. Oh, pobre classe-merda intelectualóide
acossada por vampirinhos neo-individualistas, disfarçados de artista transgressor.
Oh, coitadinha.
Mas... vamos admitir: a saída mais inteligente não é tentar
extinguir a “pulsão” de culpa, uma vez que as “repressões” mais aprofundadas
costumam gerar diferentes tipos de neuroses, ou até mesmo alguns casos de histeria.
Sem falar no risco de somatizações. Talvez uma forma de administrar
razoavelmente esses “impulsos”, incrustados nos abismos cromossômicos e
sub-conscientes, seja a velha fórmula freudiana da “autossublimação não-repressiva”,
um mecanismo mental extremamente difícil de ser conseguido e consolidado, mas
não que não chega a ser sobre-humano. Dessa forma, poderíamos “administrar”
interiormente diferentes dosagens do impulso de culpa, de maneira minimamente
nociva, nos diferentes contextos e fases de nossas vidas, já que ele, o
impulso, não deixa de ter alguma função dentro do jogo multifacetado entre os
genes e memes, lá nas funduras do inconsciente coletivo, interligado, de um
jeito ou de outro, aos inconscientes individuais atormentados por fossas
abissais decorrentes das inúmeras estripulias do ego dos símios humanóides.
Se algum dia, meus
geniais leitores, algum de vocês cruzar, inadvertidamente, o caminho de algum
anjo caído disfarçado de arcanjo luminoso, ou de alguma falsa deusa “iluminada”,
lembre-se das sábias palavras que foram colocadas nesta crônica extraordinária,
escrita pelo quase-jornalista “gonzo” Zé de Lara, este pobre e transtornado escriba
que vos fala, aqui nesta tribuna que, muito frequentemente, assemelha-se a uma
turba de espíritos-de-porco incrivelmente fugitivos de incontáveis prisões de
segurança máxima.
“Seja simples como os pombos, mas também esperto como as serpentes”,
já dizia o grande mestre cananeu, bem antes dos novos fariseus que manipularam
e deturparam as nossas sagradas escrituras de antigamente, fazendo
sorrateiramente insidiosas traduções e interpretações desviadas do seu verdadeiro
objetivo inicial. É o Diabo. A Besta-Fera das segundas-feiras de manhã, quando
os despertadores gargalham, bem alto, o seu ensurdecedor berro destrambelhado,
acordando, como assombração de alma penada, os assalariados fudidos e desgraçados
do nosso país lascado e arrombado, às
05:30 horas, em pleno inverno frio
e tenebroso, daqueles que parecem cruvianas geladas que entoam melodias purgatoriais
traumatizantes.
Lembre-se, e grave
bem: há muitos “operários” oprimidos que, na verdade, não passam de malandrecos
e espertinhos fazendo discurso de eternas vítimas para manipular a emoção e o
ego frágil de alguns “desapegados” quixotescos e delirantes, que não conseguem
exercer plenamente as suas funções neutralizantes no mundo interior e subjetivo,
e que são, carmicamente, no frigir dos cocos, um lumpenzinato preguiçoso, enrolão
e golpista. O que esses escrotinhos miríficos mais fazem é vampirizar filhotes da
alta-classe-média inadvertidos e abestalhados da esquerda cheia de culpas. Se ligue, meu irmão. FIQUE COM OS OLHOS
BEM ABERTOS.
Pois é: tem muita gente escrotinha, de outros
diferentes tipos também, e de meras projeções unilaterais e nenhuma autoanálise
sincera, que sabe como transformar em marionetes qualquer intelectualzinho
desavisado e sonhador, inoculando culpas que serão futuramente utilizadas como poder
de barganha em momentos-chave de nossas vidinhas já encalacradas e fudidas,
boiando na merda fóssil de crises cíclicas e eternas do capitalismo predador
resiliente, que foi incrivelmente subestimado pelo senhor Karl Marx, o devorador
de empreguetes tabacudas e alienadas, parente espiritual do profeta Abraão,
outro devorador contumaz de empregadinhas sonhadoras e amunquecadas.
Guarde o sapatinho de
cristal para a próxima “reive” desmiolada, cara pálida. Pois, por enquanto, o
que tem caído sobre os quengos de nossa brasilidade são os encargos purgatoriais
de culpas engessadas e profundas, indissolúveis, borbulhando nos nossos genes e
memes como monstrengos antiquíssimos e inexplicáveis que ficam eternamente à
espreita do menor deslize de nossa parte, pra sugar até a última gôta de nossas
hemácias, se a gente vacilar no delírio “profético” ou no sonho de boca aberta.
E ainda tem um monte de burguesinhos neo-fascistas ou neo-liberais pra bombardear
o juízo fraco das massas desorientadas e entorpecidas por pregações midiáticas
cotidianas e “luciféricas”, querendo fazer-nos acreditar que toda a culpa é
nossa, e não deles, esses fedentinos e antiquados burgueses gananciosos do
peito oco. Ou pós-modernos predadores. Tanto faz.
(é pra se lascar. é cunhão rôxo. é dose pra mamute.)
Vou mimbora pra Serra de Capacaça. Lá não tem vampiros,
nem coronéis-de-saia pra atormentar o nosso tutano já tão desgastado e
desprotegido, bombardeado por energias sutis que deturpam as ondas cerebrais do
nosso cabeção transtornado e desorientado.
Oh, minha máxima culpa, poderias trazer pra mim agora um
cálice de ambrósia e outro de camomila?
PRA MIM CHEGA.
FUI.
16 de julho
de 2015
Contra o desarmamento
Os
defensores apaixonados do pacifismo absoluto parecem incapazes de perceber (ou
fingem não perceber) que a paz absoluta é uma quimera impossível de efetivar-se
aqui na Terra (talvez seja possível em outros planetas mais evoluídos, em
outras paragens siderais; mas aqui na Terra não é possível). A violência, a
vontade de poder, a ânsia de dominação, etc, são dados inextirpáveis da nossa
condição terráquea. Resta-nos apenas administrar dosagens em diferentes
contextos. Dosagem zero de violência é uma ilusão (aqui na Terra). Portanto,
está equivocado o próprio ponto de partida "filosófico" dessas
campanhas pela paz e pelo desarmamento. Sem a percepção/observação do “Mal”
dentro e fora de cada um, encontraremos apenas "iluminação" ingênua,
ou cairemos em inúmeras projeções (projetar é fácil). Às vezes nem tão ingênua
assim, uma vez que em algumas ocasiões os pacifistas absolutos são, na prática,
cúmplices sub-reptícios de poderes estabelecidos os mais diversos (vejam o caso
do sistema de castas indu), e essa cumplicidade pressupõe vinculação, mesmo que
indireta, com uma certa dosagem de violência exercida por qualquer espécie de
governo (ninguém exerce um quinhão de poder sem exercer um quinhão de
violência, direta ou indireta, explícita ou implícita; e aí o pacifismo
“ingênuo” não vê, ou finge não ver, esse quinhão).
Sabemos
que os poderes estabelecidos, em geral, como tudo o que é humano, têm um pólo
negativo e um pólo positivo (uma banda podre e uma banda boa, ou relativamente
boa, por assim dizer). Eu acredito, e isso é convicção pessoal, que o
desarmamento dos cidadãos “de bem” (a banda boa do povo) torna esses cidadãos
mais frágeis diante da banda podre dos poderes estabelecidos em geral (seja em
relação ao pólo negativo dos militares, seja em relação aos bandidos
propriamente ditos, ou em relação à pistolagem ou a qualquer setor das classes
dominantes que fazem uso da violência quando querem ou precisam fazer, ou mesmo
no nível da defesa pessoal ou da violência como prerrogativa legal do estado).
E
aí vem a pergunta fatal: quem ganha com o aumento da fragilidade do pólo
positivo das camadas populares? Obviamente quem ganha são as classes dominantes
em geral (incluindo aqui a bandidagem propriamente dita), pois a sociedade
civil, desarmada, fica mais frágil diante do Estado ou do Mercado. Como eu
disse, acredito que o ponto de partida “filosófico” ideal, ou pelo menos o mais
razoável, seria ensinar ("treinar") os cidadãos a administrarem
melhor seus impulsos e as inevitáveis dosagens de violência que precisam ser
usadas nas diferentes ocasiões e contextos onde for necessário e inevitável o
uso dessas diferentes dosagens (autodefesa é o mote).
Sei
que é difícil e perigoso esse outro ponto de partida que eu defendo. Mas eu não
vejo outra saída mais “razoável” para a realidade concreta aqui da Terra (da
condição humana). Que aprendamos a administrar/gerenciar as dosagens de
violência que as diferentes realidades nos impuserem. Agora vem a parte mais
complicada: de tudo o que eu disse nos três parágrafos anteriores, deduz-se,
obviamente, que os cidadãos da banda boa do povo devem juntar forças com a
banda boa dos militares para o combate contra a bandidagem, a banda podre da
área militar e a exploração do homem pelo homem, até onde isso for possível. E aí, é claro, deveria haver
uma troca de conhecimentos de defesa (em geral), e de conhecimentos de
autocontrole e auto-regulação (em geral), bem como a transformação (mesmo que
gradual) de aspectos negativos no nível social e no nível da realidade interna
nos quartéis (o que pressupõe cidadania para soldados, cabos e sargentos, além
da melhoria salarial e da infraestrutura das forças armadas em geral). Tudo
isso pode parecer quimérico e irrealizável; mas, para a realidade concreta do
planeta Terra, eu não vejo outra saída mais razoável do que essa.
Fraternidade:
sempre que possível; violência: quando necessário.
PS: A derrota do
governo no referendo de 2005 deveria ter alertado definitivamente as classes dominantes
do nosso país: a maioria do povo é
contra o desarmamento. Então pra que insistir nesse equívoco? Se é mesmo um
“equívoco”, e não uma “esperteza”.
Zé de LARA
(primeira versão: 2010)
(segunda versão: 2015)
O SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES 2014
Votei
em Luciana Genro no primeiro turno. E vou votar em Dilma no segundo. Com isso,
não estou querendo dizer que uma grande esperança tomou conta do meu coração. Tudo
não passa de relação entre tática e estratégia. De possíveis pequenos passos na
direção de um esquema “progressista”, que nos levaria a um provável “estado-de-bem-estar”
tupiniquim, A MÉDIO PRAZO. São meras suposições para um possível futuro menos ruim,
um suposto mal menor. E ainda o seguinte: toda essa história não descarta a
necessidade dos diferentes tipos de luta (classista, ambiental, existencial,
espiritual, etc). A luta vai continuar,
companheiro, mesmo se Dilma vencer no segundo turno (a luta continuará, com
Dilma ou sem Dilma).
E agora a bronca polarizou com clareza: projeto “neo-liberal” VERSUS
projeto “progressista”. A tarefa mais urgente, e momentânea, é neutralizar o
esquema neo-liberal de Aécio e CIA. Pra isso, inevitavelmente, tornam-se
necessários os acordos táticos e pontuais com setores de “centro-esquerda” de
partidos como PTB, PROS, PDT, PR, PSD, PP, PMN, PRB, PPL, PSB, PV, PSC, REDE, etc.
Quanto ao PSOL, no meu ver, deveria suspender circunstancialmente o pendor para
o esquerdismo infantil, e apoiar Dilma neste segundo turno, com um voto crítico.
O voto nulo seria, mais uma vez, uma infantilidade infrutífera, já que a tarefa
mais urgente é mesmo a neutralização circunstancial do esquema monetarista
neo-liberalóide, com os setores progressistas do PT capitaneando pequenos
passos na direção de um “estado-de-bem-estar”, A MÉDIO PRAZO, em pequenas
mudanças paulatinas e graduais, por etapas. (Vou ficar com o mal menor pra
evitar o mal maior).
O centro da questão não é: condenar TOTALMENTE o partido B ou C. Pois o
eixo central da questão é: qual a dosagem POSSÍVEL de distribuição de renda e
acomodação de diferenças em determinado contexto apesar de determinada dosagem
de vampirismo e clientelismo. Quem erra individualmente, paga INDIVIDUALMENTE.
Não vou condenar totalmente o partido A ou B; assim como não vou condenar todo
o campo ideológico do anarquismo porque um ou outro pequeno-burguês extremista,
ou rebelde, virou um canalhinha "anarco-individualista". (Cada
partido que corte na sua própria carne. E a luta contra a corrupção vai
continuar.)
Diante da situação difícil em que vivemos atualmente, colocar TODA a
culpa nos políticos é burrice. OU esperteza. Conforme cada caso. O poder não é
uma cúpula, o poder é uma teia (que inclui parcelas dos estratos altos, médios
e baixos). Ficar apenas projetando uma postura unilateral ou APENAS jogando
merda no ventilador, não vai ajudar (vai mais atrapalhar, confundir, desviar).
Quem está interessado em desviar de um aspecto principal para um aspecto “secundário”?
A extrema-direita está incentivando o assassinato de TODOS os políticos. Mas os
black-blocs TAMBÉM estão aconselhando essa eliminação física.
Pra burguesia, vale também enfatizar EXCESSIVAMENTE o impossível pra desviar do
POSSÍVEL. E é aqui que os anarquistazinhos radicalóides e os marxistas
ORTODOXOS caem na armadilha que eles não conseguem enxergar, porque têm uma
cabeça de bula: às vezes é "bula" anarquista também. (E eu não estou
dizendo que não vou continuar lutando contra a corrupção e o vampirismo.)
Não sou filiado a nenhum partido, mas também faço
acordos momentâneos e contextuais com setores da burguesia PROGRESSISTA, dentro
de uma lógica geral ETAPISTA. Por exemplo: Edilson Silva, do PSOL, pra deputado
estadual, e Fernando Ferro (PT) pra deputado federal. Estratégias
excessivamente radicais não funcionam no Brasil. Aqui, se houver mudanças, será
por etapas, paulatinamente, gradualmente. (ISSO NÃO DESCARTA OS DIFERENTES
TIPOS DE LUTA). E eu não estou procurando pureza absoluta na Terra. Tou
interessado na dosagem POSSÍVEL de distribuição de renda e acomodação de
diferenças em cada contexto específico, apesar de determinada dosagem de “corrupção”.
Dos males, o menor, CIRCUNSTANCIALMENTE.
No segundo turno, o arco de alianças CONTEXTUAL em torno do PT tem mais
chances de pender para um esquema democrático-popular MINIMAMENTE “à esquerda”,
ou seja: uma possível hegemonia de “centro-esquerda” dentro do arco de
alianças, onde setores de centro-direita entram como aliados táticos e
circunstanciais. A meu ver, essa possibilidade “progressista” é menor quando se
trata do arco de alianças em torno do PSB ou dos marinistas. Sendo assim, o PT
seria um mal menor, se comparado com a ala direita do PSB ou da REDE. Já que
estas alas à direita são, atualmente, hegemônicas dentro do PSB e da REDE. Quanto
ao PT, dentro deste partido a hegemonia interna atual está com setores de “centro-direita”,
mas com uma possibilidade de, num futuro próximo, os setores de “centro-esquerda”
tornarem-se hegemônicos, junto com um pequeno campo de esquerda propriamente
dita, o que já está acontecendo no PT de Pernambuco, por exemplo.
Tenho
dito. E repetido.
Oh,
Yes. Podes Crer.
Zé de LARA – 08/10/14
DESVELAMENTO DE ALGUNS SEGREDOS DA CONQUISTA MASCULINA
Atenção, garotas,
atenção: vou revelar, em profundidade, onze segredos da conquista masculina.
Dessa vez todos os chovinistas vão ficar com as entranhas, fedorentas, expostas
pra todo mundo ver. Dessa vez eles não escapam. Lá vai:
1) Aparência.
Procure sempre cultivar um estilo de vencedor. A roupa é muito
importante, como também o corte de cabelo (o corte social geralmente agrada a
maioria). As unhas devem ser bem cortadas, nunca pintadas (é preciso mostrar
que é “hétero”). Os dentes devem estar sempre bem cuidados, assim como o calçado
e acessórios (mas sem extravagância). Comece a deixar claro, sub-repticiamente,
que tem bala na agulha, ou seja: dinheiro.
2) Cheiro.
Use um perfume bom (qualquer clássico francês, de preferência). Desodorante
da mesma forma, e cuide do hálito (nada de bafo-de-onça). Faça, aos poucos, ela
sentir o cheiro “monetário” do vencedor.
3) Humor.
Aproveite as oportunidades para tornar o clima descontraído, e faça a
pretendente rir “naturalmente” com brincadeiras. Geralmente, isso facilita o estreitamento
de qualquer futura relação, (e esse é o seu objetivo inicial - não esqueça).
Proporcione momentos de felicidade descontraída.
4) Sinal.
Observe as “deixas” da fêmea: seu olhar, tom de voz, o jeito com que
pega nos cabelos, certas perguntas, etc. Identifique, e não deixe passar, qualquer
oportunidade inesperada, por mínima que seja. Depois dessa pequena oportunidade,
convide-a imediatamente pra tomar um sorvete, por exemplo (glicose alta sempre ajuda). No início da “relação”, nunca convide pra
usar drogas de qualquer espécie.
5) Postura “independente”.
Não demonstre muito interesse. Mostre, com sutileza, que é um homem livre e "forte". Continue usando a sutileza pra avançar. Aproveite
todas as oportunidades para o toque:
primeiro nos ombros (avançando para perto do cangote); depois nos braços (deslizando levemente para as mãos). E finalmente
as mãos (conexão “paradisíaca”).
6) Finja ser tímido.
Ela vai se sentir mais à vontade com o toque “tímido” das mãos: isso
todo mundo entende (observe o que ela diz nessas horas, e siga em frente).
Também o seguinte: geralmente os
tímidos e introspectivos são mais fáceis de serem dominados pela “lombra” do
amor romântico, esse VENENO doce terrível. E elas percebem isso, é claro. Elas SABEM.
7) Não seja “fácil”.
Homem fácil é sinal de problemas com a concorrência feminina. As mais
gostosas gostam muito de homens difíceis, ou seja: ricos ou poderosos. Mas é
preciso disfarçar a “dinheirama”, capciosamente, pelo menos no início da
disputa mútua de conquista e dominação. Nesses momentos, é preciso sempre atuar
com MUITA sutileza e “disfarce”.
8) Evite fazer perguntas diretas.
Procure saber, indiretamente, sobre as coisas que ela gosta, e vá explorando
aos poucos esses assuntos;
deixe ela se sentir por cima, e sempre fale, a princípio, concordando
com “quase” tudo o que ela diz. Depois de uns três ou quatro “arrodeios”, fale
sua opinião, se não existir a possibilidade de sua opinião “ofender”.
9) Evite falar de defeitos.
Tanto faz se o defeito é seu ou de outra pessoa. Ela pode ter o mesmo
defeito que você, e provavelmente você perderá a oportunidade. Lembre-se que a
grande maioria das fêmeas, talvez “noventa e nove por cento”, não consegue se
desvincular do clima romântico e cinderélico, principalmente depois que já
estão “apaixonadas”. Tá tudo dominada.
10) As mulheres “de bem” não gostam
de serem tratadas como putas.
Porém devemos ostentar poder e riqueza, subliminarmente, pra facilitar
a conquista, já que o “amor” e o dinheiro são unhas de uma mesma carne.
Na Física da Eletricidade, os contrários se atraem. Mas, no “amor”,
são os semelhantes que se atraem. Embora elas pensem que são de outro “nível”. E
então nunca use linguagem chula, por mínima que seja, sob hipótese alguma.
JAMAIS.
11) Nunca chame sua pretendente
de “meu amor”.
(principalmente no início da tentativa de “dominá-la”).
Apesar das “cinderélicas”, que são a grande maioria, não conseguirem se
desgrudar de um macho quando estão apaixonadas, no início do "cerco" prolongado procure demonstrar seu amor com
presentes, ou então com outros tipos de “tramóias” capciosas, mas nunca falando
em amor eterno com freqüência, ou em beleza interior (se ela tem apenas
formosura mediana). Quem não mente, não
ganha. E quem não ganha, não come. Embora o quinhão de poder ou dinheiro,
também, seja fundamental. (Beleza interior é cheque sem fundo.)
A maioria das mulheres, principalmente as cinderélicas, não entende a
sua própria “natureza” humana e terráquea. E os homens são, mormente, o apego a
um certo tipo de prazer psicológico, extraído dos exercícios-de-poder e
mecanismos de dominação. Mas...
O risco que o pau corre, o machado
corre também. (já
dizia a sabedoria pop sertaneja). Quantos chovinistas já foram fisgados e
escravizados? E assim segue a humanidade. O
risco que a “cinderela” corre, o “exu” também
corre. É verdade que os homens superam dores-de-amor com mais rapidez do
que as mulheres, pois se ligam mais na formosura externa, enquanto as fêmeas funcionam mais com o coração. Porém...
CACHAÇA AINDA MATA UM CÔRNO DESSES.
Quem tem ego, tem medo.
ZÉ de Lara – agosto – 2014.
REFORMA FISCAL
Quem tem um mínimo de percepção crítica,
além de determinado limite, sabe que as tão badaladas reformas são um
esqueminha sub-reptício para aprofundar a exploração dos assalariados, a
concentração de renda e os cortes em direitos adquiridos. Hoje fala-se pouco
sobre estas tão famigeradas reformas (com exceção da Reforma Política, uma vez
que esta tem uma certa urgência para os interesses da direita e do centrismo, petista
ou não, devido à proximidade das próximas eleições gerais). As outras reformas
estão “paradas”. Parou por que? Por que parou? Por conta dos efeitos colaterais
da recente crise cíclica do capitalismo global? Ou será que, em tempos de caça
aos votos, pega mal aprovar propostas que penalizem ainda mais os assalariados
e os pobres? Não é mesmo?
Quando o assunto é reforma fiscal, o
governo pouco ou nada faz para alterar o caráter profundamente injusto da
tributação no Brasil, que decorre, como se sabe, do peso da tributação indireta (contida no preço dos produtos), da baixa progressividade nos impostos diretos,
da inexpressividade dos impostos
patrimoniais, da fragilidade do aparelho arrecadador (ausência de maior
combate à evasão e à sonegação), da pouca seletividade nos produtos da cesta
básica, e da profusão de isenções e incentivos para a grande burguesia.
Tradicionalmente, quem mais arca com o
pagamento de tributos no Brasil são, sobretudo, os assalariados de classe média, que não têm como fugir da retenção do
imposto de renda na fonte, e os consumidores em geral, principalmente
os das classes mais baixas, que suportam a maior parte da pesada tributação
indireta (contida no preço dos produtos), sendo esta o peso maior na balança
tributária. Ao estimar a taxação efetiva sobre o consumo, o trabalho e o
capital, comparando-a com a que se observa nos sete países mais ricos (G7),
verifica-se que, no Brasil, o
capital é sub-tributado, tanto
em comparação com o consumo e o trabalho, como em comparação com as alíquotas
efetivas praticadas nesses países mais desenvolvidos.
Portanto, é preciso tornar o sistema
tributário progressivo, no geral,
isto é, fazê-lo tributar mais os que têm renda e riqueza maiores,
proporcionalmente. Atualmente, no Brasil, os impostos (no total) chegam a algo
em torno de 37% do PIB. Cinicamente, os grandes burgueses reclamam do “custo
Brasil”, sofismando; pois o problema maior não é a porcentagem em si mesma, mas
sim a ausência de progressividade na arrecadação (nos países nórdicos, essa
porcentagem gira em torno de 37% do PIB, ou até mais, porém a progressividade e
os ganhos sociais são uma realidade palpável nestes referidos países). Outro
grande problema, no Brasil, diz respeito a como fazer para que o dinheiro
arrecadado chegue até os estratos mais baixos da sociedade, à base da pirâmide
social, uma vez que essa grana precisaria sair das garras da elite e atravessar
as burocracias dos estratos médios (com a sua corrupção endêmica). Aí o bicho
pode pegar. Mas isso já é outro papo.
Quanto às novas faixas do IRPF, estas
não escondem uma falsa ou uma inexpressiva progressividade. Ainda é alta, por
exemplo, uma alíquota de 22,5% para um salário de R$ 2.900,00. Ou seja: o
sentido geral dessas novas faixas permanece o de arrochar e apertar o cinto da
classe média baixa, enquanto os grandes, na maioria dos casos, sonegam e,
proporcionalmente, pagam uma parte menor em relação ao que pagam os salários
(na fonte) e o consumo da população em geral (impostos contidos no preço dos
produtos). Que justiça tributária existe numa mesma alíquota de 27,5% aplicada
sobre um salário de R$ 3.600,00 e sobre um outro de R$ 36.000,00? E então?
zé de LARA (outubro 2009)
FLEXIBILIZAÇÃO DE LEIS TRABALHISTAS
Lutar
desesperadamente pela manutenção da CLT. Eis a luta urgente, e desesperada, que
os assalariados do Brasil vão ter que encarar a partir de novembro de 2012. E
nem me venham falar de socialismo ou ditadura do “proletariado”. Me poupem. Tou
cansado de saber que esses sonhozinhos são irrealizáveis no Brasil, a curto ou médio prazo. Esse
discurso, além de não trazer resultados práticos, atrapalha os pequenos ganhos
circunstanciais, pois desvia a atenção dos trabalhadores do que é possível circunstancialmente, e
enfatiza apenas um programa máximo que é, literalmente, impossível de ser
aplicado num determinado contexto específico. É a velha estória do “tudo ou
nada”, ou “nem o mel e nem a cabaça”. Obviamente, esse erro de tática, essa
ênfase no impossível, enquanto o possível é descartado, torna-se, na prática,
um equívoco estratégico que reforça posições dos poderes estabelecidos.
Pois
é. Às vezes é mais difícil manter do que conquistar. E eu não poderia imaginar
algo mais trágico do que essa luta pela manutenção do celetismo. Chegamos a um
nível de degeneração inimaginável após quase dez anos de governos petistas e
seus aliados. Quem poderia imaginar que chegaríamos a um ponto desses? Quem
poderia pensar, uma década atrás, que precisaríamos, de forma inarredável,
lutar ferozmente para manter uma parte da herança varguista? Eu mesmo, nem de
longe, cheguei a, minimamente, ter qualquer laivo de premonição desta
“esperteza” sorrateira e fedorenta. Deste majoritário ato tresloucado de
cooptados e “aloprados”. É demais para os meus pobres neurônios. E para o meu
pobre coração também. Desta vez a depressão pesada vai chegar na minha vida
mental, inevitavelmente. E talvez até mesmo um colapso. (Lá vem somatização: estou sofrendo por antecipação).
Usando
a velha desculpa de um momento de crise, a “velha” burguesia tupiniquim tem
usado e abusado dos seus “velhos” factóides, simulacros, maracutaias,
fingimentos, demagogias, cooptações, etc, com o objetivo capcioso de aumentar o
seu lucro líquido através de subsídios estatais, desonerações e vantagens de
vários tipos, cortes de direitos adquiridos, arrocho salarial, diminuição de
verbas públicas, semiprivatizações, etc, com o “auxílio luxuoso” da nossa mídia medonha e tenebrosa. E então todas
essas vantagens governistas usufruídas pela iniciativa privada aparecem, para o
público politizado, como benesses estatais que resultam em um aumento do lucro
empresarial, e esse lucro vai então ser aplicado nos paraísos financeiros (sabe
“deus” de onde). E nada de aumento salarial, por mínimo que seja, ou de
melhorias na educação e saúde públicas, ou em direitos adquiridos, ou pequenos
ganhos para os trabalhadores em geral, ou redução de preços nos produtos, ou
aumento de empregos, etc. O que vai acontecer MESMO é que o empresariado vai
embolsar pessoalmente essas “sobras”. Vai engordar o seu lucro individual, e
dar uma “banana” para os trabalhadores e fudidos em geral.
Como
não ver o Estado, numa situação dessas, como um “otário” ou como um cúmplice
sorrateiro dessas safadezas inaceitáveis? E se, além dos “vacilos” estatais, a
maioria do povo afundar no conformismo-egoísmo-imediatismo? Aí, meu velho,
teremos paulatinamente a aplicação de algum esquema semelhante à barbárie
neo-liberal, que é o que já está acontecendo na Europa com o desmonte do
estado-de-bem-estar-social europeu. Aqui no nosso lascado e arrombado Brasilzinho, então, jamais teremos
qualquer esquema econômico-social que se assemelhe a um “estado-de-bem-estar”.
Teremos apenas a mesma hipocrisia de um discurso de centro-esquerda mentiroso e
demagogo, repetido à exaustão, pois de “esquerda”, na prática, ele não tem nada mesmo. E o “velho” Estado brasileiro,
além de não cumprir com as suas obrigações, ainda irá usar a “velha” esperteza
de apelar para o trabalho voluntário, a fim de vampirizar o voluntariado
babaca, esse inocente útil, para que ele realize as tarefas que deveriam ser
realizadas pelo Estado, por obrigação. É FODA. É PRA SE ARROMBAR.
E
o lucro líquido das grandes empresas continuará intocável. E será eterno o
velho tabu de que a margem de lucro jamais será diminuída para que sobre algum
dinheiro a ser “investido” na base da pirâmide social. E continuará sendo
válido o venenoso argumento de que devemos nos adaptar aos ditames do
vampiresco capitalismo global, uma vez que não restaria outra opção que não
seja esta.
E
quais são os principais argumentos do “velho” capitalismo tupiniquim
ensandecido pela usura e pela cobiça? Diz ele que precisa “enxugar” os serviços
públicos, que estariam, segundo ele, estrangulando a contabilidade estatal. Que
é preciso cortar, ou parcelar, direitos adquiridos para tornar as empresas mais
competitivas. Diminuir reclamações classistas e melhorar a gestão de recursos e
a eficiência administrativa. Implantar condições específicas para as relações
de trabalho, ou seja:
especificamente prejudiciais para os assalariados (“modernizá-las”). Que o negociado deve prevalecer sobre o legislado,
para atualizar a legislação sindical, através de um tal “acordo coletivo
especial” (as categorias que tiverem sindicatos fracos estão fudidas). Enfim: um esquema quase semifeudal,
disfarçado com uma conversa bonita e com algumas falácias da quase falida
economia “científica”, pra enganar os bestas e a preguiça mental (a conversa
mole dos superdoutores e especialistas que não previram a emersão da grande
crise de 2008 que, a meu ver, ainda dura até hoje; “reverbera”).
Meus
queridos e extraordinários leitores, suspendam temporariamente todo o ódio e
ressentimento classistas que eu expus até agora nesta crônica sombria. O ódio e
o rancor dificultam enormemente o raciocínio mais lúcido e a nossa capacidade
mental para colocar os pés no chão, quando é preciso colocá-los, por mais
sonhadores que sejamos (o excesso de sonhos também impede uma visão mais
lúcida). Nunca é demais repetir:
esta luta específica, neste momento, nesta circunstância, tem o objetivo de
garantir a manutenção da CLT, e o impedimento de qualquer corte em qualquer
direito adquirido. A luta, agora, neste contexto atual, não é para implantar o
socialismo ou a ditadura do “proletariado”. Porém, após conseguirmos a
manutenção da CLT e de outros direitos trabalhistas, então iremos discutir
exaustivamente como planejar novas lutas para tentarmos conseguir pequenos
avanços, nos próximos contextos, um pouco além do que tenhamos conseguido. Esse
é o raciocínio tático mais inteligente para a atualidade, a meu ver. Pequenos
passos em pequenas etapas. De nada vai adiantar a gente reproduzir, cansativamente,
qualquer discurso radicalóide “ortodoxo”.
O
problema maior, nessa etapa atual, será encontrar “parceiros” e “aliados”
circunstanciais, táticos, pontuais:
para juntar forças em torno de um programa mínimo que, mesmo sendo “mínimo”,
consiga evitar maiores nocividades contra os assalariados e pobres em geral (na
circunstância). Sem falar na possibilidade de que as divisões internas entre as
diferentes categorias possa levá-las para posições egoístas, corporativistas,
compartimentais (e o nosso inimigo de classe poderá manipular essas divisões
intestinas: dividir para facilitar a
dominação). Vai ser um tiroteio no escuro;
pois será muito difícil encontrar, circunstancialmente, aliados políticos que
estejam, verdadeiramente,
interessados em atenuar, contextualmente,
efeitos sócio-econômicos nocivos, apoiando pequenos passos contextuais, dentro
de uma lógica geral para uma evolução gradual e etapista na direção de um
“estado-de-bem-estar” tupiniquim,
mesmo que a médio ou longo prazos. Inclusive não descarto, a priori, circunstancialmente, alguns acordos pontuais com personalidades ou subsetores da base aliada lulista,
ou da esquerda heterodoxa, ou até mesmo da “direita” (num apoio eventual e
específico). Como identificar esses possíveis “aliados” táticos, pontuais,
circunstanciais? É tarefa
sobre-humana. Verdadeira “briga-de-foices” na escuridão. Mas eu preciso
arriscar. Não posso ficar parado nos discursinhos nefelibatas do
fundamentalismo marxista ou anarquista radicais; pois, como já disse, a repetição desses discursos não traz
resultados práticos circunstanciais, mesmo mínimos. Pelo contrário: atrapalham a conquista de pequenos
ganhos ou pequenos avanços, uma vez que enfatizam apenas um programa máximo e radical, enquanto as pequenas
possibilidades reais de cada
contexto ficam secundarizadas ou mesmo descartadas.
TENHO
DITO. E REPETIDO.
(outubro –
2012)
GREVE NA UFPE 2014
Precisamos desenvolver a capacidade de raciocínios
diferentes para contextos diferentes. O uso de “bulas” tem dificultado esta
capacidade para a flexibilidade tática, incluindo a observação da realidade
como ela realmente é, e não exclusivamente através de posições prévias de
determinada “bula” de uma corrente sindical ou de um partido político. Acabou
aquele contexto antigo em que fazíamos greve sem maiores consequências. Hoje,
neste contexto atual, é urgente que sejamos capazes de avaliar os riscos com lucidez.
Não podemos continuar sendo bucha-de-canhão de determinadas correntes
ideológicas ou sindicais. É urgente que aprendamos a pensar com nossas próprias
cabeças, ao invés de continuarmos a ser meros cabrestos de partidos ou
correntes.
Estamos num contexto diferente. Uma nova realidade. Mais
perigosa. Não podemos continuar agindo como se estivéssemos a dez anos atrás.
Repetindo bulas trotskistas, anarquistas, cristãs, luxemburguistas, etc. E
interessados apenas nas posições prévias de cada partido ou ideologia, fazendo
da base uma bucha-de-canhão qualquer. O caso específico da UFPE merece uma
abordagem específica; pois se
diferencia de boa parte do que está acontecendo lá fora. Aqui, na UFPE, ainda temos uma influência
forte da centro-direita petista (principalmente entre os técnicos) e do PCdoB
(principalmente entre os professores: que já decidiram parar apenas 24 horas,
no dia 19 de março).
Os alunos, em sua maioria, estão interessados
basicamente no seu diploma, e em ganhar dinheiro o mais rápido possível. Isso
certamente fará com que os alunos não apoiem uma “greve total por tempo
indeterminado”. Sem falar no ancestral e endêmico conformismo clientelista com as
suas cooptações (ainda muito forte
na UFPE). Avaliar um contexto
específico desses com uma única “bula”, seja ela de que tipo for, é ceder à
tentação de investigar a realidade concreta (multifacetada e complexa) com uma
visão estreita, unilateral, ortodoxa, ditatorial. Tudo isso influi também, por
exemplo, no pendor para não permitir que as bases decidam por si mesmas, o que sempre
implicou na ausência de referendos para que a base possa decidir por maioria
simples. Os que hoje falam em “caráter plebiscitário” estão, na verdade,
fazendo demagogia, pois na prática estão sempre dificultando os caminhos da
democracia participativa e direta. No caso específico da UFPE, tornou-se “rotina”
decidir tudo em assembleias com 70 ou 80 pessoas, no máximo, num universo de
mais de 4.500 técnicos.
O radicalismo infantil e verticalizado continuará
fazendo os seus estragos, levando parcelas da massa para o “suicídio”, como foi
o caso da última invasão da reitoria, em nome dos interesses próprios dos
diferentes partidos, reforçando pendores compartimentais e limitações
perceptivas que dificultam a apreensão da realidade propriamente dita, ela
mesma, AMPLA E DIVERSIFICADA, como ela realmente é: multifacetada, complexa,
randômica. E a avaliação de riscos tem sido feita de uma forma bastante
limitada e repetitiva, mesmo com as brechas jurídicas evidenciadas pela “nova
lei de greve”, o famigerado Decreto
1480/95, onde uma das cláusulas permite ao governo usar a lei de greve da
iniciativa privada em casos extremos. Não se iludam: esse governo usará
qualquer brecha jurídica para prejudicar inimigos políticos ou ideológicos. Os
tempos são outros, e a realidade interna da UFPE, atualmente, é outra realidade diferente daquela de dez anos atrás. Vamos
raciocinar com os pés no chão, ATUALIZADOS, sem bulas, nem ortodoxias limitando
os nossos pensamentos livres.
Talvez a posição mais lúcida para esse momento seja
iniciarmos com uma greve parcial,
paralelamente a uma mesa de negociação. Pararíamos apenas nas terças e quintas,
inicialmente, investindo em
panfletagens, debates, atos públicos, abaixo-assinados, listas com políticos
que votam contra interesses dos trabalhadores, etc, enquanto tentaríamos avançar
negociações em torno de uma pauta mínima, que inclua alguns pontos básicos e
urgentes (específicos da nossa categoria). Agora, neste momento atual, de nada
adiantaria usarmos uma estratégia radical na
UFPE. Radicalizar totalmente, agora,
traria sérios riscos para a nossa base. Precisamos jogar aberto e honesto com a militância.
Nas outras universidades federais, o raciocínio
poderia ser diferente, se a realidade específica de uma determinada
universidade for diferente da realidade específica da UFPE. Uma greve apenas de
técnicos, na UFPE, seria uma greve
frágil, e talvez nem seja possível. Já uma “greve total por tempo indeterminado” seria apenas uma ladainha ortodoxa
e repetitiva, DESCONECTADA DA REALIDADE ESPECÍFICA DA UFPE, sem ressonâncias na
base real da UFPE, e sem falar nos
inúmeros riscos do contexto atual. Além de dificultar a negociação com alunos e
professores, pois sem esse diálogo prévio ficaremos mais frágeis. Enfim: há
determinados limites e critérios, atuais,
que o velho esquerdismo infantil, ditatorial e repetitivo, não está querendo
ver, ou está fingindo que não quer ver. Porque ele só vê o que interessa aos
velhos partidos ou correntes “ortodoxos”, de esquerda ou de direita. Sem falar
que, em certos contextos, os extremos se tocam e se misturam.
zé de LARA - março - 2014
DEGENERAÇÃO PROGRESSIVA DE PODERES ESTABELECIDOS
O tema do título
é um assunto que o Karl Marx negligenciou. Ele e todas as filosofias de
esperança (cristianismo, libertarismo, marxismo, holismo, contracultura
otimista, etc). Um imensurável lajedo no meio do caminho de alguns grandes
cérebros otimistas, incluindo o Lênin e o Malatesta. Um mistério terrível que o
cientificismo pan-racional se recusa a investigar com profundidade e
“imparcialidade”. Algumas variantes, inclusive, recusam-se até mesmo a encarar,
ou apenas olhar. Recusam-se a pesquisar seriamente, e com profundidade, pois
assim teriam que enfrentar os leviatãs do seu contexto. O que é preciso
esconder? Algo saiu errado e
"pasteurizou-se"?
Estamos dentro do
ventre de uma “besta” cósmica? ou “envolvidos”
e manipulados por um campo cósmico que consegue fingir que é “anjo”? e exerce sérias influências na vida
terráquea em geral? e em nós seres
humanos? (terráqueos ou não). Foi
“isso” que projetou e injetou um “soft” nos primeiros humanóides, fazendo com
que estes passassem a agir de uma maneira pré-determinada e “imutável”? É assim que acontece, por exemplo, na
mitologia suméria, onde os “deuses” parecem astronautas promovendo mutações em
genes ou memes, e “cristalizando” ou
“caotizando” as mutações. Somos epifenômenos? Ou é tudo responsabilidade
humana mesmo? O que está em cima é como o que está embaixo?
O que está dentro é como o que está fora?
Depois o trabalho
seria completado com determinadas influências de energias sutis e ondas
“quânticas”? Essa fórmula
“pré-determinada” tornou-se uma característica engessada nas coletividades
humanas? O que os esforços humanos e
ajudas universais podem fazer contra ela?
Seremos eternos escravos dessa “fórmula”? O que faz com que tantos poderes, inevitavelmente, degenerem a
curto ou médio prazos? Que
irresistível pendor é esse que sempre leva a uma paulatina degeneração coletiva
inevitável? Como investigar
cientificamente um “fenômeno” desses? Por
que é tão difícil aceitar ou admitir a existência do pólo negativo de
"deus"? do “universo”? interligado dentro da teia cósmica? (Rilke dizia que todo anjo tem um
lado terrível).
São perguntas
medonhas, é verdade. Quem poderia respondê-las? Eu mesmo possuo apenas algumas especulações intuitivas e uma ou
outra evidência evanescente. Nenhuma resposta definitiva. E haja mistério
insondável, ultrapassando as fronteiras da nossa pobre filosofia pan-racional.
Uma verdadeira roleta-russa deixando rastros de perigos por toda parte. De
todos os tipos. Somatizações, desestabilizações, ataques sutis ou invisíveis,
pulsões egóticas descontroladas, pulsão de poder pessimamente administrada, imprevisibilidades
incognoscíveis, engessamentos “eternos”, exteriorizações do “mal”
sub-consciente, etc, etc. É inevitável perguntar: “aquilo” que faz os “softs” previu os momentos de caos?
Mas, do que foi
dito até agora, não podemos concluir que o pessimismo total ganhou o debate. Mesmo quando se trata do Brasil. Pois a
criatura humana é bipolar. O universo está cheio de bipolaridades entrelaçadas.
Os contrários alternam-se e misturam-se indefinidamente. Todas as
probabilidades estão colocadas. Aliás, o pessimismo total, além de uma energia muito pesada e perigosa para
somatizações, tem muitas limitações perceptivas, específicas ou não. Por
exemplo: o mecanismo mental que vê, ao mesmo tempo, o positivo e o negativo no
outro e em nós mesmos. É um mecanismo muito difícil. E os pessimistas
excessivos têm uma dificuldade específica para o trabalho com este mecanismo
mental específico. E há outros problemas com o pessimismo total. São muitos.
Outro imbróglio é
a “atuação” como um dos pilares de sustentação do poder estabelecido em cada
contexto. Velha tática. Tem dado certo em muitos momentos. Tem sido usada às
pampas. Velha desculpa para o escapismo e a cumplicidade indireta com poderes
vampirescos e castradores. Capciosíssima. Principalmente quando se trata dos
defeitos do povo (o que precisamos esconder?).
E é também algo semelhante a um grande tabu, do qual ninguém pode falar, nem
investigar, sem correr certos riscos no enfrentamento com poderes contextuais.
Quem fez o “soft”
do ser humano, quando fez, sabia que as coletividades humanas mostrariam-se
sempre com dificuldades “intransponíveis” para promover maiores transformações
sociais para a distribuição de renda e acomodação de diferenças? Fez sabendo que seria assim? Projetou e fabricou escravos? O “que” é este “inimigo” da criatura
humana? É imbatível? Do que se trata? Um campo mórfico? Uma área cósmica? Genes? Memes? “quem” ou o “que” projetou e fabricou os genes e os memes humanos? Se
fosse fácil, seria fácil. Se fosse simples, seria simples. Os antropóides
também têm poder bastante para impor a escravização a outro ser, e depois
acusá-lo de "optar" pelo escravagismo (negócio de fascistinha), por
mais potencial para o livre arbítrio que este ser possua. Que "soft"
é esse? Que espécie de “cognição”
universal é essa? Do que foi feita? De energia escura?
Os poderes
estabelecidos foram planejados, premeditadamente, para impedirem maiores
transformações sociais e existenciais? O
“engessamento” foi previsto com antecedência? Porém, se os humanóides têm um advogado, quem seria este advogado? O cristo cósmico? Não sei. Juro que não sei. Por que este suposto defensor não
consegue influir em maiores mudanças na “condição” contextual das coletividades
humanas? Boa pergunta sem resposta.
E o “promotor”? quem é ou o que é? do que se trata? uma área cósmica? E
mais o seguinte: se o promotor é
mais “forte” que o advogado, então a parcela de responsabilidade do ego humano
é pequena, uma vez que estaria sob o domínio de “algo” mais forte do que o
próprio ego humano. Tá dominado? Tá
tudo dominado? Foi “engessado”? O imbróglio encaixou-se bem na
carapuça humana? Se for assim, a
conclusão seria outra. Não é mesmo?
Todavia... com maiores agonias à parte, por
mais incrível que pareça, há ouro de “sombras” dentro de todos nós. Alteridades
esperando sua chance. Morte e vida entrelaçadas. Novas concepções vitais e
mortais alternando-se. Probabilidades complementares. Interconexões. Justas
medidas surgindo do “nada”. Ultracomplexidades possíveis. Até porque afundar totalmente no pessimismo conformista é,
no mínimo, convenhamos, uma queda pesada e sombria dos sete mares. Negócio para
santos sádicos ou vampiros transmutados em morcegos coloridos inofensivos. Ou
coisa bem mais imprevisível do que eu não consigo sequer imaginar. Enfim:
contraditoriamente, dialeticamente, há luzes em meio às trevas. Junto e
misturado.
Será que é mesmo?
Zé de LARA-janeiro-2014
AUTOCONTROLE
E RESSENTIMENTO CLASSISTA
Precarização trabalhista. Privatização de hospitais
públicos e estradas federais. Déficit crônico no saneamento e na habitação.
Sucateamento da educação pública. Gatilho previdenciário. Regressividade nos
impostos. Sementes suicidas. Entreguismo. Monopólios culturais. Majoração do preço das passagens. Indissolúvel burocracia dos
estratos grandes e médios. Incurável concentração de renda e terra. E pra
disfarçar: esmolinhas pra "mundiça" corrompida e cooptada. Velhíssimo esquema
assistencialista-clientelista-patrimonialista, repetido à exaustão em suas
diferentes variantes. Desde Getúlio (ou antes): a classe-média-baixa levando
nas costas este nosso país lascado e fudido. Como se não bastassem as poluições
e desequilíbrios ecológicos, indisfarçáveis, insofismáveis, batendo na cara de
todo mundo.
Porém, contudo, todavia, entretanto...
Política se faz com inteligência e autogerenciamento.
Os ódios, rancores e impulsos precipitados devem ficar bem guardados circunstancialmente
no fundo do peito e do estômago (no quinto e no quarto “chacras”), pra não
estragarem o raciocínio e as percepções, intuitivas ou não. É por essas e
outras que eu tenho defendido o uso de uma estratégia “bernsteiniana” para o
caso específico do nosso medonho Brazil. De nada adianta, AQUI NO BRAZIL,
querermos resolver tudo a curto prazo através da autogestão ou da
ditadura do proletariado ou da “esquerda” nórdica. Aqui é o lugar onde a porca torce o rabo e o cu da cutia assubia,
meu caro. Chega de precipitações que não funcionam nem trazem mínimos
resultados, e cuja principal consequência é dificultar tudo ainda mais, quando
cutuca onça com vara curta: vá por mim; eu estou velho e já passei por Elvis,
Hendrix e Ginsberg.
Gautama, Buenaventura e o velho profeta barbudo da
cidade de Treveris também.
Eu já cansei de
ver o sol se pôr!
Queria eu generalizar as empresas autogeridas ou as
cooperativas horizontalizadas. Ou implantar a ditadura da pequena burguesia
vampirizada e ressentida, mas em nome da classe “assalariada”, eternamente
lascada e fudida, como fizeram o Che, o Polpot, o Mao e o “Zé Staline”. Queria
eu: exercer meus ódios classistas e minhas paranóias existenciais contra a
“caretice” em geral. Porém a vida real é o meu prato. E eu preciso ter lucidez
pra agir como quem está na TERRA BRAZILIS, e não em Capela, ou em outra
dimensão. Pois é aqui mesmo neste lugar de misérias, arrombado, que eu estou
pisando nas ruas esburacadas de todos os dias dessa rotina encalacrada e
excomungada.
Chega de quixotismos e suicídios. Por favor!
Que fique bem claro: o “suicídio” é dos resistentes delirantes
e descontrolados, desses que dão murros inúteis em pontas de facas, e não do
velho poeta das terras do Capacaça (não pensem na menor possibilidade de me
chamarem pra irmos juntos tentar arrastar as massas pra qualquer tipo de suicídio
coletivo). Claro que eu sei que tudo isso não passa de um teatrinho para os
vovôs e as vovós burgueses assistirem indignados, mas com a barriga cheia de
bobó, e o convênio médico garantido, nas suas poltronas fofinhas e nas redes à
beira-mar, enquanto a militância “leninista” e “libertária” fica apenas com
alguns restos ou, no máximo, alguns cargos de terceiro escalão.
Enfim: o que eu estava mesmo querendo dizer era o
seguinte: no caso específico do Brazil, uma estratégia do tipo “bernsteiniana”
adapta-se melhor, para mudanças a curto e médio prazos, AQUI, neste lugar
horrível e purgatorial. É possível apenas, agora, alguns pequenos avanços
graduais na distribuição de renda e na justiça social (paulatinos). E tem mais:
serão conseguidos com muita luta; não se iludam. Demorei muito pra reconhecer
esta triste e cruel verdade “bernsteiniana” ESPECÍFICA para o Brazil (demorei
demais, e faltava coragem pra expor, pois eu sabia que poderia ficar no fogo
cruzado entre a esquerda ortodoxa e a direita braba). E esta é uma constatação
sombria, tenebrosa. Principalmente para extremistas infantis, precipitados e
desvinculados da realidade concreta de um dos piores países de todos os tempos
(onde o inimigo ainda é forte, e as condições objetivas e subjetivas ainda não
estão suficientemente maduras para justificar o uso da violência na hora certa,
quando é estritamente necessária: tou falando do Brazil: nunca é demais repetir).
Só que no meio desse inferninho, e dessa “putaria”
geral, ficou difícil captar votos na seara da centro-direita maldisfarçada ou
no campo da direita propriamente dita, já que parcelas da classe-média-baixa empobrecida
estão enfurecidas, bastante agressivas; desesperadas. Não esqueçam que foram
sempre essas parcelas, quando estão enfurecidas, que capitanearam as diferentes
revoluções burguesas, democráticas ou “proletárias”. O negócio é muito sério,
cara pálida. Como se não bastasse a luciférica e vampiresca elite ianque agindo
como uma velhaca horrível: ameaçando calotes a torto e a direito. ATENÇÃO:
estamos falando da mesma crise de 2008 (ela apenas ficou oscilando durante os
últimos cinco anos, mas é a mesma crise). E o centro desse imbróglio não são os
gastos sociais, como dizem os burgueses daqui e de lá. Porque o eixo
central dessa fulerage é apenas a repetição de grandes crises cíclicas do
capitalismo vampiresco, que reaparecem por conta de superproduções contextuais,
especulações desenfreadas, emissões sem lastro e queda no poder aquisitivo da
população. Depois os “patrimonialistas” promovem um assalto aos cofres públicos
pra salvar da falência os altos executivos inescrupulosos e malignos dos bancos
e das empreiteiras. E como se não bastasse o crescimento da extrema-direita na Europa, agora eles só falam em
austeridades, arrochos, terceirizações e “privatizações” (de novo). É PRA SE
ARROMBAR.
É: agora fudeu tudo mesmo, cara pálida.
Porém, contudo, todavia, entretanto...
Há especificidades insuficientemente abordadas ou
jogadas pra debaixo do tapete destas nossas searas tropicais com suas
injustiças e desigualdades “eternas”. Pra mim, AQUI, no nosso Brazilzinho das
Impunidades e das Espertezas, nada resta senão tentar implantar, a médio prazo,
gradualmente, algum programa “progressista”, através de todos os tipos de luta,
mas sem violências precipitadas nem quebra-quebra insano contra o patrimônio
público e o próprio povo, já de si bastante fudido e lascado (o socialismo,
propriamente dito, seria uma discussão posterior: fica como uma probabilidade,
e não uma certeza, ou um dogma). Quem insistir em usar
violências extremas ou atitudes radicalóides, neste momento atual do Brazil, com
toda certeza ficará isolado. Ou terá que amargar alguma prisão, processo ou
coisa pior. Sem o apoio do povo, é óbvio. Eu mesmo não vou, agora, repetir
erros quixotescos da minha juventude atribulada.
Que tal começarmos discutindo diferentes estratégias e
táticas pra neutralizarmos, inicialmente, as mazelas listadas no início
do primeiro parágrafo? Uma longa caminhada começa com o primeiro passo. Depois
dessa “neutralização” (que será difícil), a gente começa a discutir como fazer
pra avançar, em outros pequenos passos, na direção de algum esquema
VERDADEIRAMENTE “progressista” para o nosso Brazilzinho da Besta Fera (o
socialismo, propriamente dito, seria uma discussão posterior: fica como uma
probabilidade, e não uma certeza, ou um dogma). Não seria mais lúcido e menos
perigoso assim? Afinal, precisamos trabalhar mais com a consciência cuidadosa
do que com as precipitações do umbigo ideológico, dos impulsos “selvagens” ou
dos sonhos delirantes. Que o diga o velho “Zé de Lara” (ele está velho
sim).
NÃO É MESMO, CARA PÁLIDA?
15-outubro-2013
GLORIOSÍSSIMA “LIVRO SETE”:
EXTRAORDINÁRIA
LIVRARIA DE PERNAMBUCO.
A grandeza e a importância da Livro 7 é notória e
histórica. Não vou repetir aqui uma história que inúmeros jornalistas e
escritores já contaram. Vou apenas sapecar rapidamente um ou outro aspecto que
me marcaram pessoalmente. O principal: era um lugar privilegiado pra uma
cagadinha tranquila e relaxada. Isso pode parecer secundário pra muita gente,
mas naquele contexto do final da década de 70, no centro do Recife, era muito
complicado encontrar um lugar adequado pra uma cagada rápida e urgente. Nos
bares e restaurantes era simplesmente impossível conseguir uma “liberação” da
gerência sem consumir nada. E eu sempre estava liso, leso e louco. E de vez em
quando, devido às minhas roupas surradas e meu jeitão de “artista” desregrado,
me confundiam com algum bandidinho à procura de chances para surrupiar uma
coisa ou outra. Tinha também um certo tabu, coletivo, relacionado com a
condição animal e suas fezes. Até parecia que ninguém cagava nem mijava naqueles
tempos sombrios e horríveis daquela “cidadezinha” metropolitana e provinciana. Havia
segredos e suspeitas enormes e generalizados em relação a certos aspectos da
condição humano-simiesca (complexo de cocô: ninguém quer ser
animal; todo mundo só quer ser
“energia” espiritual).
Lembro que uma certa vez, no centro, ali no início da
Boa Vista, minha barriga começou a insistir com força e repentinamente pra
descarregar um material acumulado de uns dois ou três dias. A situação
realmente complicou. Muito aperriado, desci do ônibus, caminhei um pouco e
entrei na FAFIRE, decidido a ir direto pro banheiro. Mas o vigilante me parou na
portaria e pediu documentos. Mostrei a carteira de estudante do cursinho pré-vestibular,
e disse pra ele que estava indo na biblioteca. Ele não me deixou entrar, e me
mandou pra biblioteca da UNICAP, mas eu preferi caminhar um pouco mais, na
direção do banheiro público da Dantas Barreto. Tentem me imaginar caminhando
até o pátio de Nossa Senhora do Carmo com toda aquela bosta travada na beira do
cu, forçando impetuosamente. Que agonia. Mas eu consegui chegar lá, no pátio. E
corri direto pru banheiro público, que estava SUPERLOTADO, com muita gente
esperando na fila. Pensei: “tou ferrado,
vou fazer aqui mesmo, na frente de todo mundo”. Mas consegui agüentar
milagrosamente, suando frio, tremendo, e pensando que ia desmaiar. Foi um
alívio inenarrável quando despejei tudo, de cócoras, naquele cagador fedorento,
sujo e horrível, acocorado à moda cearense, em meio àquela catinga insuportável.
Escapei dessa, à beira do abismo, por uma peinha de nada, um verdadeiro milagre
(sangue de Cristo tem poder).
Na Livro 7, tudo era diferente. Havia três banheiros
masculinos “conjugados”, bem equipados, e sempre limpos, e “cheirosos”. Eu sentava
tranquilamente, relaxado, e despejava tudo devagarinho, numa relax, numa tranquila, numa boa. Depois da cagadinha, bem
tranquilo, sentava-me num daqueles banquinhos com algum livro pra ler à
vontade. Os vendedores nunca me perturbavam, nem perguntavam nada. No início da
década de 80, durante a minha rápida passagem pelo curso de agronomia da
Universidade Rural, eu costumava levar, pra Livro 7, dois “sandubas” numa
ponchete grande para um lanche rápido quando a fome batesse. E ficava lá
durante tardes inteiras, às vezes enveredando pelo começo da noite, quando ia
então tomar uma cachacinha no Beco da Fome. Minha pobreza extrema não me
permitia comprar livros, e as minhas opções de leitura eram a Biblioteca
Central e a gloriosíssima Livro 7. Li todos os clássicos na biblioteca, e fiz
muitas leituras atualizadas naqueles banquinhos divinos, inesquecíveis.
Nunca roubei um livro sequer naquele lugar onde os
roubos eram frequentemente praticados por “filhotes” da pequena burguesia
recifense intelectualóide. Por falar nisso, a minha convicção pessoal me diz
que a livraria faliu, principalmente, por causa dos roubos frequentes e da
velhacaria praticada pelos “clientes” nos cartões-de-crédito que, naquele
tempo, eram uma novidade começando a chegar na nossa metrópole provinciana e
“selvagem”. Acusar Tarciso de ter sido um empresário ganancioso e precipitado,
como outro qualquer empresário, seria um argumento frágil e tendencioso, uma
vez que o preço do livro-de-papel sempre foi majorado por todos os livreiros,
editores e atravessadores do Brasil. Ninguém é santo nesse país. E a indústria
do papel e do livro também não é. Então é uma falácia essa história de “atacar”
este ou aquele livreiro especificamente, quando o problema está em todo o meio
empresarial e social como um todo.
Mas o melhor mesmo daquele lugar eram os recitais,
palestras, debates, shows, encontros, “festinhas”, etc. Foi ali que eu vi, pela
primeira vez, o grande recitador Miró da Muribeca (um dos melhores do Brasil),
em 1985. E uma “performance” do sobre-humano baterista Israel Semente Proibida,
o melhor do mundo em todos os tempos. Foi ali também que conheci minha segunda
“esposa”, durante um recital poético indescritivelmente ensandecido (em 1993). Os
escritores independentes do Recife também fizeram daquele lugar um dos seus
“points” preferidos. Enfim: seria redundante e desnecessário enumerar detalhes
de tantas histórias e “loucuras” acontecidas ali: seria inutilmente repetir o
que todos já disseram, e o Recife inteiro sabe “de memória e salteado”. Para os
jovens leitores de hoje, quero apenas dizer que jamais esqueçam os tenebrosos
tempos dos quais temos escapado milagrosamente.
O resto é
literatura e “fricção”.
Zé de LARA, outubro, 2013.
O MAGO DA PARAÍBA
(depoimento do
amigo Zé de Lara)
É tanta complexidade, e tantas multipolaridades, que
eu nem sei por onde começar. Além do mais, estou cheio de dúvidas e incertezas
(falando sério). O lado orgânico mistura-se, “dialeticamente”, com o lado
psicológico, numa mistura estranha e estrambótica, muito difícil de ter as suas
diferentes facetas íntimas detectadas e “separadas”. E o inconsciente, coletivo
ou individual, é um “rizoma” terrível, insondável; incognoscível nas suas intimidades. Sem falar numa suposta
influência de “encostos”, os quais nunca devem ser descartados (a priori) no início de uma tentativa de "diagnóstico" (problemas de cristalização no perfil mental: carma individual?).
Uma possível pista seria o estágio sádico-anal, já
que uma das características principais desse caso de “depressão” seria o exercício
de poderes e maquinações sobre as fêmeas (destruição de corações, sexo
“pervertido” e talvez uma certa dosagem de misoginia sub-consciente). O
conflito interno, sub-consciente,
possivelmente estaria acontecendo entre o eixo “ego-sombra” e o eixo do “eu
superior” (talvez, talvez). A influência da desordem orgânica poderia estar
influindo diretamente também? Através do sistema endócrino ou do sistema
linfático? E aqui é praticamente impossível distinguir exatamente a dosagem de cada campo, seja mental, biológico ou
“espiritual”. Pituitárias, suprarrenais, tireóides, almas penadas, a febre do
rato, a bixiga lixa.
E tem também essa história da crise de meia-idade. Em
mim aconteceu também agora, aos 53. E a “depressão” é cíclica (tá sempre
voltando, e depende tanto de fatores internos quanto de fatores externos). Mas
pode ser que com o Mago a história seja outra, e não tenha nada a ver com a
crise da meia-idade. Ou então tá tudo junto e misturado, como dizem aqui no
Recife (seria uma mistura estrambólica mesmo).
Sem falar nas lembranças cruéis e horríveis da infância ou do período
intra-uterino (memória seletiva exercida através de exteriorizações e
“maquinações” do inconsciente?). Pode ser. Mas também pode não ser. E aqui
entra tudo o que tem a ver com a condição símio-humana, principalmente
exercício de poder e “perversões” várias (exercer poder é doce: o corpo fabrica
instantaneamente suas “drogas” de prazer “mental”). No caso dele,
principalmente um sado-masô bastante pesado, e sexo anal com mulheres bonitas e
gostosas: a coqueluche dos machos brasileiros (o que ele mais gosta de fazer é
comer um cuzinho no Recife: problemas com o estágio sádico-anal subconsciente?
as camadas profundas do “id” estão forçando, subconscientemente, a partir “de
baixo”, e de dentro, com muita força na consciência? o negócio “pervertido”
está inflando o eixo ego-persona? o “egoísmo” burguês nunca assumido está
botando pra quebrar a partir de baixo? o cara anda mentindo pra si mesmo? construindo
máscaras?).
Não consigo entender como um macho que come tantas
mulheres bonitas e gostosas possa estar com depressão. O cara só come “capas de
revistas” (tem um harém com umas trinta, mas a esposa não pode saber de nada: é melhor que ninguém fale nada). Quero
dizer: a digníssima família burguesa de João Pessoa não pode ficar sabendo nem
mesmo do mínimo detalhe de toda essa “fulerage” e putaria (de todos os tipos,
incluindo o vampirismo da “aristocracia” paraibana, uma das piores do planeta:
é bom não esquecer que o nobre Mago aparece para a puríssima família paraibana
como um homem muito sério). Gostaria muito que ele me explicasse como conseguiu
enganar a esposa durante esses anos todos, já que ela é pedagoga e antropóloga.
É muita merda no ventilador, espalhada nas ruas, porém invisíveis para certos
egos e personas (“merdas” gerais como contraparte “bipolar” inevitável da “luz”
civilizacional do ocidente: treva e claridade são uma coisa só, são uma díade:
pares de opostos, segundo o Jung).
Crise de consciência inconsciente? Medo da morte e de
punições “cósmicas”?
Ora, ora, ora.
Quanto às drogas, dou testemunho de que ele parou.
Inclusive tem controlado bem a gordura-trans, o açúcar refinado e a química
cancerígena (olha o mundo do Recife e de João Pessoa aí de novo: “Civilização
do Açúcar”). Quem me garante que esse imbróglio todo não tem algum efeito
retroativo de todas as drogas que ele usou na “juventude”? Isso também poderia
resultar num conflito interno-e-externo com
o puritanismo burguês e “bíblico” da sagrada família das
paraíbas (porém, como sempre, subconsciente, nele). Mas esse conflito nunca foi existencial nem político, pois o
digníssimo nobre paraibano sempre escondeu de todo mundo essa problemática
terrível e tenebrosa das profundezas do “cosmos” e do inconsciente coletivo
símio-humano (campo morfogenético?). E haja covardia existencial, política e
cultural. Ódios e rancores reprimidos? Ganância e “usura” descartadas para as
funduras repressoras? Irresponsabilidades juvenis nunca assumidas? Conflito do
“ego” coletivo paraibano com o coração “desapegado” do Mago? Medo do
além-túmulo? Medo do “ouro da sombra”?
Eu mesmo não
descarto, a priori, absolutamente nada; seja orgânico, genético, psicológico ou
“espiritual”.
Eu, hein?
01/10/13.
A polícia no campus da UFPE
Tou assumindo publicamente: sou a favor dos vigilantes
da universidade trabalharem armados, e sou também a favor da polícia no campus.
Sei que muitos
“libertários” e “esquerdistas” vão me acusar de traição. Mas há muitas nuances
problemáticas nessa questão da desmilitarização (proposta pelos “resistentes”),
e que são insuficientemente abordadas, ou padecem de uma abordagem unilateral, como
também uma dose de limitação perceptiva em facetas específicas, ou permanece eivada
de maniqueísmo mútuo e diabolização recíproca (poeta versus soldado; artista
versus gerente; “monge” versus sindicalista; hippie versus assalariado; etc).
Vou abordar alguns “pontos
de estrangulamento” dessa espinhosa questão da desmilitarização.
Nenhum país pode abrir
mão de suas forças armadas nem do seu serviço de inteligência, pois “aves de
rapina” e “vampiros” estão sempre de olho no melhor momento para atacar e
vampirizar. Então é preciso que estejamos sempre preparados para nos
defendermos quando for necessária a nossa “legítima defesa”. E todos os países
fazem espionagem, de um tipo ou de outro. Sempre fizeram. Não existe nenhum
país “bonzinho” que possa se dar ao luxo de abrir mão das atividades do seu
serviço de inteligência (tem sempre uma necessidade premente e inevitável).
O problema não é a
arma em si mesma, mas a cabeça de quem usa a arma. Nem é problema a presença da
polícia no campus, porque o imbróglio é a mentalidade e o tipo de práxis que
norteiam esses militares, e não eles em si mesmos, pois são necessários no meio
social. Precisamos dialogar e negociar com a banda boa (juntar forças com ela,
contra os bandidos propriamente ditos, de gravata ou fuzil). E precisamos
entender que a “formatação” de um bom profissional da segurança é tarefa
demorada e complicada. Será longa a fase de transição para mudar a
postura de “sustentáculo do Estabelecido” para a postura de “aliado do cidadão”
(a sociedade civil continuará sonhando
com esse dia glorioso). Mas será uma digestão lenta e complicada, feito uma
sucuri que engoliu um boi.
Há espíritos malignos
que só entendem a linguagem da violência (não entendem outra linguagem). E
também não há como, desarmados, neutralizarmos determinadas ações criminosas
desses “espíritos-de-porco” (roubos, estupros, assassinatos, torturas, etc). Aqui
podemos cair no equívoco intuitivo de endeusar totalmente a paz e demonizar
totalmente a violência (maniqueísmo e dicotomia). Nem sempre violência gera
violência: às vezes gera prevenção ou recuo (tou falando da “guerra” que é estritamente necessária).
Os guerreiros
profissionais precisam aprender a diferenciar entre os criminosos propriamente
ditos e um jovem “rebelde” ou artista “transgressor”. Isso é possível através
de uma boa capacitação educacional e cultural. Então que cada “batalhão” cuide
de enviar para o trabalho no campus universitário os seus profissionais que
sabem lidar com “artistas” e “intelectuais” (caso contrário, seriam
substituídos, e pagariam um preço por qualquer atitude “fora da lei”). E os
seus comandantes não deveriam enviar justamente os trogloditas e os fascistóides
para atuarem em ambientes acadêmicos e “artísticos”. (Troglodita para quem precisa de troglodita).
Esquerdistas e
libertários também têm as suas “falanges” aguerridas. O exercício da violência
nem sempre é prerrogativa exclusiva do Estado. Eu mesmo já perdi a conta das
vezes que fui ameaçado por leninistas, anarquistas ou individualistas (alguns
tentaram chegar nas “vias de fato”). E quem me garante que, duma hora pra
outra, um deles não vai tentar me matar ou me espancar gravemente? Quem me
garante? E não podemos esquecer o seguinte: militares são servidores públicos e
assalariados como outro qualquer trabalhador. São cidadãos e seres humanos como
nós todos. Também sofrem com os problemas específicos de sua categoria. Por que
deveriam ser diferenciados e estigmatizados? Eles têm a sua função específica,
e nós temos as nossas. Priu. O resto são embates dialéticos inevitáveis. E é
bom não esquecer que quem fez a revolução bolchevique foram proletários,
camponeses E soldados. O
exército anarco-comunista tinha muitos ex-soldados nas suas fileiras. O Brasil
teve experiências interessantes com o “tenentismo”.
E então?
E então?
Chega de maniqueísmos
e dicotomias. Na prática, o que existe é uma enorme relatividade atravessando os pares de opostos. As comunidades alternativas são divinas e os sindicatos são
demoníacos? Os poetas são divinos e os militares são diabólicos? Os artistas
devem ser divinizados e os gerentes devem ser demonizados? Os monges devem ser totalmente
endeusados e os guerreiros devem ser totalmente diabolizados? Os hippies serão
divinizados e os assalariados serão escrachados? O povo é perfeito e o resto é
defeituoso? Ora, garotos, convenhamos: projetar nossas limitações ou nossos defeitos
nos outros é tarefa fácil. Quem está vendo o cisco no olho do outro mas não
está vendo a “trave” dentro do seu próprio olho? EU?
zé de LARA-agosto-2013
Neo-ludismo
Depredar patrimônio público é
bobeira; e burrice na elaboração das
táticas. Vocês lembram dos ludistas
nos primórdios do capitalismo industrial? Pra quem não lembra, vou fazer um
resumo rápido: os caras eram, em sua
maioria, artesãos falidos por conta da concorrência com o maquinário das novas
indústrias emergentes a partir do final do século XVII na Europa
(principalmente na Inglaterra). Só que, ao invés de atacarem o capitalismo
nascente, eles quebravam as máquinas. Obviamente, esse tipo de revolta infantil
não surtia efeito. Servia apenas para os capitalistas acusarem-nos de baderna e
criminalidade, pra depois prendê-los, com o apoio da população “ordeira e
pacífica”, afundada no moralismo puritano e burguês.
Outra verdade: as lutas populares alternam períodos de ascenso e descenso, assim
como cada povo tem as suas características específicas (no caso do Brasil, por
exemplo, sempre tivemos um nível alto de conformismo, clientelismo, corrupção,
espertezas, egotismos, vampirismos, etc). É ancestral e endêmico (“carma”
coletivo tupiniquim). Então é preciso que sejamos inteligentes e lúcidos ao
avaliarmos determinadas conjunturas e suas especificidades multifacetadas. No
momento atual, temos novamente um período de ascensão das lutas populares. Esses
momentos devem ser aproveitados com muita inteligência e cuidado. Mas sem
precipitações desligadas do realmente existente. (Lembrem-se do puxão de
orelhas que o Lênin deu no Bela Kun, por conta daquela tentativa
“revolucionária” suicida na Polônia.
E também temos o caso de Rosa Luxemburgo.
Se eu fosse Rosa, não teria acatado o centralismo da Liga Espartaquista naquele
contexto desfavorável da Alemanha na
primeira metade do século Vinte).
Mas há outros problemas: o risco de uma ditadura civil, por
exemplo. Um novo Getúlio. Setores da burguesia alagoana chegaram, recentemente,
a “investir”, de forma capciosa, nessa possibilidade sinistra. Não deu certo.
Mas quem nos garante que isso não poderia acontecer? Quem seria o novo Getúlio?
O “CNB”? A oposição "de direita"? A oposição "de esquerda"? Quem me garante que qualquer
desculpa não poderia ser usada para uma nova ditadurazinha, dessa vez
encabeçada por um civil? (Vejam os casos do Paraguai e do Egito. E até uma tentativa “real” na Venezuela).
Sabemos que havia gente da
“VELHA” direita e também neo-fascistas infiltrados nas recentes passeatas para
incentivar depredações, brigas, espancamentos, incêndios, derramamento de
sangue, etc, com o objetivo capcioso de levar as massas para o suicídio
“revolucionário” desmiolado e desvinculado da verdadeira realidade conjuntural. E havia também os “ingênuos” e
despolitizados (massa de manobra, inocente útil), além dos novos individualistas,
inimigos de todos os partidos, com o seu anarquismozinho de “meia-tigela”, e os
seus sonhos insanos de que é possível generalizar a autogestão, a curto prazo, num país terrível como o
nosso (desajuste tático). A maioria é filhote da baixa-classe-média que teve o
seu poder aquisitivo diminuído nesses últimos anos de meras esmolas, bolsa-estupro
e esquemas centristas à direita, porém escroquemente disfarçados de “nova esquerda”.
Tem também aquelas “borboletas” coloridas que adoram aparecer em fotos e
vídeos. Indisfarçavelmente egóticos. Estão apenas interessados em “brilhar”
individualmente. Bela fauna, e bela flora também.
Os partidos verdadeiramente de
esquerda, “incuravelmente” isolados, em sua maioria ainda presos ao velho marxismo
unilateral e radicalóide, passaram a pensar que, FINALMENTE, chegou o momento
da revolução tupiniquim, de repetir a velha fórmula bolchevique para todos os casos, todos os países, todas as individualidades. ILUSÃO TREDA! (já dizia o poeta maior). E não são poucos os que
partem pro “suicídio” do ataque frontal, arrastando consigo uma parcela da
população desavisada, acreditando piamente que o momento da “revolução” chegou.
Que o momento da “ditadura” dos assalariados chegou.
Sejamos lúcidos mais uma vez: conquistar e manter poderes é a
tarefa mais difícil que existe. Não basta invadir salinhas e quebrar computadores
do serviço público. Ou espancar quem pensa diferente da gente. Ou esculhambar a
esposa do governador nas ruas e praças (“fulanizar” a discussão). Ou demonizar
os policiais que estavam apenas exercendo o que a sua profissão exige deles (os
daqui de Pernambuco deram uma lição de inteligência
ao usarem faixas nos braços com o nome PAZ, inscrito nas mangas das fardas, e
ao usarem a violência apenas no momento em que foi estritamente necessário). Projetar é fácil. O inferno são os outros.
Vou repetir: no caso específico do
Brasil, uma tomada de poder ao estilo bolchevique, ou do exército negro de
Makhno, é “praticamente” impossível.
Aqui, nas searas tupinambás, nada resta senão tentar uma estratégia do tipo “homeopática”,
de acúmulo progressivo de pequenas conquistas graduais e circunstanciais, até o
aparecimento de um momento mais favorável para um salto mais profundo. Isso
implicaria, obviamente, que não passaríamos por uma fase de “ditadura do
proletariado”, mas por uma fase de “estado de bem-estar”, progressivamente,
paulatinamente, para o caso específico
do Brasil.
Quanto à destruição das máquinas,
tenho a convicção pessoal de que essa atitude insana mais atrapalha do que
ajuda as lutas gerais. Precisamos e devemos nos esforçar para aumentar o nosso
nível de autotranscendência, visão geral e capacidade de administração pessoal
para que sejamos capazes de usar as máquinas e “robôs” para o bem comum, sem
deixá-los nos dominar, nem nos impedir de distribuir renda, poder, terra,
conhecimento, etc. Tenho dito, aos
jovens da atualidade, que doem computadores às escolas municipais, ou aos
postos de saúde dos subúrbios, ao invés de quebrá-los e incendiá-los.
Tenho dito. E REPETIDO.
Zé de LARA, 7 de JULHO de 2013.
ELEIÇÕES GERAIS DE 2014
O Brasil não é a Venezuela: são realidades diferentes. Talvez, na Venezuela, nesse momento atual, seja possível avançar mais rápido através de uma estratégia “radical”. Mas, no Brasil, o mais lúcido seria mesmo uma estratégia etapista, costurada através de acordos pontuais e táticos com setores da centro-esquerda e alguns partidos de esquerda menos “radicalóides” e menos ortodoxos, em torno de um programa mínimo circunstancial (que seria mínimo MESMO, e não maximalista “recauchutado”). O avanço na direção do socialismo propriamente dito, no Brasil, ficaria temporariamente suspenso, enquanto o acúmulo de forças e reflexões “teóricas” continuaria paulatinamente (isso não descarta, obviamente, os diferentes tipos de luta: greve, passeata, intervenção, panfletagem, abaixo-assinado, etc) . O problema maior, aqui, seria identificar quem realmente é de centro-esquerda: quem está verdadeiramente interessado em implantar um “estado de bem-estar tupiniquim”, os verdadeiros progressistas, pois os simulacros e fingimentos são muitos.
As cooptações se ampliaram (aprofundaram-se), e a maioria dos discursos "de esquerda" tem sido apenas um falatório “da boca pra fora”, e a maior parte do povão afundou “definitivamente” no assistencialismo clientelista, cínico, covarde: aperfeiçoado e aprofundado pelo campo majoritário petista, com os seus espertíssimos aliados eventuais, “voláteis” (velha estratégia sorrateira: fazer caridade para não fazer "transformação" social). E diante de tantos imbróglios no nosso Brazil da Febre do Rato, parece que resta-nos apenas tentar mapear, no escuro, quem está e quem não está realmente interessado em pequenos avanços democrático-populares, minimamente à “esquerda”, nesse momento atual. “Tá escuro, mas eu canto” – já dizia o poetinha do qual não estou lembrando o nome aqui.
Tou no meio de um tiroteio na escuridão quase-total, onde todo mundo está usando capuzes e armas pretos, e roupas escuras.
Vamos dar nomes aos bois. Chega de conversa teórica. O jogo aqui é aberto.
Se eu fosse Marina, modificava esse papo de ecologia profunda, porque esse “papo” não encaixa nos pressupostos culturais do fundamentalismo bíblico, dessa “contradição” pessoal que ela tenta desesperadamente esconder dos formadores de opinião que não rezam na cartilha de um velho patriarca moralista e conservador, conhecido nos meios “igrejeiros” com o pomposo nome de “Javé dos Hebreus”. Melhor seria jogar aberto e falar honestamente o que ela REALMENTE pensa e planeja. Quanto à “igreja marxista ortodoxa” e aos “fascistinhas vermelhos”, que se cuidem; pois estão, a cada dia que passa no nosso século atual, perdendo votos e apoios: mesmo assim, estão cada vez mais "delirantes".
O povo brasileiro é um camaleão interesseiro; insondável nas suas intimidades e inabarcável na sua ultracomplexidade. Tudo pode acontecer, qualquer coisa mesmo: uma guinada pra direita propriamente dita, uma estagnação num centrismo qualquer, um pequeno aumento nos votos da esquerda mais lúcida, o caos, a “peste”, o estopor-calango, a febre-do-rato, etc, etc. Qualquer coisa mesmo. (E eu aqui sonhando com a mistura entre distribuição de renda e liberdade individual. Correndo riscos jurídicos ao insistir em dar nome aos bois. Até parece que o delirante sou eu.)
Mas vamos aos nomes.
Pra mim, os dois caras mais interessantes, atualmente, são o Leonardo Boff e o Marcelo Freixo. Tem também Albanise Pires (aqui em Pernambuco). Mas eu não assinei contrato de exclusividade com o PSOL, nem tenho planos de assinar, nem prometi fidelidade. Além do que, duma hora pra outra, a ala ortodoxa e radical, do PSOL, pode tornar-se hegemônica novamente dentro do partido, com o seu VELHO marxismo unidimensional e desconectado da realidade concreta tupiniquim. E o meu peito selvagem de poeta “maldito” nunca gostou de cabrestos.
Continuemos com os nomes.
João Paulo Lima (PT) e Eduardo Campos (PSB) parecem-me estagnados num centrismozinho à direita. Parece que já não têm mais nenhuma “veleidade” daquela pequena distribuição de renda que o Arraes promoveu aqui em Pernambuco no seu primeiro governo (o último governo Arraes foi aquele “desastre” que a pouca massa crítica pernambucana sabe que foi).
Enfim: depois de 52 anos de sonhos e delírios, sem conseguir botar os pés no chão, parece-me que resta apenas, aqui no nosso Brazil da Gôta Serena, ficar desesperadamente procurando agulha em palheiro. Quem seriam as figuras e sub-setores de partidos da “centro-esquerda” que poderiam encampar pequenas mudanças paulatinas na direção de um “estado de bem-estar tupiniquim”? Formariam um novo bloco hegemônico? Ou atuariam “isoladamente”, mas de alguma forma que poderia trazer MUDANÇAS MÍNIMAS A MÉDIO PRAZO?
Mas vejamos outra lista de nomes (talvez ela aponte um mínimo de esperança a médio prazo):
Paulo Paim (PT)? Cida Pedrosa (PCdoB)? João Capiberibe (PSB)? Paulo Rubem (PDT)? Heloísa Helena (REDE), apesar do catolicismo igrejeiro? Randolfe Rodrigues (PSOL)? Roberto Requião (PMDB)? Alguém da ala "esquerda" do PTB?
Essa lista poderia trazer-nos alguma esperança, por mínima que fosse?
NÃO SEI. JURO QUE NÃO SEI. NÃO TENHO BOLA-DE-CRISTAL.
EU, HEIN?
zé de LARA, 3 de junho de 2013
THELEMA
Se fosse simples, seria simples. Se fosse fácil, seria fácil.
Mas vamos em frente.
Se Crowley e Raul estiveram envolvidos com magia negra numa fase de suas vidas, e os neodecadentistas aproveitaram brechas para implantar a sua “hegemonia” na seara contracultural, isso não quer dizer que a maior parte do campo da resistência alternativa seja hegemonizado por tipos autodestrutivos e decadentes (é óbvio). Na verdade, o decadentismo, dentro da cultura underground (como um todo), nunca foi exatamente hegemônico, mas exerceu uma grande influência durante uma determinada fase; e agora está voltando com uma roupagem de “nova decadência” (tenho a impressão, séria, de que uma parte da “mídia” investe nessa bosta autodestrutiva, com o objetivo capcioso de desviar a “energia” da juventude rebelde para posturas irresponsáveis e burras que tragam menos riscos aos pressupostos de poderes vampirescos da atualidade: é uma das formas de fragilizar os inimigos da injustiça sócio-ambiental, ou de fazer com que eles apareçam aos olhos da coletividade como meros drogados que praticam sexo inseguro a torto e a direito, além de praticar, também, golpinhos e rasteirinhas dentro do seu círculo de conhecidos).
Mas ele, o novo decadentismo, não passa de um simulacro “underground” dentro do campo amplo da herança contracultural: um simulacro de poeta maldito, irresponsável, ou algo assemelhado; uma tentativa de usurpação “ideológica” no mundo da resistência cultural “independente” (um escrotíssimo chavão de suicídio branco, exercido em nome de uma concepção de liberdade individual usurpada).
Eis a verdadeira frase do Crowley: “Faz o que tu queres, pois tudo há de ser do todo da lei” (havia, nesse esquema thelêmico dele, uma ênfase no autogerenciamento enquanto ferramenta “espiritual” para a administração psicológica dos “impulsos”). Os neodecadentes usurpadores das idéias do Aleister, com certeza, deturparam essa afirmação, na prática, para algo semelhante a: “faz o que queres, por pior que seja” (apoiam-se na bandeira da liberdade total como um factóide, e incentivam a decadência individual como uma arma contra a decadência coletiva, principalmente nas diferentes formas de capitalismo predatório ou nas variantes de moral burguesa normótica e puritana): como se isto fosse uma estratégia inteligente para combater as decadências gerais na coletividade. Obviamente estamos diante de uma burrice tática, ou de uma escrotice inaceitável, pra não dizer alguma coisa pior. Uma armadilhazinha mental para espíritos impulsivos, desavisados, estreitos, precipitados, e cheios de limitações perceptivas e culturais em geral?
Sei que muita gente, após ler esta crônica, vai dizer que eu estou cuspindo no prato que usei pra muitas comilanças. Mas pedras que rolam não criam musgos. Ninguém se banha no mesmo rio duas vezes. E eu não sou mais aquele jovenzinho desavisado que acreditava em certas prestidigitações “ideológicas” ou culturais, velha ou nova. Os tempos são outros, e eu acredito que estou evoluindo. Até porque não estou pregando a volta pra nenhuma forma de restrição às liberdades individuais ou direitos humanos. Estou apenas preocupado com os necessários limites que a gente precisa trabalhar e administrar no dia-a-dia da vida real, no trato pessoal, já que nas artes é preciso que haja mesmo a maior liberdade possível, com as raras exceções de locais e horários específicos para casos específicos e raros.
Outra merda: tem gente espertinha que confunde magia negra, no sentido geral, com a integração de “sombras” inconscientes, porém autotranscendidas e razoavelmente gerenciadas (sub-áreas do pólo negativo do inconsciente coletivo ou individual). Mas tem também algumas figuras ingênuas que engolem lábias pseudo-libertárias ou “neopentecostais” de certos bandidinhos individualistas ou egóicos, bem disfarçados de pequenos heróis da “resistência” ou da moralidade repressora com novas roupagens “purificadoras”. Não se trata de intervenções na liberdade pessoal de ninguém. Quem quer afundar na degeneração ética ou na autodestruição gradual, tem todo o direito de afundar, numa “boa”. Não serei eu quem vai interferir nessa “putaria” egotista. Porém me reservo o direito de discordar dos escrotinhos que fazem da cultura “underground” um argumento sorrateiro pra justificar os desvios decadentes ou o desgoverno perigoso de tantos jovens ainda despreparados para perceber algumas armadilhazinhas mentais escrôtas e venenosas. Sem falar que alguns desses escrotinhos escondem que são politicamente reacionários, quando são (às vezes é gente preocupada apenas com a fama ou o brilho pessoal; mas, por debaixo dos panos, reza na cartilha política de algum tipo de capitalismo predatório, parlamentar ou ditatorial, branco ou vermelho).
Alguns desses espíritos limitados e “espertos”, como acontece com boa parte da mentalidade ocidental, permanecem durante toda vida presos à oscilação entre extremos: não conseguem se “fixar” em posições intermediárias entre o extremo normótico-castrador e o extremo degringolado-autodestrutivo. E ainda querem atacar as figuras mais lúcidas que percebem essas fuleragens dualistas, ou simplesmente declaram como inimigos “ideológicos” aqueles que conseguem se “equilibrar” em posturas menos extremistas ou dicotômicas, de um tipo ou de outro.
É pra se lascar. E eu ainda tenho que me sentir na obrigação de prestar homenagens culturais e artísticas a esses merdinhas desgovernados, dissimulados e egóticos. Esses vampirinhos individualistas maldisfarçados.
Ora, ora, ora.
Mas vamos em frente.
Se Crowley e Raul estiveram envolvidos com magia negra numa fase de suas vidas, e os neodecadentistas aproveitaram brechas para implantar a sua “hegemonia” na seara contracultural, isso não quer dizer que a maior parte do campo da resistência alternativa seja hegemonizado por tipos autodestrutivos e decadentes (é óbvio). Na verdade, o decadentismo, dentro da cultura underground (como um todo), nunca foi exatamente hegemônico, mas exerceu uma grande influência durante uma determinada fase; e agora está voltando com uma roupagem de “nova decadência” (tenho a impressão, séria, de que uma parte da “mídia” investe nessa bosta autodestrutiva, com o objetivo capcioso de desviar a “energia” da juventude rebelde para posturas irresponsáveis e burras que tragam menos riscos aos pressupostos de poderes vampirescos da atualidade: é uma das formas de fragilizar os inimigos da injustiça sócio-ambiental, ou de fazer com que eles apareçam aos olhos da coletividade como meros drogados que praticam sexo inseguro a torto e a direito, além de praticar, também, golpinhos e rasteirinhas dentro do seu círculo de conhecidos).
Mas ele, o novo decadentismo, não passa de um simulacro “underground” dentro do campo amplo da herança contracultural: um simulacro de poeta maldito, irresponsável, ou algo assemelhado; uma tentativa de usurpação “ideológica” no mundo da resistência cultural “independente” (um escrotíssimo chavão de suicídio branco, exercido em nome de uma concepção de liberdade individual usurpada).
Eis a verdadeira frase do Crowley: “Faz o que tu queres, pois tudo há de ser do todo da lei” (havia, nesse esquema thelêmico dele, uma ênfase no autogerenciamento enquanto ferramenta “espiritual” para a administração psicológica dos “impulsos”). Os neodecadentes usurpadores das idéias do Aleister, com certeza, deturparam essa afirmação, na prática, para algo semelhante a: “faz o que queres, por pior que seja” (apoiam-se na bandeira da liberdade total como um factóide, e incentivam a decadência individual como uma arma contra a decadência coletiva, principalmente nas diferentes formas de capitalismo predatório ou nas variantes de moral burguesa normótica e puritana): como se isto fosse uma estratégia inteligente para combater as decadências gerais na coletividade. Obviamente estamos diante de uma burrice tática, ou de uma escrotice inaceitável, pra não dizer alguma coisa pior. Uma armadilhazinha mental para espíritos impulsivos, desavisados, estreitos, precipitados, e cheios de limitações perceptivas e culturais em geral?
Sei que muita gente, após ler esta crônica, vai dizer que eu estou cuspindo no prato que usei pra muitas comilanças. Mas pedras que rolam não criam musgos. Ninguém se banha no mesmo rio duas vezes. E eu não sou mais aquele jovenzinho desavisado que acreditava em certas prestidigitações “ideológicas” ou culturais, velha ou nova. Os tempos são outros, e eu acredito que estou evoluindo. Até porque não estou pregando a volta pra nenhuma forma de restrição às liberdades individuais ou direitos humanos. Estou apenas preocupado com os necessários limites que a gente precisa trabalhar e administrar no dia-a-dia da vida real, no trato pessoal, já que nas artes é preciso que haja mesmo a maior liberdade possível, com as raras exceções de locais e horários específicos para casos específicos e raros.
Outra merda: tem gente espertinha que confunde magia negra, no sentido geral, com a integração de “sombras” inconscientes, porém autotranscendidas e razoavelmente gerenciadas (sub-áreas do pólo negativo do inconsciente coletivo ou individual). Mas tem também algumas figuras ingênuas que engolem lábias pseudo-libertárias ou “neopentecostais” de certos bandidinhos individualistas ou egóicos, bem disfarçados de pequenos heróis da “resistência” ou da moralidade repressora com novas roupagens “purificadoras”. Não se trata de intervenções na liberdade pessoal de ninguém. Quem quer afundar na degeneração ética ou na autodestruição gradual, tem todo o direito de afundar, numa “boa”. Não serei eu quem vai interferir nessa “putaria” egotista. Porém me reservo o direito de discordar dos escrotinhos que fazem da cultura “underground” um argumento sorrateiro pra justificar os desvios decadentes ou o desgoverno perigoso de tantos jovens ainda despreparados para perceber algumas armadilhazinhas mentais escrôtas e venenosas. Sem falar que alguns desses escrotinhos escondem que são politicamente reacionários, quando são (às vezes é gente preocupada apenas com a fama ou o brilho pessoal; mas, por debaixo dos panos, reza na cartilha política de algum tipo de capitalismo predatório, parlamentar ou ditatorial, branco ou vermelho).
Alguns desses espíritos limitados e “espertos”, como acontece com boa parte da mentalidade ocidental, permanecem durante toda vida presos à oscilação entre extremos: não conseguem se “fixar” em posições intermediárias entre o extremo normótico-castrador e o extremo degringolado-autodestrutivo. E ainda querem atacar as figuras mais lúcidas que percebem essas fuleragens dualistas, ou simplesmente declaram como inimigos “ideológicos” aqueles que conseguem se “equilibrar” em posturas menos extremistas ou dicotômicas, de um tipo ou de outro.
É pra se lascar. E eu ainda tenho que me sentir na obrigação de prestar homenagens culturais e artísticas a esses merdinhas desgovernados, dissimulados e egóticos. Esses vampirinhos individualistas maldisfarçados.
Ora, ora, ora.
Zé de LARA
maio - 2013
comedoria de símbolos na tela e no palco
Assisti dois filmes com temática “beat” em 2012: “Na estrada”, de Walter Salles, e “Febre do Rato”, de Cláudio Assis. No geral, o cinema brasileiro é dos melhores do mundo, embora ainda padeça de algumas limitações técnicas, “temáticas”, comerciais. Mas um grande público com visão crítica será formado apenas paulatinamente, a médio e longo prazos. Dependerá de fortes investimentos em infraestrutura popular e educação pública gratuita para expandir consciências. E sem distribuição de renda e PODER, nem ampliação perceptiva, desde a infância, dificilmente teremos este leitor médio diferenciado e já desenvolvido na entrada da juventude. Sem falar da manipulação emocional e lavagens cerebrais de tantas “mídias” e igrejas, ou o velho tráfico de influências ancestral e robustecido na atualidade. É dose pra mamute. Cunhão rôxo até umas horas.
Mas eu quero mesmo é falar de caricaturas e estereótipos, de todos os tipos. Clichês. Chavões. Mitos gerais. De novo. Mais uma vez de “revestrés” novamente. É, sim, pois estamos lidando com símios humanóides e as suas inevitáveis derrapagens características. E as mitificações e caricaturas vicejam em todos os campos culturais (no sentido geral), e não apenas naquelas áreas onde há diferenças “ideológicas” em relação às nossas convicções pessoais ou estilos de vida. Gandhi tinha defeitos? Tinha. Zumbi tinha defeitos? Tinha. Guevara? Tinha também. Osho? Também tinha. Lennon? Idem. Dali? Ibidem. Ginsberg? Também. Gonzagão? Oxente. Tibiriçá? Vôte. Selassiê? Vixe.
Vamos botar dentro do tutano das nossas cabecinhas mitificadoras e “manipuladoras”, de uma vez por todas, o seguinte: estamos lidando com criaturas humanas, e não com semi-deuses cuja perfeição e “santidade” são intocáveis. Cabe a nós aprendermos a separar o joio do trigo, para assimilar este e neutralizar o primeiro quando fizermos as nossas “misturebas” e “sinergias”.
Mas voltemos para as telas e palcos: há uma dosagem alta de caricatura “contracultural” nos personagens do filme “Febre do Rato”. No caso de “Na estrada”, a dosagem é menor. E foi justamente aí que o Walter acertou mais que o Cláudio: na humanização dos seus personagens, ou seja: diminuiu a dosagem de estereotipia “underground”. Portanto sentiu-se mais livre para evidenciar, inclusive, algumas qualidades pessoais na seara “beat”, além de erros também, mais que humanos, de certos personagens da sua “película”: determinadas falhas específicas do mundo “alternativo” e da cultura “marginal”, sem deixar de enfatizar, também, detalhes positivos de outras “personas” (há notícias sobre um suposto machismo beat). Mas nem tudo é negatividade no mundo beatnik. Há várias passagens dos dois filmes que confirmam o que estou dizendo (no geral):
- A excessiva demonização dos policiais. Ninguém é melhor ou pior que ninguém, a priori. O poeta não é, a priori, nem melhor nem pior que o guerreiro (estou repetindo, já disse isso em outros escritos). Na prática, na vida real, o que temos é uma relatividade geral.
- As atitudes de bandidinho individualista do Neal Cassady (a partir do momento em que rouba a carteira de Kerouac, que estava doente nos confins do México; por falar nisso, gosto de dizer que o “sonho” acabou ali, “duas” décadas antes do Lennon dizer publicamente a sua frase famosa).
- Nem todos os poetas têm o mesmo pendor para o “suicídio” branco do “personagem” Zizo ou para certas “aberrações” sexuais (incluindo o “modess” manchado de sangue). Portanto, não devemos, precipitadamente, generalizar conclusões neste quesito específico. Tou falando, obviamente, do mito caricatural do poeta “doidão” e autodestrutivo (porra-louca, bicho-grilo, “aloprado”).
- Instauramos limites temáticos quando “trabalhamos” as transgressões num nível exclusivamente comportamental ou existencial, evitando aspectos e abordagens mais tendencialmente “classistas” (até certo ponto, no sentido geral, com espaços abertos para outras variantes, e não num sentido exclusivamente calcado na ortodoxia marxista), mesmo que circunstancialmente apenas. Poderíamos enfrentar, também, reduções culturais decorrentes da transferência de nuances de um contexto para outro contexto, por exemplo. Porém o mais importante seria evitar os diferentes tipos de reducionismos, compartimentos “rígidos” e limitações temáticas (até onde for possível, deixando sempre o campo aberto para a liberdade individual, obviamente).
- Uma ausência de ênfase em personalidades menos desequilibradas ou “aberrantes”; quero dizer: minimamente “saudáveis”. (Por que fala-se tanto em Neal Cassady e Herbert Huncke, mas tão pouco em Gary Snider ou no alcoolismo reacionário de Kerouac ou na politização à esquerda do Ginsberg?). Será que a autodestruição individual (“suicídio branco”) ou a mera escatologia existencial (“despolitizada”) estão sendo usadas pelo Poder Estabelecido como um “álibi” sorrateiro para desviar de outros detalhes mais diretamente “perigosos” para o neo-capitalismo atual? Tou perguntando, e não teorizando.
- O “descarte” ou secundarização de alguns lados da questão, nos dois casos, mormente “sub-áreas” culturais ligadas aos esforços pessoais de autogerenciamento do ego, ao ambientalismo anticapitalista e ao combate a pendores “dogmáticos”, compartimentais ou pasteurizadores em vários campos “ideológicos”, incluindo algumas sub-áreas da herança alternativa, libertária, marginal, underground, etc
Pois bem: como eu disse no segundo parágrafo, todos os campos culturais têm os seus mitos e estereótipos “inquestionáveis” (normatizantes ou “às avessas”). Do Oiapoque ao Chuí. Da Escandinávia ao sertão nordestino. Sendo assim, existem sujeitos que não são seres humanos, são chapéus-de-couro, “arreios”, gibões. Outros não são símios hominídeos, são superdoutores. Já outros são artistas muito superiores a nós, pobres mortais; e portanto não são criaturas humanas, ou melhor: não têm os defeitos típicos desta referida criatura, pois estão pairando superiormente acima dos outros símios humanóides. Convenhamos: estamos diante de uma “aberração” tragicômica. E os clichês e chavões, de um tipo ou de outro, “positivos” ou negativos, com seus diferentes simulacros, são usados pelos poderes estabelecidos como “ferramentas” capciosas para impedir ou reduzir a expansão da consciência e da visão crítica. Portanto, não seria aconselhável “transfigurar” verdades sombrias de vários tipos, macerando, ou esconder defeitos de ninguém, seja quem for, urbano ou rural, canônico ou alternativo, hegemônico ou minoritário. Nem em nome da arte, nem em nome de “ideologias”, religiões ou estilos de vida ou convicções pessoais.
Que as telas e palcos não obscureçam nem minimizem nem “transfigurem” determinados detalhes das verdades nuas e cruas, de um tipo ou de outro.
Roguemos. Oremos.
Zé de LARA
( janeiro 2013 )
Batalhas cósmicas
“A guerra é a mãe de todas as coisas”, já dizia o mestre Heráclito. O devir é filho da luta de contrários. As contradições são parteiras de mudanças. A paz é apenas um intervalo entre duas guerras. Galáxias devoram galáxias, num canibalismo cósmico inverossímil. O nosso sistema imunológico promove uma guerra cotidiana dentro dos nossos corpos (sem essa guerra, estaríamos mortos, nem existiríamos). Os “deuses” também guerreiam entre si (campos cósmicos, com capacidade cognitiva e de interferência na matéria densa, disputam a “posse” de planetas e criaturas: a Terra é uma “colônia”). Os animais, em batalhas épicas, disputam comida, fêmeas, poder, territórios. No mundo subjetivo e psicológico, nas camadas profundas da psique, setores do inconsciente disputam a hegemonia dentro da estrutura mental de cada um de nós, através de incontáveis “maquinações” sutis, porém invisíveis.
Coitadinhos dos pacifistas no meio desses tiroteios generalizados. São presas fáceis para os vampiros de plantão. Vejam o caso do Tibete: a China o invadiu justamente no momento em que ele estava mais frágil, incapaz de exercer o direito de legítima defesa. O discurso pacifista é válido apenas para os desavisados, os ingênuos, os voadores. E os “vampiros” sabem muito bem disso, e incentivam essa ingenuidade com cara de bonomia. Assim fica mais fácil encontrar sangue pra ser sugado. Fica mais fácil dominar, controlar, explorar. E então é preciso esconder determinadas verdades; repetir simulacros e factóides. Disfarçar. Manipular. Desviar. Deturpar. Jogar certas verdades pra debaixo do tapete, e empurrar o resto com a barriga. A “normose” coletiva que o diga.
Vejam Javé, por exemplo. Ele não era o primeiro “deus” de Canaã. Chegou num tempo em que já existiam outros deuses na Cananéia (El, Baal, Asherat, Anat, etc). Chegou com os semi-nômades do deserto. Infiltrou-se e, logo depois, começou uma disputa interna. Abriu a “guerra civil” e ganhou a “guerra civil”. Depois implantou o seu poder despótico (“não há outro deus além de mim”). Mas esse “Javé dos Hebreus” não é o único guerreiro “cósmico” que faz discursos de caridade e misericórdia. Nem é o único que derrama o sangue dos filhos de seus inimigos. Há registros de guerras “cósmicas” na maior parte das cosmogonias e mitologias. A Bíblia, no Gênesis, começa com uma guerra no “céu”. O Bhagavad-Gita também começa com uma batalha. Entre os sumérios, os deuses parecem “astronautas” guerreando no espaço. Até armas “atômicas” esses deuses possuem. Nas cosmogonias africanas, o “cacête” também é pesado. Idem nas mitologias germânicas e nórdicas. Várias tribos ameríndias impunham os seus deuses aos povos conquistados. Os astecas arrancavam o coração dos inimigos capturados e o ofereciam, ainda pingando sangue, aos deuses do panteão mexica. A maioria das deusas também são guerreiras (deusas da vida e da morte, do amor e do ódio: são bipolares). O Alá, vocês sabem, eu nem preciso falar dele, de tão aguerrido e “ditatorial” que ele é (revela-se assim, mostra-se assim, mesmo que assim não seja em todas as variantes de islamismo: é “bipolar” também, portanto). Tudo isso sem falar de pequenos “semideuses” que também guerreiam, e muito.
Desentrenhado de simpatias pessoais religiosas ou “igrejeiras”, o que quase sempre acaba dando no mesmo, eu reconheço que estou completamente perdido no meio desse gravíssimo tiroteio generalizado na escuridão “cósmica”: escuro profundo, insondável, “cabeludão”. Imbatível areia movediça de estranhíssimos atratores fazendo suas vítimas sem deixar vestígios. Sem cura mesmo. E eu ainda tenho que carregar nas MINHAS costas a maior parte desse pêso de culpa e morte? É foda. É pra se lascar (convenhamos e reconvenhamos). A conclusão é óbvia: a violência é um dado inextirpável da condição humana e terráquea (tou repetindo). O soft humano e terráqueo é assim. Não sabemos o porquê, nem qual o “arquiteto” que o planejou. Mas sabemos que É assim. TODOS os hominídeos são assim. E até os “campos” cósmicos, que o homem comum chama de “deuses”, também guerreiam entre si. As evidências são muitas, e óbvias. Heráclito sabia. E Lao-Tsé também.
Nenhum deus é eterno. Apenas o nada é eterno. Deuses vêm e vão, são aves de verão – os poetas já disseram. Deuses vencem e substituem outros deuses. E alguns até se modificam no decorrer dos tempos (evoluem). São fases cósmicas. Tempo de um, e depois de outro. Ninguém vence todas as batalhas. Ganha-se umas e perde-se outras. É sempre assim. Só os pacifistas absolutos não vêem a alternância e a síntese de contrários. E querem a si mesmos como absolutamente puros, sem jamais usar a violência em qualquer dosagem, mesmo que seja estritamente necessária. O destino destes “voadores” é tornarem-se presa fácil para os vampiros de plantão. Incapazes de exercerem o seu direito de legítima defesa. São seres incompletos: uma moeda com apenas um lado, e sem bordas. Não sabem administrar as necessárias dosagens de violência, quando necessárias. E ainda acham que essa dicotomia unilateral é uma grandeza espiritual. Quantos cultivam um puritanismo maniqueísta acreditando que há um avanço perceptivo nessa postura “capenga”? Quantos acabam afundando em algum tipo de postura unidimensional e castradora?
Eu, hein?
janeiro 2013
O NOVO MOMENTO DA RESISTÊNCIA “ALTERNATIVA”
E SUAS DIFICULDADES E COMPLICAÇÕES
São muitas as evidências de que, nestes primórdios do século XXI, no Brasil, estamos entrando em um novo momento da resistência “alternativa” em geral (étnica, existencial, cultural, sexual, política, ecológica, etc). Este novo momento caracteriza-se por uma razoável assimilação de muitas bandeiras da referida resistência, ou seja: em contextos anteriores tínhamos um nível muito baixo de aceitação e “digestão” dessas bandeiras. O contexto atual é diferente: nele existe um nível bastante razoável de espalhamento e “aceitação” das referidas bandeiras de luta. Mas existe um aspecto, dos mais recentes, que está evidenciando-se bastante problemático: um certo clima de “imposições” precipitadas que, frequentemente, desemboca num determinado pendor para o maniqueísmo ou “demonização” da diferença, ou até mesmo para decidir tudo a partir “de cima”, assemelhando-se, muitas vezes, a alguma variante de “despotismo” esclarecido. Tal postura tem resultado em inseguranças e desconfianças em muitas pessoas que sempre apoiaram, de uma forma ou de outra, as diferentes bandeiras de luta da resistência “alternativa” (em geral). Algumas dessas pessoas, bastante decepcionadas com a nova postura “ditatorial” e maniqueísta dos resistentes, começam a pensar seriamente na possibilidade de afastar-se do campo de luta; e até mesmo, em alguns casos mais graves, a retirar seu apoio às ditas “bandeiras”.
Vamos aos fatos.
Determinado tipo de poder exercido não é prerrogativa exclusiva de quem tem pele branca, ou de heterossexuais, ou de ocidentais, ou de “normóticos”. É um problema de todas as criaturas humanas, de toda a humanidade. Além disso, ainda temos uma enorme relatividade na maioria dos casos. Por exemplo: há quem seja transgressor no campo sexual, mas é conservador no campo classista. Ou vice-versa: transformador social, mas conservador “epistêmico” (secundarizam a expansão da consciência). Há também aqueles que estão, “sorrateiramente”, interessados apenas em substituir uma hegemonia por outra hegemonia. É a velha história do oprimido que vira opressor (quantas vezes já assistimos esse filme?). Quero dizer: estes não estão lutando por igualdade. Estão lutando para “trocar a chibata de mãos”, como diz a tão decantada sabedoria popular (se eu estou lutando por igualdade, e eles estão lutando apenas para alternar poderes, então obviamente estamos lutando por objetivos diferentes: portanto somos de campos ideológicos diferentes). E existe ainda os oportunistas e os arrivistas, que estão sempre do lado do “bloco” hegemônico em cada contexto, seja ele qual for. Pois lhes interessa prioritariamente barganhar dinheiro e cargos de mando; e pra isso eles reproduzem qualquer tipo de discurso. Há também os ingênuos, excessivamente sonhadores: presas fáceis para manipuladores de plantão. E aqueles que não conseguem sair do clima mental maniqueísta, e estão sempre oscilando de um extremo para outro extremo. Enfim: estamos em meio a uma “fauna” bem diversificada, e seria muito precipitado, e perigoso, assumirmos posições unilaterais em nome deste ou daquele “sonho”.
Seria muito triste, bastante lamentável, se acontecesse que setores maniqueístas, estreitos, unilaterais, “ditatoriais”, vingancistas, etc, viessem a se tornar hegemônicos na área da resistência “alternativa” em geral. Seria um retrocesso. Por exemplo: se, em nome da luta anti-homofóbica, algum setor heterófobo chegasse a se tornar “majoritário”. Ou se, em nome da luta anti-racista, acabasse acontecendo uma diabolização de todos aqueles que têm pele branca, ou roxa, ou amarela (seria racismo também). Ou se, em nome do “feminismo” radical, todos os machos fossem diabolizados, perseguidos e enviados para “fogueiras”. Ou ainda se, em nome da ecologia profunda, todos os “racionalistas” fossem fuzilados. ETC. ETC. ETC.
Por falar em maniqueísmo, já tem gente propondo o fim das transmissões de luta-livre na TV aberta. Por que são maniqueístas? Porque demonizam totalmente a violência e endeusam totalmente a paz. Diabolizaram os coitados dos galos-de-briga (eles são NATURALMENTE grandes guerreiros: são o que são, apenas isso). A quem interessa todas as demonizações unilaterais? Será que é àqueles que investem na incapacidade de autodefesa popular? Ou trata-se de mentalidades que padecem de sérias limitações perceptivas e querem impor essas limitações para a coletividade? Sou tentado a admitir qualquer possibilidade explicativa diante de tamanha inversão. Inclusive o excesso de sonho e ingenuidade. Serão “censuradores” inconscientes? Por que não regulamentar a luta-livre e definir horários para a sua exibição? A violência é um dado inextirpável da condição humana. A nós, humanos, resta somente tentar aperfeiçoar atenuações e autogerenciamentos, ao invés de, absurdamente, querer extinguir o inextinguível. Aliás, uma Terra exclusivamente e eternamente pacífica, além de ser uma utopia irrealizável, seria também um estado “vegetativo”, um lugar habitado apenas por seres unidimensionais, repetitivos, nefelibatas, patéticos, limitados, incapazes de se defender quando é necessário se defender. Uma moeda com apenas um lado. Já dizia o poetinha Valmir: “Prefiro o brilho dos punhais a essa paz dominada pelo medo”.
E no meio desse “borogodô” horrível, tem também o pendor para decidir tudo de cima pra baixo. Por que não fazer referendos e plebiscitos? Por que decidir tudo através de câmaras, congressos, instituições ou comissões de “iluminados”? Por que não entregar ao povo a responsabilidade de decidir? Se o povo errar, teremos então um erro da maioria, ou seja: poderemos argumentar que fomos democráticos ao invés de elitistas, ou mesmo déspotas “esclarecidos”, donos da Verdade. Eu não tenho medo de ser confundido com um inimigo da herança “alternativa” ou “libertária”. De ser chamado de “neo-con”. Ou de ser atacado por feministas “ensandecidas”, ou heterófobos “ditatoriais”, ou ecoxiitas, ou por novos tipos de “racistas”, ou qualquer espécie de maniqueísmo ou estreiteza ou dicotomia. Vou manter minhas convicções pessoais. Vou continuar lutando corajosamente contra qualquer tipo de “microfascismo”, ou de castrações e restrições, assim como tenho lutado corajosamente contra todos os tipos de opressão “tradicionais”.
Outro problema: ver os defeitos do inimigo, mas não ver os defeitos de si mesmo. Isso ocasiona sérias limitações no campo de batalha (já diziam os melhores estrategistas, os mais sábios). E se eu faço esse alerta, se eu tenho a coragem de fazer esse alerta, logo aparecerão cabecinhas unilaterais e estreitas para me condenar à fogueira da “inquisição” de mais um “novo” maniqueísmo. Por exemplo: ver os defeitos da burguesia, dos políticos e dos militares; mas não ver os defeitos do povo, dos artistas e dos “intelectuais”. Assim é fácil. Como se uns fossem perfeitos, e os outros fossem defeituosos. Projetar é fácil. Difícil é olhar para dentro de si mesmo e ver as suas “areias movediças”, os efeitos colaterais de egotismos “às avessas” e estreitezas perceptivas com roupagens transgressoras. Não sou inimigo das pessoas “normais”, não faço diabolização total da “normalidade”. As pessoais ditas “normais” também fazem parte da fauna diversificada. Têm todo o direito de também terem os seus espaços. De existirem e viverem do jeito que são. Sei muito bem que uma igualdade plena ou uma acomodação “perfeita” são quase impossíveis, mas vamos tentar encontrar as possíveis maneiras de acomodarmos nossas diferenças, ao invés de ficarmos cultivando maniqueísmos e demonizações mútuas, e planejando capciosamente “dominar” ou “prender” aqueles que pensam diferente, ou não se encaixam nos nossos pressupostos, ou têm a pele de uma outra cor, ou porque sou híbrido e o outro é “puro”, ou isso ou aquilo.
Não é mesmo?
Junho-2012GREVE NA UFPE 2012
Há novos fatos e evidências de que o momento é favorável para uma greve na UFPE, além de uma necessária urgência de barrarmos os cortes em direitos adquiridos e outros ataques aos trabalhadores da educação no âmbito federal (é necessário e urgente esboçarmos alguma reação aqui e agora). No entanto, é preciso avaliar a realidade concreta com lucidez, sem fórmulas fixas, com a mente aberta para diferentes ajustes táticos, se necessários (flexibilidade tática). A precipitação e o excesso de radicalismo podem estragar a festa. E é preciso, mais uma vez, discutir os diferentes tipos de greve para os diferentes tipos de contexto.
A realidade específica da UFPE é uma realidade onde o nível de conformismo-assistencialismo-clientelismo-cooptação (CACO) é um nível muito alto. A velha esquerda, dogmática, repetitiva, sem imaginação, que está acostumada a martelar chavões, frequentemente nega-se a admitir este fato, além de cometer o erro grave de subestimar o inimigo, ou empurrar as massas para um suicídio coletivo. Mas, apesar do conformismo crônico e do clientelismo ancestral, evidencia-se um momento bastante favorável para o início de uma greve na UFPE.
A meu ver, seria bem mais lúcido iniciarmos com uma greve parcial, a partir de meados de junho. Teríamos então, a partir do início de maio, uns quarenta dias para conversar com a base e avaliar a situação com lucidez, com os pés no chão, olhando bem claro para a realidade concreta, sem posições partidárias pré-fabricadas, e sem fórmulas fixas exaustivamente repetitivas para qualquer contexto. Se a evolução do momento atual apontar para a possibilidade de uma greve total, devemos aproveitar a oportunidade e parar totalmente a UFPE, mantendo obviamente os 30% exigidos por lei (não podemos desperdiçar esta chance). Mas... se a realidade apresentar-se desfavorável ou apenas razoavelmente favorável, podemos pensar na possibilidade de um recuo tático, ou de uma greve apenas parcial. E também o seguinte: as negociações com o governo não foram encerradas. Ainda há um canal para o diálogo, por mínimo que seja, e um calendário de negociações. E não podemos descartar, a priori, se não conseguirmos uma boa mobilização das bases, uma negociação em torno de “esmolas” e migalhas circunstanciais, se a resposta da base não for o bastante para uma greve forte e bem estruturada (é sempre uma questão de mudanças nas relações de forças, imprevisíveis).
A manutenção de uma greve exige um volume de trabalho enorme, hercúleo, um volume de tarefas sobre-humano. E é preciso, antes de mais nada, mobilizar amplos setores, fazer muitas reuniões setoriais, e conversar, conversar, conversar. Convencer. Explicar, explicar, explicar. Antes de pregar a revolução pra depois de amanhã. Antes de implantar a “ditadura do proletariado”. Antes de exercer o ódio pessoal contra Anízio & Cia. Enfim: esta é mais uma questão multifacetada e extremamente complexa. Ela não pode ser resolvida a curto prazo, apenas com alguns impulsos instantâneos da liderança “A” ou da liderança “B”. Da posição partidária “x” ou da posição partidária “y”. Com um ou outro mecanismo de manipulação ideológica, ou de dominação cultural. É preciso tentar captar o que a base está realmente pensando. Velhas fórmulas partidárias, vinculadas à ortodoxia marxista em geral, repetidas desde o Século Dezenove, não irão funcionar adequadamente após o confronto com as bases, com a realidade realmente existente. A velha tática de iniciar um período de mobilização instigando “irracionalmente”, e precipitadamente, as massas, pode não funcionar. Às vezes funciona, mas outras vezes não funciona, como foi o caso da greve do ano passado, onde fomos flagrantemente derrotados, por conta de erros táticos da velha “vanguarda”, impulsiva, precipitada, desmiolada, repetitiva e superficial (fácil é fazer uma avaliação conjuntural culpando exclusivamente as correntes sindicais governistas, mas sem ver os erros táticos e metodológicos das lideranças “radicalóides” e ortodoxas).
Outro problema: a avaliação feita sempre “por cima”, sempre infinitamente positiva. O que implica numa série de desvios avaliativos, como por exemplo:
1) Subestimação do inimigo, que está mais forte. Quando avaliamos que ele está fraco e nós estamos fortes, obviamente estamos cometendo um desvio avaliativo que pode trazer sérias consequências para as bases desavisadas (é sintomático o fato de que, durante a greve do ano passado, nos quatro meses em que a greve vigorou “oficialmente”, em nenhum momento foi feita qualquer discussão sobre o Decreto 1480/95).
2) A velha mania de prejudicar usuários de serviços públicos, como se isso fosse o auge de uma estratégia de luta que pode, por si só, trazer resultados e ganhos imediatos para a categoria. No caso da UFPE, uma greve prejudica principalmente os alunos e os usuários da saúde pública. E nós, grevistas, não podemos pensar apenas no nosso umbigo corporativista. Precisamos negociar com toda a comunidade universitária e popular. E se radicalizarmos “insanamente”, podemos perder o apoio de setores estudantis e populares. E com isso, obviamente, ficaremos mais fracos, relativamente isolados.
3) Atitudes anti-éticas: sonegação de informações, deturpação da realidade, manobras na mesa, “ditadura” do comando de greve (centralismo burocrático e excessivamente vertical). Tudo isso afasta cada vez mais as bases, que já estão extremamente impacientes com picuinhas pessoais e guerrinhas partidárias (é preciso jogar aberto e honesto, de forma lúcida e desapegada).
4) A incapacidade de elaborar um programa mínimo circunstancial, pois o velho programa máximo das velhas lideranças ortodoxas, e repetitivas, inviabiliza os acordos pontuais com os setores “centristas” e outros não-vinculados às orientações premeditadas das correntes sindicais em geral, ou das ideologias anacrônicas e estreitas (em outras palavras: mais atrapalha do que ajuda). É a infrutífera estratégia do TUDO OU NADA, que resulta sempre no “nada”, ao invés do “tudo”.
5) Ausência de horizontalidade e democracia ampla. Vamos admitir: decretar uma greve com apenas setenta pessoas numa assembléia, onde a maioria é constituída de aposentados, é, no mínimo, uma desfaçatez, uma falta de respeito para com o resto da base, constituída por um número de funcionários bem maior do que essa minoria vanguardista que aparece nas assembléias “viciadas” e cheias de manobras partidárias e ideológicas. (Por falar nisso, que tal aprovarmos antecipadamente os piquetes nas assembléias, ao invés das decisões antidemocráticas feitas exclusivamente no comando de greve?). Que tal fazermos um referendo para que a gente tenha uma visão mais ampla sobre o que a base está realmente pensando?
6) Uma percepção insuficiente do tamanho dos riscos que a categoria vai correr ao investir numa estratégia de confronto direto e radicalização excessiva contra um inimigo bem mais perigoso do que era em outros contextos diferentes. Isso pode resultar em murros em pontas de facas, em inúmeras consequências nocivas para os servidores desavisados, numa atitude suicida e irresponsável, capitaneada por estrategistas delirantes e desvinculados da realidade realmente existente.
7) Atitudes ilegais ou irresponsáveis. Os excessos, abusos e precipitações podem trazer consequências que, por sua vez, podem resultar em ilegalidades que, com certeza, serão usadas pelo nosso inimigo classista como argumentos para punições. Ou seja: agindo assim, estaríamos fornecendo, indiretamente, argumentos para que o “patrão” tenha motivos legais para justificar retaliações.
Concluindo: se o que existe realmente nas esferas governistas é uma mesa de enrolação, e não de negociação verdadeira, mesmo que sejam oferecidas apenas “migalhas” e esmolas, então isso justificaria uma luta “sangrenta”, já que determinados acordos são assinados mas nunca são cumpridos. Porém... tudo acaba dependendo da real disposição das bases, e não do umbigo partidário e ensandecido dos revolucionários e ortodoxos de plantão. Ou seja: da relação de forças concretas e reais, em cada contexto específico, e não das ideologias e delírios repetitivos dos impulsivos e precipitados militantes “profissionais”, estreitos e ditatoriais. Quanto a mim, se eu tiver certeza de que a realidade concreta não me é favorável, eu poderia, sim, negociar algumas esmolas ou migalhas circunstanciais, ou fazer um recuo tático em troca de um programa mínimo negociado, ao invés de pregar delirantemente a revolução total pra depois de amanhã, almejando sorrateiramente desestabilizar o governo “A” ou “B”. Quero dizer: eu assumo que estou sendo “esmoléu”, circunstancialmente.
01/05/2012
FIM DO SUPORTE, SUB-ARTE, PSEUDO-LITERATURA, ETC
Os detratores da pós-modernidade (como um todo) não conseguem ver a bipolaridade da condição humana. Mas esse clima psicológico unilateral, e maniqueísta, esse pendor mental para a compartimentação, não é exclusividade dos herdeiros da literatura canônica. Estamos cansados de saber que qualquer ser humano, sem exceção, tem prós e contras, qualidades e defeitos, aspectos positivos e aspectos negativos. Ninguém escapa. É a “normalidade” concreta. Outra coisa, que eu já repeti outras vezes nos meus escritos, é o seguinte: a pós-modernidade não é um movimento organizado; é apenas uma determinada fase da trajetória humana, extremamente multifacetada, multipolar. Nesse contexto específico emergiram, com força inusitada, determinadas nuances da existência humana que estavam numa espécie de “limbo” cultural, insuficientemente emersas ou abordadas, tanto de direita quanto de “esquerda”, tanto conservadoras quanto transgressoras.
Esse referido problema mental do pendor dicotômico e compartimental, crônico, esse do excessivo apego egótico a um compartimento cultural, em detrimento de outros campos artísticos ou culturais, pode “intoxicar” psicologicamente qualquer artista ou trabalhador cultural, de qualquer tipo. Atualmente, tenho enfatizado a importância das simbioses e sinergias entre os diferentes tipos de arte, sem a hegemonia exclusiva de qualquer uma delas, seja ela qual for: regionalista, alternativa, canônica, pós-moderna, engajada, etc, etc. Enfatizo, portanto, a sinergia entre elas, e não a “ditadura” de uma delas. Parece-me mais frutífera a sinergia entre as diferentes áreas culturais, na atualidade, e não o exclusivismo de uma delas. Também não vou, aqui nesta crônica, detalhar os diferentes tipos dessa ou daquela arte, ou os diferentes prós e contras desse ou daquele campo artístico. Me poupem. Essa missão fica para o digníssimo leitor.Quando jovens acadêmicos, grandes estudiosos da literatura (reconheçamos), apelam para alguma subespécie de “neo-rococó” sem conteúdo, como se isto fosse o auge da trajetória literária humana, e além disso passam a denegrir abertamente alguns outros tipos de prosa ou poesia, então estamos mesmo num momento histórico em que o caos e a loucura instalaram-se inevitavelmente. Foi-se o tempo em que os doidos passíveis de internação eram apenas alguns semi-loucos inofensivos como eu. Dessa vez, parece que endoidou tudo mesmo. Mas eu sempre torci pra que os “ensandecidos” herdeiros do cânone ocidental tivessem a coragem de falar honestamente, abertamente, sobre as suas mais fundas convicções artísticas ou ideológicas. Pelo menos, se for assim, jogaremos no claro, e não no escuro dissimulado. Chega de simulacros, não é mesmo?
Quando eu critico aspectos castradores do regionalismo e do populismo em geral, os matutistas não gostam. Quando eu critico nuances negativas da contracultura ou assemelhados, os transgressores não gostam. Idem para a herança canônica quando eu faço qualquer crítica aos engessamentos acadêmicos tradicionais. Idem para a literatura engajada, quando eu baixo o sarrafo nos pendores ditatoriais e panfletários da velha esquerda. Ou seja: cada tipo quer saber apenas do seu compartimento, da exclusividade de sua visão pessoal, da eliminação da concorrência. Mas todo mundo, pouco ou muito, tem a suas limitações, os seus defeitos, as suas “aberrações”, de um tipo ou de outro. Do pólo negativo ou do pólo positivo. Excesso de vida pode trazer a morte. E excesso de luz pode trazer a cegueira.
Sendo assim, não é apenas o campo alternativo que tem os seus charlatães. Todos os campos culturais têm os seus, de um tipo ou de outro. Quem tem a “obrigação” de identificar os charlatães de todos os campos é o público consumidor. Se o Estado não investe na ampliação da capacidade crítica de seus cidadãos, isso já é outra estória. Quanto a mim, posso garantir a vocês que não tenho mais esse pendor dicotômico dentro de mim. Que não faço mais pregação da hegemonia do campo independente ou marginal ou underground, ou o que for. Meu negócio agora são as simbioses e sinergias. Não sou mais aquele jovenzinho que acreditava que a sua convicção pessoal encerrava, em si mesma, todas as verdades e certezas. Rogo encarecidamente aos jovens de hoje que não caiam nessa armadilhazinha mental, seja qual for o seu tipo de convicção individual. Roguemos. Oremos. Para que os figurativos não queiram decapitar os intervencionistas, ou vice-versa. Para que os repentistas não queiram eliminar os acadêmicos, ou vice-versa. Para que os “alternativos” não queiram extinguir os novos engajados, ou vice-versa. ETC. ETC. ETC. Para que os diálogos e intersecções e interpenetrações prevaleçam. E a consciência das massas seja expandida e ampliada, no meio desse buruçu medonho, dessa acomodação de diferenças “ensandecida”. AMÉM.
Como eu disse, não quero mais esculhambar nuances específicas de cada área cultural, visando, sorrateiramente, denegrir totalmente ou eliminar a existência de determinado artista, fulano ou sicrano. O problema não é pessoal. É ideológico, cultural. Não quero desqualificar, in totum, a herança “marginal” porque nenhum poema-piada merece qualquer consideração avaliativa. Nem a herança acadêmica por causa do seu “neo-rococó” ultrarresistente. Nem os contraculturais porque gostam de drogas ou peidam publicamente. Nem os engajados porque têm visão de mundo limitada. Hoje eu sei que todos os campos artísticos têm as suas derrapagens e charlatanices, de um tipo ou de outro. Enfim: não vejo motivos para pregar a morte dessa ou daquela área ideológica ou artística. Oremos mais uma vez. Para que a inveja ou a “baba-de-Caim”, ou a divergência político-cultural, desse ou daquele artista, não se transformem em argumentos ou desculpas para implantar a “ditadura” desse ou daquele gosto, dessa ou daquela visão pessoal. Para que aquilo que vem direto do inconsciente coletivo, ou dos sinceros esforços das salas-de-aula, das violas ou dos “escritórios” ou dos guetos, não se julguem donos da Verdade Única ou se vejam eternamente como a opção principal em todos os contextos. Vamos neutralizar os egos e suas pulsões excessivas, doutorais ou não. Regionalistas ou não. Alternativos ou não. ETC. ETC. ETC.
Roguemos. Oremos.
dezembro-2011
ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2012
Entrei definitivamente em rota de colisão com a ortodoxia marxista (em geral) e com as estratégias radicais para transformação social no Brasil. O tempo mostrou-me que, num país como o nosso, a estratégia etapista adapta-se melhor à realidade cotidiana desse povo específico. Em casos semelhantes ao do Brasil, com certeza, as estratégias radicais não surtem maiores efeitos, por “n” motivos. Sendo assim, nesses casos específicos, a estratégia mais indicada seria do tipo etapista, e não radical. Esta, a radicalóide, ao ser aplicada em realidades desse tipo, mais afasta do que aglutina. Vejam o caso do PSTU, por exemplo: desde os tempos em que era uma corrente interna do PT (Convergênca Socialista), até hoje, não conseguiu eleger um vereador no Recife. E isso num período de quase 30 anos. Agora recentemente perderam, de goleada, a eleição para a reitoria da Universidade Rural. Na UFPE, sequer conseguiram lançar candidato. No geral, estamos diante de uma performance patética, para quem existe a quase 30 anos. Como se não bastasse o desmanche do “welfare state europeu”, com a honrosa exceção da socialdemocracia nórdica, principalmente a Noruega.
Eu mesmo estou escaldado. Tou na carne viva. Não acredito mais nesse tipo de estratégia radicalóide para realidades como a tupiniquin. Tou fora MESMO. Como se não bastasse a prática “escrotinha” de boa parte da velha esquerda. Dentro dos sindicatos, essa velha esquerda radicalóide tem uma práxis típica de quem “passa o trator” por cima de quem não reza na sua cartilha. Enfim: são muitos os motivos para que, nas próximas eleições municipais, eu vote em candidatos ligados ao campo democrático-popular, minimamente à esquerda ou não (o mal menor, o menos ruim, o possível para cada contexto específico). Penso, assim, estar contribuindo com os pequenos passos graduais necessários para pequenos avanços paulatinos na situação sócio-econômico-ambiental dos brasileiros. (De grão em grão, a galinha irá encher o papo, a médio ou longo prazos). O que não impede o voto em candidatos “minimamente” à esquerda, como é o caso de Edilson Silva, do PSOL, meu candidato a vereador em 2012 (no Recife), ligado à ala “moderada” e heterodoxa do PSOL, acredito eu. A principal função de candidatos desse tipo seria “acicatar”, moderadamente, o campo majoritário petista para que não ceda à tentação de acomodar-se em esquemas de centro-direita, muito assemelhados ao “velho” neo-liberalismo.
No caso da prefeitura do Recife, eu poderia votar em João Paulo (do PT) no primeiro turno, mas não em Rands. Se o candidato for João da Costa, votarei nele no segundo turno, e em Noélia (do PSOL) no primeiro. Na cidade dos meus pais, lá no agreste, estou com um candidato a prefeito que é um primo meu, um jovem ético e com muita disposição para o trabalho, e que está atualmente sem partido (provavelmente vai candidatar-se pelo PTdoB, ou por algum partido da base aliada, ou algo próximo). Tenho uma certa esperança de que sua atuação política no município faça uma pequena diferença em relação aos outros prefeitos que já passaram pela cidade. O que não é pouco, em se tratando de uma área onde maiores avanços são quase impossíveis, devido a inúmeros motivos, que não vou esmiuçar aqui, pra não me alongar nem encher demais o saco do digníssimo leitor. Quem usar uma estratégia radical num lugar desses, “passa de guerreiro a suicida”, como já dizia o poetinha popular. Num caso específico desses, nada resta senão tentar comer o prato de papa quente pelas beiradas, começando com uma colher de chá. E também o seguinte: às vezes é mais difícil manter do que conquistar.
Se a inteligência prevalecesse no PT recifense, a decisão mais lúcida seria lançar o nome de João Paulo para prefeito, e apoiar João da Costa para deputado federal nas eleições gerais. O primeiro João é mais popular, e sabe lidar melhor com as questões ambientais, ecológicas, “holísticas”. O segundo João é um administrador razoável e um cara bem antenado com o lado técnico das questões, mas a sua corrente interna (Articulação de Esquerda) ainda padece de muitos resquícios de ortodoxia marxista. E no meio do buruçu generalizado, tem também a necessidade premente das negociações com os “marinistas”, que enfatizam mais a ética e a ecologia do que a luta de classes. Isso seria motivo para um ataque frontal dos esquerdistas ortodoxos contra o novo partido que Marina planeja criar. Coitadinhos desses extremistas “tupinambás”. Será que subestimam a inteligência de Marina? E tudo isso já em pleno século XXI. Me poupem.
Como eu disse em outras crônicas, são muitos os diferentes aspectos dessa questão complexíssima. E de nada adianta querer botar o carro na frente dos bois, e usar a velha tática “do tudo ou nada”, sempre deslocada do real e ineficaz para um mínimo de distribuição de renda contextual (acaba ficando sempre o NADA ao invés do TUDO). Mas estamos num país democrático, e quem acredita em estratégias radicais para o Brasil tem o direito de falar abertamente sobre as suas convicções. E ter consciência dos seus riscos.
Tenho dito. E repetido.
Fui.
novembro-2011
O ESMOLÉU E O JIM JONES MARXISTA-LENINISTA
A velha esquerda não consegue elaborar novas proposições para determinadas nuances específicas, colocadas pelo alvorecer do século XXI. Principalmente no caso específico do Brasil e da UFPE. São inúmeros os desajustes táticos, metodológicos, culturais, programáticos, etc, etc. Do lado da velha direita, centrista ou não, na Europa nós temos a tentativa de desmontar o Welfare State (WE) para reinstaurar um “novo” neo-liberalismo de plantão; aqui no Brasil, nunca tivemos “WE”, mas temos centristas da base aliada “lulista” capitaneando o impedimento dessa existência, com uma esperteza sutil pra lá de luciférica. No caso da “velha” esquerda, temos a repetição de fórmulas fixas desgastadas, estreitas, ditatoriais, neo-positivistas, desligadas da realidade concreta contextual. (Mas esses caras querem dirigir tudo, decidir tudo, ditar tudo. Inclusive dirigir a minha vida espiritual. São umas gracinhas. Fôfos. Lindos.)Estão dizendo que o lado subjetivo e cultural não têm a sua importância? Não estão dizendo isso, é verdade. Porém... mal conseguem disfarçar seus impulsos egóticos e totalitários, na prática, eu disse, na prática. Como se não bastasse a “irresponsabilidade” com os gastos da nossa entidade sindical. Ou essa bobeira de querer evitar discussões abertas e honestas sobre fundamentos epistêmicos do marxismo-leninismo ou da ortodoxia marxista e neo-positivista
Discutir TUDO, absolutamente TUDO. De forma honesta e aberta. Eis a nova proposta. Discutir principalmente aquilo que a velha esquerda não quer discutir. Aquilo tudo que a velha “anacrônica” deseja esconder ou escamotear: o excesso de gastos sindicais e estatais (que pode estrangular a contabilidade das entidades); o comportamento autoritário e egótico dos seus “líderes” (o sangue dos exércitos negros da Rússia ainda pesa sobre os ombros “verticalizados” do senhor Leon “Davidovitch”); a condição “espiritual” da estreiteza perceptiva; a “ditadurazinha” do comando de greve, que insiste em aprovar, na calada da noite, propostas extremamente nocivas para a vida financeira das entidades, ou para a realidade cultural e existencial das “bases”. E vejam vocês que eu não levo o meu raciocínio até o ponto de uma desconfiança quanto aos objetivos classistas DELES. Mas “eles” podem suspeitar que eu me tornei um pelego, e dizer isso abertamente. Porém eu não posso exercer minha ironia contra “eles”. Nem posso desconfiar, ironicamente, que existe algo de errado nessa estratégia e metodologia do TUDO OU NADA, ou do “desvio” de determinadas nuances da realidade concreta, mesmo que esses erros e desvios frequentemente impliquem em derrota para a categoria: acaba ficando sempre o NADA ao invés do TUDO. Nem o mel e nem a cabaça. Será que os nossos inimigos de classe usam, sorrateiramente, essas falhas na tática para que entremos no campo de batalha cometendo um grave erro de estratégia, e assim corramos o risco de perder a guerra mais rápido? Quem está sendo burro e quem está sendo esperto no meio dessa guerrinha? E quem está no cabresto do fascismozinho vermelho? Quem está com medo ou afundado na velha submissão nordestina ancestral? Será que me acusarão de calúnia e difamação? Vão propor a censura à minha ironia? (É bom não esquecer que o Lênin via com desconfiança os futuristas, e participou de um triunvirato que assassinou libertários como quem caça perdizes. O senhor Trotski era um pouco mais aberto, porém os dois sempre oscilaram entre posições democráticas e ditatoriais, e acabaram, na hora agá, abraçando um regime extremamente cruel e totalitário: o triunvirato com Zinoviev, principalmente entre os anos de
Por falar nisso... recentemente, no Sintufepe, uma aliança esdrúxula entre trotskistas “medievalescos” e kardecistas ortodoxos resultou no “impedimento” para um evento de poesia e cultura que tentei promover. Depois de inúmeros bate-bocas, a direção finalmente decidiu “liberar” o evento, a muito custo. E esses caras, no frigir dos cocos, vêem os poetas apenas como doidos ou palhacinhos que devem apenas balançar a cabeça para o que “eles” dizem e fazem, e cuidar calados do marketing e da propagandazinha “fuleira” DELES (o problema é que “eles” não têm coragem de falar abertamente certas coisas). É uma sub-espécie de fascismozinho vermelho MESMO. E ainda tem aqueles que andam com broches de Stalin no peito. Esses são os piores. Na maioria dos casos, trata-se de uma pseudo-esquerda “infantil”, cooptada e prostituída pela base aliada “lulista”. Sem falar nas inúmeras limitações cognitivas impostas pelo neo-positivismo revivido, ou as inúmeras nuances estranguladoras da realidade realmente existente, que “eles” insistem em não ver, pois só vêem apenas as mesmas fórmulas fixas repetidas desde o século XIX.
E haja certos lados pessoais e partidários pra serem escondidos da “base”. Fulano tem primos militares, mas ninguém pode saber. Cicrano tem um tio com um alto cargo no HC, mas ninguém pode saber. Beltrano empurra as massas para um “suicídio”, mas ninguém pode saber qual o partido dele, as posições “ideológicas”, as práticas subterrâneas, etc, etc. Ele é um deusinho intocável e inquestionável. Um grande timoneiro. O grande cérebro para liderar as massas (AQUELAS “perfeitas”, que não têm nenhum defeito, AQUELES operários industriais “perfeitos” e imaculados). Uma massa irreal, obviamente. Que não coincide com nenhuma fórmula fixa. Nem anarquista. Nem trotskista. Nem luxemburguista. Nem maoísta. Mas “eles” continuam querendo que a gente engula as suas formulazinhas estreitas, verticalóides, ditatoriais, totalitárias, paradas no tempo.
De tudo o que eu disse, é fácil concluir o quanto é difícil “formatar” novos dirigentes sindicais, pois a ampla maioria continua repetindo os mesmos vícios, as mesmas espertezas, os mesmos cálculos, as mesmas merdinhas partidárias de um século atrás. São os mesmo velhos homens e mulheres de sempre (ainda vivemos como os nossos pais?). Não mudaram. Fingem que mudam, mas não mudam. Basta aparecer uma pequena chance pra “eles” mostrarem os seus caninos enormes, e “eles” voltam a cometer as mesmas merdas (o comando de greve vira uma ditadurazinha vermelha: estão viciados em decidir tudo ao longe das bases). Vocês querem mesmo ser o mais democrático possível, garotos? Então se acostumem a fazer referendos e aceitar a revogação de mandatos. Que tal? Mas tudo isso são coisas para as quais a velha esquerda tem um temor “medievalesco” (é o Satanás da esquerda “medieval”).
Que tal implantarmos democracia direta, paulatina, ao invés da ditadura do proletariado? Que tal uma esquerda holística ao invés do anacrônico e suspeito marxismo-leninismo? E veja também o seguinte: a grande maioria dessas ditaduras não deram certo: degeneraram rapidamente para regimes totalitários horríveis, como é o caso de Cuba e da China. Frequentemente são pequenos-burgueses e operários “elitizados” ou cooptados para uma determinada maneira de exercer poder, onde há quase sempre uma ligeira hegemonia de elementos ligados à “intelligentsia” de classe média.
E tem também o problema, mal gerenciado, das especificidades da UFPE. Esta é uma universidade onde o nível de cooptação-conformismo-assistencialismo é um nível muito alto. Se o subestimamos, estamos subestimando o inimigo. O caso da eleição pra reitor é emblemático. Os petistas venceram nas três categorias. Precisamos negociar com os professores e os estudantes, pois uma greve apenas de técnicos não tem muita força, e um movimento paredista que prejudica usuários consegue mais afastar do que aglutinar: é preciso mais lucidez e abertura nas decisões. (O salário dos bombeiros cariocas é R$ 950,00. O meu é R$ 3.260,00. Esse tipo de fato pesa na cabecinha do povo). E o inimigo classista ainda nos espreita com a sua grande inteligência. Ele tem os melhores cérebros para os seus serviços. Pode jogar o povo contra os grevistas. Não vamos cair na bobeira de subestimá-lo. Um pequeno erro, e ele nos derruba. Cochilou, o cachimbo cai. Sejamos simples como os pombos, mas também espertos como as serpentes. A UFPE é diferente da UFMG que é diferente da UFBA, e assim por diante. São REALIDADES COMPLEXAS e diferentes umas das outras. Insistir num mesmo esquema tático e metodológico para todas, é burrice, é limitação perceptiva. Vamos discutir estratégias diferentes para contextos diferentes. Não vamos dar murros em ponta de facas, quando a gente não tem ainda forças acumuladas para esse tipo de enfrentamento. Claro que eu quero negociar com a ala esquerda do PT. Faço acordos pontuais e táticos com quase todo mundo, quando a realidade verdadeira aponta pra esse caminho, quando uma relação de forças desfavorável aponta pra essa direção. Não sobreponho o meu ego, nem o meu umbigo, nem o meu partido contra as evidências que a realidade me mostra, nem contra os interesses imediatos da categoria, ela mesma, ou seja: os assalariados.
Eu poderia, sim, segurar algumas esmolas gerais e fazer um recuo tático, para aproveitar brechas, e me recompor para futuros enfrentamentos. Depende do contexto específico. Por que não? Por que a velha esquerda não deixa? (Posso não, quero não, o meu partido não deixa não). Eu não tenho medo de ser chamado de esmoléu, pelego, traidor, safado. Vou, inclusive, dizer claramente o que peço nesse contexto atual agora: reposição da inflação, mudanças no fator previdenciário, no VBC, no stepe, 30 horas semanais, aprovação (no congresso federal) da minuta contra o assédio moral, outros pequenos avanços no embrião de carreira, racionalização de cargos, ampliação da democratização interna na UFPE, modificações na avaliação de desempenho, mudanças no estatuto do SINTUFEPE, um pequeno aumento salarial direto, etc, etc. Há outras bandeiras, que se modificam conforme o contexto também se modifica. Essas que eu citei conformam, no meu entendimento, um programa mínimo circunstancial. Podemos avançar em alguns detalhes, e podemos também recuar um pouco
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Solicito encarecidamente que leiam (ou releiam) a minha coluna de outubro-2010 no Interpoética (“Contra o Desarmamento”), pois o governo Dilma retomou, mais uma vez, esse papo fuleiro da campanha pelo desarmamento.
ELEIÇÕES NA UFPE 2011*
Vou tentar resumir minha posição pessoal sobre as eleições para Reitor na UFPE em 2011.A primeira coisa seria enfatizar uma estratégia etapista para a luta, em geral, por mudanças sociais e expansão da consciência. A mudança “por etapas” justifica-se devido a uma correlação de forças desfavorável em todo o país, principalmente por conta da vitória esmagadora do “lulismo” e seus aliados. Na UFPE não é diferente. Sendo assim, a lucidez tática indica que, para irmos além das limitações da majoritária petista, de nada adiantaria abraçarmos uma estratégia ultra-radical, típica de setores dogmáticos do campo da ortodoxia marxista, pois estaríamos colocando “o carro na frente dos bois”, e iríamos mais atrapalhar do que somar ou ajudar. O mais lúcido seria tentar avançar em “pequenos passos”, no que fosse possível, em determinados aspectos, objetivando, a médio e “longo” prazos, uma somatória que, no futuro mais próximo possível, levasse a alguns ganhos mais significativos.
A segunda coisa seria o que eu chamo de “epistemologia da sustentabilidade”, mais indicada para a abordagem ecológica profunda, uma vez que a herança “positivista” tem evidentes limitações para essa abordagem. A UFPE precisa, definitivamente, abrir-se para uma postura menos “analítico-racionalista”, fragmentária nas suas diversas áreas. Essa virada “epistêmica” é urgente, devido principalmente às urgências da problemática ambiental e da crise de paradigmas lógico-quantitativos. A superação de resquícios anacrônicos nos esforços de conhecimento, em geral, é uma tarefa urgentíssima para a UFPE. Outras universidades já estão bastante avançadas nessa superação, mas a UFPE ainda tem fortes resquícios de conservadorismo epistemológico, na prática, sem falar no conservadorismo político também (agora calcado no “lulismo” e suas áreas de influência), ou na herança do marxismo ortodoxo, ainda caudatário de velhas posições pan-racionais e totalitárias. Evidencia-se então a necessidade de costurar uma combinação entre luta de classes “heterodoxa” e luta epistêmica interdisciplinar e anti-dicotômica, pela superação de posturas cientificistas ultra-racionalistas e compartimentais, e pela superação de esquemas sócio-econômicos assemelhados às receitas do “Consenso de Washington”, principalmente em momentos de crise econômica, como o que vivemos atualmente.
Obviamente há uma enorme dificuldade para encontrar pessoas ou grupos que tenham a lucidez e a coragem de fazer esse enfrentamento duplo, uma vez que as simpatias hegemônicas encontram-se, em sua maioria, no centrismo “direitoso” lulista ou na ortodoxia “radicalóide” de certas variantes marxistas (leninistas ou não). Precisamos, portanto, abrirmo-nos para um leque de negociações o mais amplo possível. Há várias possibilidades em diferentes áreas, seja entre ativistas independentes, libertários moderados, o campo mais “ponderado” e heterodoxo do PSOL, ou uma suposta ala “esquerda” do PV (desvinculada, até certo ponto, da majoritária verde), ou até mesmo algumas figuras da ala esquerda petista, ou personalidades mais progressistas em geral (intelectuais, artísticas, sindicais, políticas, etc).
Aqui na UFPE, especificamente, temos algumas bandeiras urgentíssimas para tentarmos implementar, mesmo que parcialmente, num primeiro momento. Entre elas, eu poderia citar:
1) Modificar as relações de poder internas.
Instaurar uma democracia eleitoral e administrativa em todos os órgãos decisórios, do Conselho Superior ao Colegiado de Curso, tendo a paridade como princípio geral. Para isso, são necessárias modificações estatutárias, que devem ser realizadas através de uma Estatuinte. Mas as duas Gestões do Prof. Amaro Lins não chegaram nem mesmo a dar um pontapé inicial para a implantação da Estatuinte (ficou na promessa), mesmo que fosse apenas para iniciar discussões, e isso num longo período de dois mandatos (qualquer semelhança com o “lulismo” seria mera coincidência?). E será nesta Estatuinte que celebraremos um novo arcabouço regimental para a escolha de Cargos de Direção, tais como: Diretoria da Biblioteca Central, Diretoria de Segurança Institucional, Diretoria do Hospital das Clínicas, Diretoria da TVU, Chefias de Departamento, etc.
2) Desvincular a reitoria do “cabresto” da majoritária petista.
A luta classista por mudanças sociais não avançará na UFPE, mesmo que por etapas, se o próximo reitor continuar politicamente vinculado ao campo da “centro-direita disfarçada de esquerda”, lulista ou não. E aqui não estou defendendo um alinhamento com o esquerdismo radicalóide e dogmático, em qualquer uma de suas variantes (stalinista, trotskista, maoísta, espartaquista, cubana, etc). Embora negociações e acordos pontuais, ou circunstanciais, com setores desses campos, tenham possibilidade de serem costurados, em determinados aspectos, e até certo ponto. Uma coisa é fato: a experiência do “lulismo” na UFPE logrou alguns retrocessos.
3) Reivindicações específicas de cada categoria.
É necessário uma enorme lucidez tática para desenhar uma proposta geral que contemple as reivindicações mais urgentes de cada categoria da UFPE (alunos, técnicos e professores). Sabemos que existem disputas entre as categorias. Mas é possível listarmos as bandeiras mais urgentes de cada setor, e negociarmos avanços parciais em relação a cada uma delas. Obviamente existem aspectos polêmicos cujas negociações sempre são bastante complicadas e difíceis. Outro lado importante da questão é a discussão calcada em propostas exequíveis, na prática. De nada adianta insistirmos, de maneira excessivamente utópica, em exigências que não podem ser contempladas totalmente no atual contexto (como é o caso, por exemplo, da greve total por tempo indeterminado, no caso específico da UFPE). Sendo assim, devemos mapear o que é e o que não é exequível no atual momento, e investirmos a curto prazo no que aparenta maior probabilidade de implantação, enquanto acumulamos forças para futuros enfrentamentos em torno das bandeiras que se mostram irrealizáveis no momento atual.
Quanto aos nomes de candidatos a reitor, em relação aos quais poderíamos ter um mínimo de certeza que implantariam uma estratégia de modificações etapistas na UFPE, certamente temos algumas “personas” que provavelmente tentariam implantá-las. Entre os quatro nomes que já foram colocados, eu acredito que o professor Pierre Lucena seja o que reúne maior possibilidade de abraçar o enfrentamento duplo de que falei no início: epistemológico (não-linear) e classista (não-ortodoxo), livre das amarras da majoritária petista ou da ortodoxia marxista, mesmo que com limitações contextuais. Enfim: é preciso aprofundar as discussões com esse candidato, e costurar, até onde for possível, uma carta de intenções exequíveis, na prática, mesmo que seja através de pequenos avanços paulatinos e graduais.
Crônica escrita em parceria com Everaldo Araújo, sindicalista da UFPE, secretário do curso de Genética.
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O EX-RETIRANTE E SUA
RECÉM-CAVERNANão vou pra São Paulo, nem pro Rio,
nem Belô, nem Brasília.
Pra mim chega. Cansei. Transbordou.
Vou me recolher. Me isolar.
E escrever. E escrever.
Até surtar.
O CORAÇÃO HUMANO É O MESMO
Cansei de fundaçõezinhas
públicas ou privadas
que vampirizam artistas pobres.
De concursinho e premiozinho previsíveis.
De academias e governinhos
degenerados.
E ninguém viu nada. Nem ouviu nada.
Ninguém sabe nada. Ninguém fala nada.
Cansei das eternas mesquinharias
do mundinho literário
e suas vaidadezinhas.
De eguinhos iscrotinhos
que se julgam vanguarda cultural
da humanidade.
De medições de força regionais ou globais.
De burgueses “vermelhos”
que vampirizam cooperativas
de camponeses lascados.
E ninguém viu nada. Nem ouviu nada.
Ninguém sabe nada. Ninguém fala nada.
Cansei
de mendigar espaçozinho e microfonezinho
em festivaizinhos e programinhas
da mesma merda “espiritual” eterna.
De geniozinhos porras-loucas
e seus golpinhos e rasteirinhas individualistazinhos.
De filhos do povo cooptados por migalhas.
De empresários progressistazinhos
que despejam fudidos
de conjuntos residenciais fudidos.
E ninguém viu nada. Nem ouviu nada.
Ninguém sabe nada. Ninguém fala nada.
E eu não vou dar murros em ponta de faca.
Eu não sou cachorro grande. Sou vira-lata.
O que posso fazer é escrever,
mas sem citar nomes, nem datas,
nem locais, nem pistas.
Pra mim chega. Cansei. Transbordou.
FUI.
Porra, Lara. Que poema da porra. E esse final aí, ficou parecendo que escrever é crime, muito foda, vei! Abraços
ResponderExcluirA gente vai. Volta. E permanece. Somos incorrigíveis. Só por isso. E só nunca estamos. A angustia é nossa companheira fiel. Há de fazer por nós o barulho irado que alimenta a nossa existência. Um abraço, Poeta Irado".
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